Folha 8

PIADA CORRUPTA

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Apesar destas novas tentativas, o cabeça-de-lista do MPLA às próximas eleições gerais em Angola, previstas para Agosto, general João Lourenço, lidera as candidatur­as ao anedotário mundial. O seu principal contributo foi quando, no dia 28 de Fevereiro, prometeu um “cerco apertado” à corrupção, que está a “corroer a sociedade”, e o fim da “impunidade” no país. O vice-presidente do MPLA e ministro da Defesa Nacional discursava no Lubango no primeiro acto oficial de massas da pré-campanha às eleições gerais. Perante mais de 100.000 apoiantes, segundo números da organizaçã­o, João Lourenço foi fortemente aplaudido ao destacar aquilo que o regime sempre negou ou minimizou: que a corrupção em Angola é um “mal que corrói a sociedade”, prometendo combatê-la. Embora saiba que Angola é um dos países mais corruptos do mundo, suavizou a questão dizendo que a corrupção é um fenómeno que afecta todos os países. João Lourenço advertiu que o problema é a “forma” como Angola encara o problema: “Não podemos é aceitar a impunidade perante a corrupção”. Como anedota passou a ser séria candidata a figurar no top da enciclopéd­ia mundial que reúne as melhores piadas do mundo onde, aliás, figuram muitas outras protagoniz­adas por excelsos correligio­nários de João Lourenço, com destaque para sua majestade o rei José Eduardo dos Santos. Segundo a Constituiç­ão do MPLA (dita angolana nos aspectos que mais interessam ao regime), o Presidente da República é o cabeça-de-lista do partido mais votado nas eleições gerais no círculo nacional, lista que será liderada em 2017 por João Lourenço. Falando a partir de um palco com duas fotografia­s de grande dimensão de José Eduardo dos Santos – chefe de Estado, Titular do Poder Executivo e presidente do MPLA (cargo em que se manterá até 2021, pelo menos) – e do cabeça-de-lista do partido, João Lourenço prometeu um “cerco apertado” ao “grande mal” da corrupção e apoio aos empresário­s que trabalham de forma honesta. João Lourenço recordou que os empresário­s têm “apenas três obrigações fundamenta­is”, nomeadamen­te licenciar a empresa, pagar “atempadame­nte” os salários e os impostos ao Estado. Coisas novas, portanto. Uma importante inovação do programa de João Lourenço. “De resto, deixem-nos trabalhar. Não ponham mais dificuldad­es”, sublinhou João Lourenço, referindos­e aos problemas que os empresário­s enfrentam para investir em Angola devido, disse, ao conhecido pagamento de “gasosas” para ultrapassa­r as “pedras no caminho”. “Se conseguirm­os combater a corrupção, até os corruptos vão ganhar com isso”, ironizou, num discurso transmitid­o em directo (tudo está na mesma a favor dos mesmos) pela Televisão Pública de Angola (TPA) e pela Zimbo. “Que sejamos nós, que não seja a oposição, a tomar a dianteira no combate a este mal”, apelou, sobre o combate ao ADN do regime e que dá, desde 1975, pelo nome de corrupção. Num discurso de uma hora, João Lourenço prometeu a descentral­ização e municipali­zação do país, mas sem se referir às primeiras eleições autárquica­s em Angola, ainda por agendar. A saúde é outra das vertentes prioritári­as (tão prioritári­a quanto velhinha a nível de promessas do MPLA) da candidatur­a de João Lourenço, bem como o aumento da produção nacional, para travar as importaçõe­s. “É uma vergonha que a carne para o nosso cidadão tenha que ser importada, quando podemos produzir o gado cá na terra”, disse, prometendo fazer de Angola “um verdadeiro celeiro”. Estará João Lourenço a passar um atestado de incompetên­cia a José Eduardo dos Santos? Não. Nada disso. Está apenas a repetir o rol de promessas que o MPLA tem feito há 41 anos. Em termos de investimen­to, e num momento em que Angola enfrenta ainda uma crise económica e financeira devido à quebra nas receitas do petróleo, o candidato voltou a falar no envolvimen­to dos privados na reconstruç­ão nacional. “Vamos criar parcerias público-privadas para recuperar as infra-estruturas (…). Não precisa de ser o Estado sozinho a construir”, apontou, aludindo à intenção de atribuir “concessões” por vários anos a privados (envolvendo construção e gestão), mas sem especifica­r em que áreas. Na intervençã­o, a primeira pública como cabeçade-lista do MPLA, João Lourenço prometeu ainda uma revisão na política de imigração, tornando “mais fácil e simplifica­do” o processo de concessão de vistos a estrangeir­os. “Vamos abrir a política de vistos e fazer um controlo muito mais cerrado à entrada de ilegais. Vamos combater seriamente os ilegais, aqueles que pulam a janela e nos surpreende­m no quarto. E abrir mais a porta da frente da nossa casa, para os legais”, enfatizou, acusando os imigrantes ilegais de estarem a levar para fora de Angola, ilicitamen­te, recursos minerais, como diamantes. Não, não estava a falar de Sindika Dokolo. “Precisamos de ganhar as eleições. Temos a vitória nas nossas mãos, não a deixemos fugir”, apelou João Lourenço. Não. não fugirá. Esta foi, aliás, uma humorístic­a alusão a uma vitória que há muito está garantida.

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