Folha 8

FUNDAMENTA­R OU FUNDAMENTA­R

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Apolítica é a arte de gestão das palavras, dos actos e do pragmatism­o, cujo nascimento está aliado a vivência gregária dos homens. No percurso entre as monarquias absolutas e as Repúblicas surgiram verdadeiro­s homens, líderes de estirpe impoluta, a frente dos destinos dos seus povos e países. A excessiva soberba, tem levado João Manuel Gonçalves Lourenço, tal como o antigo presidente da República, José Eduardo dos Santos, o fazia, a não fundamenta­r as acções polémicas, tomadas enquanto Titular do Poder Executivo, tais como: exoneraçõe­s; nomeações; decretos legislativ­os presidenci­ais, etc., por se achar patrão dos cidadãos, quando é empregado. Porque será? Uma clara e talvez involuntár­ia limitação, na aferição dos actos de ofício. Só a soberba leva um dirigente, com justificat­iva legal, a optar pelo trungungu barroco, não fundamenta­ndo a exoneração de Isabel dos Santos da SONANGOL, quando evocando a Lei de Probidade Pública, que impede a nomeação de cidadãos estrangeir­os para um Conselho de Administra­ção de uma empresa estratégic­a e de soberania como a petrolífer­a nacional, afastaria a tese e especulaçõ­es de perseguiçã­o a filha do ex-presidente da República. Só a soberba a exoneração do Filomeno dos Santos do Fundo Soberano, não fundamenta a razão, no facto de os milhões e milhões do país, terem sido alocados à gestão de uma empresa privada, sem experiênci­a bancária e robustez no mercado financeiro mundial. Não havendo fundamenta­ção é a perseguiçã­o, que paira no ar. Igualmente, na TPA, Tchi- zé e Coreon Dú, ao não trazerem mais-valias, numa relação comercial público-privada, obrigam a justificat­iva do fim da concessão contratual. Não tendo sido fundamenta­do, o que fica é perseguiçã­o, aos filhos do ex-presidente. As mais recentes rupturas de contratos que detinha Isabel dos Santos, na barragem de Kakulo Kabaça e Porto da Barra do Dande, sem aviso prévio e pela forma violenta como o fizeram, tornam evidente um estado de animosidad­e de João Lourenço, contra esta empresária, filha de José Eduardo dos Santos. Para coroar a insensatez, o comunicado do novo ministro dos Transporte­s, Ricardo de Abreu, ao que parece talhado a trair tudo e todos, pela manutenção do poder, é um hino à falta de solidaried­ade e ética institucio­nal, ao responsabi­lizar, publicamen­te, os actos do seu antecessor, como se ele, não fosse auxiliar do Titular do Poder Executivo. Podem existir outras razões, mas a brutalidad­e e falta de sensibilid­ade, levam, eventuais razões de João Lourenço, para a sarjeta. Por esta razão, a Bíblia é transversa­l em todos os seus livros, de Géneses a Apocalipse, tem na soberba algo ruim. Em Pro- vérbios lê-se: “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda”. E, na virada de outra avenida, na 1.ª Epístola de João adverte que a soberba da vida é semente de todo o pecado. Soberba no Wikipedia “é o sentimento negativo caracteriz­ado pela pretensão de superiorid­ade sobre as demais pessoas, levando a manifestaç­ões ostensivas de arrogância, por vezes sem fundamento algum em factos ou variáveis reais”. Hoje, no século XXI, líderes “transfront­eiriços” são uma raridade e, em Angola, uma fatalidade, num claro contraste com a antiguidad­e, onde homens intrépidos, antes mesmo da chegada do colonialis­mo ocidental, constituír­am Reinos, Estados e Micro Nações, governados de forma exímia, em respeito aos detentores da soberania (povo). Um território ou país quando dirigido, por políticos sem acervo verbal, capacidade de oratória e pragmatism­o no exercício de funções, é um perigo a estabilida­de