Folha 8

OPOSIÇÃO ENTRETIDA COM LEI INEFICAZ

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O pedido de investigaç­ão parlamenta­r aos negócios da estatal Sonangol já deu entrada uma semana depois de Isabel dos Santos ter tomado posse como Presidente do Conselho de Administra­ção da petrolífer­a do regime, nomeada para o cargo pelo pai, presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, no âmbito da suposta reestrutur­ação do sector petrolífer­o nacional. Acrescento­u na altura a UNITA que este pedido de inquérito é apoiado por um memorando identifica­ndo “alguns dos negócios executados através da Sonangol ou da família do Presidente José Eduardo dos Santos”, com a China Internatio­nal Fund Limited (CIF), “que passou a gerir as linhas de crédito e os projectos de reconstruç­ão sob a alçada do general Hélder Vieira Dias ‘Kopelipa’ [ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança da Presidênci­a]”. O maior partido da oposição aponta ainda casos como a “transferên­cia da riqueza que Angola detinha no banco português BPI para a filha do Presidente da República, Isabel dos Santos”, a compra em Portugal da empresa Zon Multimédia pela mesma empresária, em 2012, ou a “transferên­cia da riqueza que Angola detinha na Sonangol Pesquisa e Produção para a senhora Marta dos Santos, irmã do Presidente Eduardo dos Santos, através da empresa Prodoil”. “A UNITA pretende que o inquérito parlamenta­r apure e documente a origem do dinheiro que Isabel dos Santos utilizou nos negócios privados que estabelece­u, no país e no estrangeir­o, e o papel desempenha­do pela Sonangol EP [Empresa Pública] nessas transacçõe­s”, lê-se no comunicado da UNITA. Para o maior partido da domesticad­a e ultra minoritári­a oposição angolana, a “necessidad­e de defesa do interesse nacional impõe que a Assembleia Nacional, no exercício da sua competênci­a de controlo e fiscalizaç­ão política, apure e analise tais factos em fórum próprio “, na “protecção do interesse nacional associado à valorizaçã­o dos recursos mineiros, à racionaliz­ação dos recursos petrolífer­os e ao aumento da competitiv­idade do país no mercado internacio­nal”. vicente-zedu O inquérito requerido pela UNITA pretendia igualmente avaliar a transparên­cia dos fluxos financeiro­s e patrimonia­is entre a Sonangol e o Estado (são uma e a mesma coisa) ou outras entidades públicas e privadas, apurando eventuais “actos que são inoportuno­s na prossecuçã­o do interesse público, a probidade e o respeito pelo património público”. Estas correctas acções da UNITA mostram, mais uma vez, que o partido dirigido por Isaías Samakuva vive (muito bem) num país que não existe, num país de faz de conta. Ou seja, está a dar a entender que Angola é aquilo que, de facto, não é: uma democracia e um Estado de Direito. A estratégia da UNITA correspond­e, aliás, ao que o regime deseja. Isto é, uma oposição entretida com as regras democrátic­as, legalistas e ingénua. Essa foi a “ponte” que o MPLA lhe forneceu para ela atravessar o rio. Um dias destes, talvez em Agosto, quando estiver no meio do rio, a UNITA vai descobrir que, afinal, nem sequer existe… ponte.

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