O QUE MUDARÁ COM A MUDANÇA?
Questionado sobre o papel que um novo Presidente pode trazer no âmbito da diversificação da economia, David Earnshaw respondeu: “Não esperamos grande diversificação, até porque os sectores apontados, como a agricultura ou as minas, precisam de muita infra-estrutura que ainda não está feita até chegarem ao ponto de compensar o declínio da produção de petróleo e a descida dos preços”. O problema, sublinhou, é que “há muito interesse dos políticos em manter a dependência do petróleo e por isso qualquer processo de diversificação vai ser incrivelmente lento”. Dizer que o “processo de diversificação vai ser incrivelmente lento” é uma falácia, um exagero. É que lentidão pressupõe movimento. E, nesta matéria, Angola está parada ou até mesmo a andar para trás. A queda dos preços do petróleo desde meados de 2014 e o impacto nas contas públicas de Angola tiveram um efeito no crescimento económico, que a BMI Research antecipa que fique nos 0,3% no ano passado e nos 2% este ano, apesar de o Instituto Nacional de Estatística de Angola ter recentemente apresentado uma quebra de 4,7% nos primeiros nove meses do ano passado. “O INE não é confiável o suficiente para levar em conta esses dados, e portanto nós fazemos as nossas estimativas”, disse David Earnshaw, vincando que “se organizações como a ONU apresentassem um valor semelhante, então sim, era uma história diferente”. A BMI Research antecipa um crescimento médio do PIB de 2,7% até 2020, prevendo que a dívida pública, que no ano passado representou 64,1% do PIB, desça este ano para 54,6% e em 2018 para 47,1%. Os indicadores, no entanto, não mostram que “a questão da dívida é agora muito pior, porque havendo um colapso na China ou um novo choque petrolífero, a balança de pagamentos está menos robusta a uma crise e há mais pressão na moeda, porque emitiram ‘eurobonds’ e endividaram-se muito, havendo pouca transparência sobre o verdadeiro valor dos empréstimos”. “Se houver outra crise nos próximos cinco anos, apesar de não ser previsível, a crise em Angola será muito pior, e esperaremos então uma recessão muito grande e eventualmente um ‘default’”, concluiu David Earnshaw.