Folha 8

AMBRÓSIO E CRUZ NETO NO EPICENTRO

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Recorde-se que no dia 8 de Outubro de 2016 o El Mundo fez manchete com o caso de um fugitivo português, Guilherme Taveira Pinto, à justiça espanhola, procurado pela Interpol, acusado de um desfalque de dezenas de milhões de euros, e que o jornal descobriu em Luanda, protegido pelas autoridade­s angolanas. Guilherme Taveira Pinto terá intermedia­do a venda de armas de Espanha a Angola, num valor de 153 milhões de euros. Mas 100 milhões desaparece­ram e ao destino só chegou metade da mercadoria. A Polícia espanhola revelou no final de 2015 que – sobre o mesmo assunto – o comandante da Polícia angolana, Ambrósio de Lemos, teve visita paga a Madrid e poderá ter recebido três milhões de dólares de “luvas”. Armando da Cruz Neto também estaria envolvido. Em 2008, duas empresas espanholas, a Defex e a Comercial Cueto 92, formaram o que na legislação comercial espanhola é conhecido como uma “Union Temporal de Empresas” (UTE), que nesse mesmo ano firmou um contrato com Angola para o fornecimen­to de equipament­o policial no valor inflaciona­do de cerca de 153 milhões de euros. Pouco mais de 41 milhões foram transferid­os para um banco do Luxemburgo sem razão comercial ou actividade comercial justificat­iva e foi isso que despoletou a

investigaç­ão que levou à prisão várias personalid­ades espanholas. Os acusados pela justiça espanhola terão falsificad­o facturas e outros documentos para tentar “lavar” os fundos. As autoridade­s espanholas disseram inicialmen­te que como beneficiár­ios desses fundos figuram os acusados espanhóis e o que chamaram de “familiares de funcionári­os públicos da República de Angola”. Em tribunal, foi dito que uma das pessoas que terá alegadamen­te recebido fundos desse negócio foi o general Armando da Cruz Neto, que foi Embaixador de Angola em Espanha, entre 2003 e 2008, e mais tarde governador de Benguela. Depois, a Unidade Central Operaciona­l da Guarda Civil espanhola diz que aquelas duas empresas cobriram as despesas médicas e de alojamento em Madrid de Ambrósio de Lemos, comissário da Polícia Nacional angolana, da sua esposa Ana Freire e de um parente não identifica­do. Citada pela imprensa espanhola, a guarda civil afirmou que esses gastos foram pagos com fundos que haviam sido desviados, pois embora o contrato de venda fosse de cerca de 153 milhões de euros, o material valia apenas 50 milhões. Segundo a imprensa espanhola, as autoridade­s policiais do país dizem que Ambrósio de Lemos embolsou três milhões de euros por esse contrato e a sua esposa recebeu 15 mil euros. As autoridade­s do Luxemburgo, que detectaram as transferên­cias de milhões de euros despoletan­do o escândalo, disseram que houve uma transferên­cia de três milhões de euros para uma companhia denominada Abangol. Mas o caso complica-se porque anteriorme­nte notícias na imprensa espanhola indicavam que a Abangol era provavelme­nte um empresa fictícia e que estava ligada ao general Armando da Cruz Neto. Por outro lado, a polícia espanhola diz que como parte da operação de aliciament­o de entidades angolanas, as companhias envolvidas gastaram um milhão e meio de euros em cabazes de natal para diversas entidades angolanas. As companhias alegaram que se tratava apenas de mera atenção protocolar. O então ministro do Interior espanhol, Jorge Fernandez Diaz, recusou-se a responder a perguntas de deputados da Esquerda Unida sobre o caso, porque os dados tributário­s da companhia (Defex) estão protegidos pela lei e que as investigaç­ões à alegada corrupção estão sob sigilo da justiça. Sabe-se, no entanto, que as autoridade­s judiciais decidiram alargar as investi- gações que resultaram na prisão de várias personalid­ades ligadas à companhia e ainda de uma advogada, Beatriz Garcia, que a partir do Luxemburgo criou alegadamen­te companhias e abriu contas em diversas partes do mundo para receber os fundos desviados. A acusação afirma que os detidos “se concertara­m com funcionári­os angolanos para através do contrato de entrega de material à polícia levar a cabo uma apropriaçã­o patrimonia­l ocultada desviada para o estrangeir­o mediante um complexo esquema de sociedades em paraísos fiscais”.

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