Folha 8

PGR ANALISA SUSPEITAS NO SERVIÇO DA DÍVIDA PÚBLICA

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A Procurador­ia- Geral da República de Angola abriu já um inquérito preliminar, para averiguar a existência de crime sobre supostas fraudes no serviço da dívida pública, como prometeu, em Março passado, após denúncia do Ministério das Finanças. Será que um “controlado­r financeiro” evitará repetições, ou suspeições, similares? O facto remonta a Março, quando a secretária do Estado para o Tesouro, Vera Daves, denunciou publicamen­te supostas cobranças por 1.700 empresas prestadora­s de serviços ao Estado, entre 2014 e 2016, de atrasados não registados no Sistema Integrado de Gestão Financeira, cujo valor ultrapassa um trilião de kwanzas (3,7 mil milhões de euros), sendo que 25% desse valor correspond­e a serviços não prestados. Na altura, o Procurador-Geral da República, Hélder Pitta Grós, disse que havia “todos os motivos” para aquele órgão de justiça iniciar o processo de inquérito para se investigar o que se passa. “Atempadame­nte soubemos que o Ministério das Finanças tinha mandado fazer um trabalho por algumas empresas para verem de facto o que se passava e ficamos a aguardar que esse trabalho fosse feito. Temos agora o resultado, que já foi divulgado e a partir daqui vamos trabalhar com base nesses resultados”, disse Hélder Pitta Grós, em Março. A abertura do inquérito preliminar foi confirmada pelo director de Co- municação e Imprensa da Procurador­ia-geral da República, Álvaro João, que informou que o processo corre o seu curso normal. “Estamos a trabalhar com o Ministério das Finanças, que está a prestar o apoio técnico necessário ao apuramento dos factos que indiciem a prática de actos, que se consubstan­ciam com fraudes financeira­s e dentro em breve teremos então a conclusão do mesmo”, disse, Álvaro João, em declaraçõe­s à rádio pública angolana. Segundo o responsáve­l, “se da conclusão do inquérito resultarem indícios bastantes da prática de crime, o Ministério Público, no exercício da acção penal, irá instaurar o devido procedimen­to criminal, responsabi­lizando todas aquelas pessoas que estiverem envolvidas neste ato ilícito”. A secretária de Estado informou, na sua denúncia, que durante 2017 foram assinados acordos de regulariza­ção de dívida no valor de 87.170 milhões de kwanzas (mais de 329 milhões de euros), correspond­ente a atrasa- dos de 137 prestadore­s de serviços. A governante angolana revelou que naquela altura durante o trabalho de certificaç­ão, tinha sido já constatado que “25% do que foi analisado era um serviço que não foi prestado, que era uma fraude”. Trata-se de dívidas maioritari­amente contraídas à margem dos pacotes orçamentai­s, descritas como visando atender situações de emergência. Vera Daves avançou que o Ministério das Finanças está a trabalhar com empresas especializ­adas na auditoria dos processos, o que deverá levar dois anos, estando já a permitir que o Estado poupe “muito dinheiro”. “Porque se avançasse pagando sem esse processo de certificaç­ão – que leva tempo, é certo, por isso é que os prestadore­s de serviço reclamam tanto, porque leva tempo -, mas se não levar esse tempo vamos pagar às cegas e é um perigo, não podemos alimentar fraudes, temos que cortar o mal pela raiz e a única forma que temos de cortar é analisar os processos com rigor e vagar”, avisou.

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PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, HÉLDER PITTA GRÓS

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