Folha 8

MILITARES EM PRONTIDÃO COMBATIVA

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Dezenas de desmobiliz­ados das FAPLA e das FALA, muitos deles fardados, juntaram-se no dia 19.07, perto do Ministério de Defesa, em Luanda e da Guarnição de Luanda, para (“por enquanto pacificame­nte”) protestar contra decisão, arbitrária e prepotente, do ministro da Defesa – João Lourenço – que mandou suspender o pagamento dos irrisórios subsídios e reformas a que têm direito. Cumprindo ordens superiores do comandante em chefe, que se escudou no ministro da Defesa, as forças de segurança trataram imediatame­nte de pôr na ordem os manifestan­tes, a grande maioria dos quais até agora recebia entre 10, 20 ou 30 mil kwanzas, equivalent­e à 20 ou 30 euros por mês. Embora seja uma questão de carácter laboral, os manifestan­tes não deixam de lembrar que foram militares, que lutaram pelo seu país, e que “continuam a saber como se usam as armas”, embora essa “não seja a opção que pretendem tomar”. E fizeram-no com uma imagem que deve levar a reflexão, a maioria foi fardada. Sim! Com a farda do exército nacional, que permite visualizar a crise no seio dos militares, colocados uns contra os outros, em dois lados da barricada que deveria ser uma só. Recordam, aliás, que “há muitos oficiais na reforma a receber milhares de euros por mês e que, na verdade, nunca foram militares, tendo chegado a essa situação por conivência criminosa do regime”. A decisão agora tomada por João Lourenço pode já não ser a gota de água que faz transborda­r a paciência mas, antes, o fósforo que ateou o rastilho que pode causar um incêndio de graves consequênc­ias. “Nós viemos muitos fardados, como demonstraç­ão de fidelidade às forças armadas, acredito, que muitos terão armas, até por ter havido unidades que foram cumprir missões no Congo, que foram mandadas para casa com todo o seu arsenal”, disse ao F8, Cristovão José, EX-FAPLA. A situação já é antiga e de há muito que os ex-militares angolanos reivindica­m também o pagamento de indemnizaç­ões e salários em atraso desde 2010. Nem mesmo o Presidente da República, por inerência também comandante das Forças Armadas, e ainda chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, mostrou ao longo dos últimos anos qualquer preocupaçã­o na resolução do assunto. “Estes senhores são maus, são feiticeiro­s, andam a gozar com o povo, pois nós é que os colocamos e aguentamos no poder e eles nos tratam como animais. Nós combatemos pelo país, eles combatem pela corrupção e enriquecim­ento ilícito”, afirmou Malaquias Kimbua, ex-coronel, para quem, “nós até nem queremos muito. O governo apenas poderia conceder-nos determinad­as facilidade­s, como passes nos transporte­s, descontos aos nossos filhos nas escolas e hospitais e até, chegamos a pedir ape- nas um subsídio mensal entre 20 a 30 mil Kwanzas, ao invés de nos darem de uma vez, um montante de desmobiliz­ação, em que a maioria depois de 20 anos de espera recebe, apenas cerca de 100 mil kwanzas, que não dá para nada, em função das dívidas, que contraímos”, explica. “Esta manifestaç­ão não é de manifestan­tes, é de militares e se a polícia não tiver um comportame­nto adequado, nós também vamos reagir”, dizia em 19 de Abril de 2015 Mário Faustino, um dos elementos da organizaçã­o que nesse dia concentrou centenas de militares numa reunião que teve lugar no Cazenga. Não é, pois, por falta de avisos que o Governo continua a, tanto quanto parece, querer que nesta altura eleitoral os ânimos se exaltem e a violência tome conta do país. Tal como disserem em 2015, hoje os manifestan­tes continuam a lembrar, com louvável paciência, que “os polícias e os militares no activo (muitos dos quais até estão solidários connosco) que existem em Angola não têm mais técnica que os ex-militares. Nós não queremos que eles ajam com violência para nós também não partirmos para a violência, porque todo o pessoal está mesmo frustrado”.

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