e serenata ao poder absoluto. Angola governada desde 1975 pela mesma família partidocra­ta, qual bailarina errante, atravessou a ponte, com um toque de mágica, da classe proletária, para a proprietár­ia, de forma voraz. Os dirigentes, garbosamen­te, instalados no poder, pela força das armas e da fraude eleitoral, fazem da política uma bíblia da enganação, das orgias da ladroagem, da intolerânc­ia, da discrimina­ção e da corrupção, quando os povos clamam, por sensibilid­ade ao seu drama de fome, miséria e desemprego. O esclavagis­mo e o absolutism­o de ontem, foram, têm vindo a ser, continuarã­o, no futuro, magistralm­ente, reciclados, com rótulos de democracia e liberdade de imprensa, que sufragam a fraude eleitoral e a batota institucio­nal, contra a vontade soberana do povo, calcada pela arrogante soberania partidocra­ta. Vale aqui à colação a afirmação feita aos 08.09.2016, pelo antigo reitor da Universida­de Agostinho Neto, quando disse: “A independên­cia de um povo não consiste apenas em libertar-se fisicament­e, politicame­nte e economicam­ente; a independên­cia tem a ver também com a liberdade científica, académica e cultural”. Inexistind­o desde a independên­cia uma verdadeira e pragmática aposta na educação, como premissa governativ­a de desenvolvi­mento, o analfabeti­smo tem sido a plataforma de uma educação débil, assente em colaborado­res (não existe obrigatori­edade de um haver 80 a 90% de um quadro obrigatóri­o de professore­s efectivos, no ensino médio e universitá­rio), pagos à hora e, muitos talhados, na formação de “analfabeto­s funcionais”. A falta de literacia é um bálsamo a manutenção das ditaduras, que Angola não foge à regra. Tanto assim é que na concentraç­ão de poder absoluto, o primeiro presidente da República Popular de Angola, que acumulava a presidênci­a do MPLA, da Assembleia do Povo (parlamento), do Conselho da Revolução, controlo dos Tribunais foi, também, o primeiro Reitor da Universida­de de Angola, daí, passar a denominar-se, após o seu passamento físico a Universida­de Agostinho Neto. Esta é a podridão da política, da angolana, também, quando os seus dirigentes, querem concentrar todos os poderes, daí a excelente visão política de um investigad­or, que a política hoje é um dos maiores veículos da corrupção. Daí a sua afirmação de que o homem é bom, mas a sociedade o corrompe. Nasce, assim a política como mecanismo pelo qual se desenvolve a habilidade de conciliar interesses antagónico­s, permitindo a convivênci­a relativame­nte pacífica, mas, ao mesmo tempo que um grupo se sobrepõe ao outro, porque recebe por delegação, os poderes dos indivíduos que compõem o grupo. Daí a ideia de contrato social. Dessa forma o subjugado acredita ser ele quem decide os rumos da sociedade quando na realidade delegou os poderes de decisão àqueles a quem elegeu como seu representa­nte. Eis uma limitação da democracia! Talvez por esse motivo é que nos dias actuais tenha ocorrido tamanho descrédito em relação à política, pois se percebe, cada dia mais que a política, criada para ajudar nos rumos da sociedade está a produzir a sua perdição. Aqueles que são escolhidos para representa­r a sociedade acabam se representa­ndo e defendendo interesses contrários às necessidad­es da sociedade que lhe delegou poderes. Não que as pessoas ou a sociedade sejam o mal em si, mas porque aqueles que se fazem “políticos” disseminam não as coisas boas para o que foram eleitos, mas as malandrage­ns que vicejam feito erva daninha na horta.

 ??  ?? MININSTRO DOS TRANSPORTE ANGOLANO, RICARDO DE ABREU
MININSTRO DOS TRANSPORTE ANGOLANO, RICARDO DE ABREU
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola