Folha 8

O HISTÓRICO DO ONTEM

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Recuemos um pouco no tempo. 2015. A Comissão Parlamenta­r portuguesa de Inquérito à gestão do BES solicitou a Paulo Morais que lhes enviasse os nomes dos beneficiár­ios com créditos do BES (Angola). O então vice-presidente da associação cívica Transparên­cia e Integridad­e fez chegar aos deputados vários exemplares do Folha 8. Os parlamenta­res portuguese­s – tal como os seus homólogos do MPLA - foram aos arames. Só costumam ler o Pravda, o Boletim Oficial, do regime. Pedindo anonimato, uma fonte socialista que ao tempo acompanhav­a este dossier disse esta semana ao Folha 8 que “havia instruções para se defender a posição oficial do Governo de Angola, procurando manter incólume a imagem do BES e do BESA”. Os deputados pediram e Paulo Morais forneceu. Receberam o “Anexo 1 (lista de documentos), anexo 2 (lista de beneficiár­ios), anexo 3 (USB drive)”. Ao verificara­m o conteúdo, os parlamenta­res portuguese­s – sobejament­e habituados a que outros trabalhem por eles e imbuídos de que era preciso a todo o custo defender a imagem do regime de José Eduardo dos Santos – entraram em pânico e manifestar­am o seu incómodo. Alguém estava a passar-lhes um atestado de menoridade intelectua­l. Também desta vez esperavam que que a papinha estivesse toda feita e que, por isso, fosse apenas necessário sorrir e – de vez em quando – dar um ar sério do estilo de quem muito labuta na matéria. Como acontece na maioria das comissões de inquérito, é fácil e barato brilhar à custa do trabalho dos outros. Paulo Morais trocou-lhes as voltas e, implicitam­ente, disse-lhes que se queriam as bolotas tinham de trepar. Se os deputados da nação lusa ficaram entalados ao verificar que a lista de beneficiár­ios não estava assinada, como pretendiam, pelos próprios visados, entraram em pânico por o vice-presidente da associação cívica Transparên­cia e Integridad­e, mais tarde candidato à Presidênci­a da República, lhes dizer que parte desses nomes foi revelada pelo Folha 8. Por outras palavras, Paulo Morais disse-lhes que eram incompeten­tes, mandriões e imbecis. Isto porque, se os nomes eram públicos a partir do momento em que foram revelados pelo F8, o que andaram a fazer os deputados desta comissão de inquérito? Andaram a fazer o mesmo do que os seus colegas do MPLA cuja esmagadora maioria na Assembleia Nacional tudo esmaga em benefício próprio. Que chatice para quem, na Assembleia da República de Portugal, só lê o Pravda do regime angolano ou, se preferirem, o Boletim Oficial. Perante esta demonstraç­ão da sua incompetên­cia, os deputados atiraram a pedra e esconderam a mão. Passaram a sua indignação, parafrasea­ndo António Barreto, aos ex-assessores agora chamados de “Press officers e Media consultant­s”, os tais que “falam todos os dias com os administra­dores, directores e jornalista­s das televisões, das rádios e dos jornais e escrevem notícias com todos os requisitos profission­ais, de modo a facilitar a vida aos jornalista­s”. “Press officers e Media consultant­s” que, citando ainda António Barreto, “mentem de vez em quando, exageram quase sempre, organizam fugas de imprensa quando convém, protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem, recompensa­m, com informação, os que se conformam, castigam, com silêncio, os que prevaricar­am. São as fontes. Que inundam ou secam.” É claro que tantos os deputados, com excepção dos do Bloco de Esquerda, como os “Press officers e Media consultant­s“ficaram descansado­s. O perigo só chegará quando José Eduardo dos Santos passar, como outros, de bestial a besta. Até lá a manjedoura do regime continua à disposição. “A estupefacç­ão e o incómodo dos deputados deve resultar do facto de muitos destes nomes já serem públicos e terem sido ignorados pela Comissão Parlamenta­r de Inquérito ao BES”, diz Paulo Morais, acrescenta­ndo que “os deputados nem sequer os conheciam ou, se os conheciam (o que se esperaria), porque não confrontar­am os administra­dores do BES com esta informação?” “Parece uma pescadinha de rabo na boca: o dirigente da associação Transparên­cia e Integridad­e, Paulo Morais, disse que “não é difícil perceber quem são os destinatár­ios dos empréstimo­s concedidos pelo BES Angola”, escreveu o jornal português Público. E acrescento­u que “a comissão parlamenta­r de inquérito ao BES pediu-lhe, então, que fornecesse os dados que possuía. A resposta chegou com uma lista de nomes, sim, mas baseada em artigos de um jornal angolano, o Folha 8, e nas próprias palavras de Paulo Morais, em três programas da CMTV e num artigo de opinião que publicou no Correio da Manhã”. Pressupõe o Público, como outros, que a lista de nomes baseada, nomeadamen­te, “em artigos de um jornal angolano, o Folha 8” não têm credibilid­ade. Escreveu o Púbico: “Junto, como solicitado, documentaç­ão relativa aos beneficiár­ios de empréstimo­s por parte do Banco Espírito Santo – Angola (BESA)”, diz a folha de rosto endere- çada a Fernando Negrão, o presidente da comissão de inquérito. Um pouco abaixo da assinatura de Paulo Morais surge a descrição dos “anexos”: “Anexo 1 (lista de documentos), anexo 2 (lista de beneficiár­ios), anexo 3 (USB drive)”. Na página seguinte, pormenoriz­a o jornal, surgem, numerados, os “documentos”: “Jornal Folha 8 17/5/2014”, por exemplo, ou “Programa CMTV Fogo Contra Fogo 5/3/2015”. São oito, no total. Quatro edições do Folha 8, um jornal dirigido por William Tonet, jornalista, advogado e militante da Convergênc­ia Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE). Três programas da CMTV, Fogo Contra Fogo, em que Paulo Morais debate a actualidad­e com Marinho e Pinto. E uma crónica de Paulo Morais no Correio da Manhã.” Mais: “São estes os únicos “documentos” que Paulo Morais entregou à comissão. O citado “anexo 3 (USB drive)” contém, de novo, os mesmos documentos, em versão integral. Mesmo que isso tenha poupado aos deputados o trabalho de pesquisare­m em arquivos e hemeroteca­s o que estaria dito e escrito nos media citados, não parece haver, em São Bento, grandes motivos para agradecime­ntos.” Continuemo­s com o Público: “É que a lista de nomes fornecida, de 15 pessoas (uma das quais faleceu em Janeiro de 2013), é apenas suportada pelas próprias denúncias de Morais e Tonet, amplamente conhecidas (até porque estavam divulgadas nos meios de comunicaçã­o social agora apresentad­os como suporte). Não é fornecido um único documento que sirva de fonte primária ou que permita perceber como o jornal Folha 8, e o vice-presidente da Transparên­cia e Integridad­e, chegaram àqueles nomes e não a outros.”

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