BESA – O FANTASMA
Tanto em Portugal como por cá, ninguém sabe com exactidão o que foi o Banco Espírito Santo e o que foi o Banco Espírito Santo Angola. E como as autoridades dos dois países sabem que as ramificações são, no mínimo, bilaterais e podem implicar meio mundo da alta finança e da não menos alta política, tudo estão a fazer para encontrar um bode expiatório irrelevante e, ao mesmo tempo, engendrar uma engenharia fi- nanceira que tape toda esta cratera. Embora não sendo um país sério, Portugal ainda tenta disfarçar. Angola também não é, mas não se preocupa com isso. As autoridades dos dois países estão ambas interes- sadas no mesmo objectivo. Ou seja, provar que a montanha pariu um rato. E, com a habilidade que se lhes reconhece para estas matérias, ainda vão concluir que nem havia montanha nem rato, e que tudo não passou de um mal-entendido. E é por isso que “vão aos arames” quando F8 fala deste assunto, prestando um relevante serviço público. A “degradação da carteira de créditos” do banco angolano, envolvendo apenas
figuras ligadas ao regime, constituiu uma monumental cratera que poderia engolir – caso Angola fosse um Estado de Direito – os principais dignitários do regime, começando pelo próprio Presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos. Nesta altura pouco importa, mantendo-se a cobertura política vigente há 42 anos, se o volume de crédito malparado no BESA ascendia a 5,7 milhões de dólares, mais milhão menos milhão. Será sempre coisa pouca. Aliás ainda há muita gente do regime em fila de espera para obter empréstimo da banca pública cujo reembolso – tal como BESA - se enquadra na cláusula das doações. Todos nos recordamos que no início de Junho de 2014, surgiu o outro dos grandes problemas para o BES: o escândalo financeiro no BES Angola, cujas tentativas de silenciamento falharam porque as comadres da família Espírito Santo se zangaram. O BESA perdeu o rasto a empréstimos concedidos/doados de forma discricionária a destacados membros do clã presidencial, pela sua administração, no valor de 5,7 mil milhões euros, 80% do total da carteira. Se não fosse esse facto, Estado angolano não teria prestado uma garantia de cerca de 4,3 mil milhões de eu- ros, como contraparte dos créditos concedidos pelo BES Angola. Como se isso não bastasse, ficou também a saber-se que, em sentido lato, o clã de Eduardo dos Santos também tinha beneficiários em Portugal. Ou seja, alguns (muitos) dos milhões desaparecidos em Angola aterraram em contas pessoais de Ricardo Salgado e do seu braço-direito, Amílcar Morais Pires. Tudo mafiosamente dentro do acordado. As reacções – em alguns casos ameaças de elevados decibéis – contra o F8 revelam que as ratazanas (muitos mais do que os simples ratos) estão a ver o barco a naufragar e preparam-se para abandonar o navio-almirante, nem que para isso tenham de atropelar alguns velhos amigos a camaradas. O cenário começa a assemelhar-se ao da zanga das comadres do BES.