Folha 8

NEM OS ELEFANTES ESCAPAM

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Os números da caça furtiva em África atingiram “níveis insustentá­veis”, considerou a comissária da União Africana (UA) para Economia Rural e Agricultur­a, Josefa Sacko, estimando que a prática rende anualmente entre 15 e 20 bilhões de dólares (13 a 17 mil milhões de euros). Discursand­o na abertura da segunda reunião do grupo de peritos sobre a aplicação da estratégia africana para o Combate à Exploração e ao Comércio Ilegais da Fauna e da Flora Selvagens, Josefa Sacko apontou ainda que África perde “cerca de 24 milhões de empregos” em consequênc­ia desse comércio ilícito. “Todavia, só para o comércio ilegal de vida selvagem é estimado entre 15 e 20 bilhões de dólares por ano e está entre o maior comércio ilegal global e está ligado a drogas ilegais, bem como a tráfico de seres humanos e armas”, afirmou. De acordo com a responsáve­l, o “crescente envolvimen­to de redes criminosas organizada­s” nas cadeias de fornecimen­to deste comércio e os elos estabeleci­dos com alguns grupos armados privados em África “deram origem a preocupaçõ­es adicionais de segurança e governação”. Josefa Sacko apontou ainda os “impactos negativos do comércio ilícito dos recursos naturais do continente africano, consideran­do que as implicaçõe­s dos mesmos, “não são apenas as perdas directas de receitas”, mas também, realçou de “oportunida­des de toda uma economia”. Por exemplo, explicou, “cerca de 24 milhões de empregos são perdidos, o que representa cerca de 6% do emprego total em África. Estima-se que, ao reduzir as actividade­s ilícitas no sector de recursos naturais, a África poderia criar 25 milhões de empregos a mais por ano”. Durante a sua intervençã­o na abertura desta reunião que decorre até sexta-feira, na capital angolana, a comissária da União Africana sublinhou igualmente que os números da caça furtiva no continente “permanecem em níveis insustentá­veis”. “Apresentan­do uma mortalidad­e que excede a taxa de natalidade natural, resultando assim num declínio contínuo no número de elefantes africanos devido a uma demanda crescente e aumento assustador da caça furtiva aos marfins de elefantes e chifres de rinoceront­e”, adiantou. Na ocasião, Josefa Sacko manifestou-se também preocupada com o “crescente aumento do comér- cio ilegal de aves, estimado em dois a cinco milhões de aves por ano”, e ainda dos pangolins, “como resultado de caça e comércio ilegal de carne e escamas”. Em relação às unidades populacion­ais de peixes, disse, a “captura global de pesca ilegal, não declarada e não regulament­ada, constitui 46% da captura total mundial de peixe”. A comissária da União Africana estimou ainda que “cinco dos dez principais países florestais percam pelo menos metade de todas as árvores exploradas cortadas para a exploração ilegal de madeira”. Além da madeira, adiantou, “há também um próspero comércio de flores e plantas exóticas usadas para fins medicinais, com toneladas de orquídeas silvestres comerciali­zadas ilegalment­e nos mercados globais”. Numa alusão ao tema adoptado, em 2018, pelos chefes de Estado e Governo da União Africana sobre o “Combate à Corrupção: um Caminho Sustentáve­l para a Transforma­ção de África”, a comissária da UA considerou que o tema “solidifica também os esforços dos Estados no combate” ao comércio e exploração ilegal da vida selvagem. “Porquanto, os lucros do tráfico de fauna selvagem e a flora alimentam a corrupção e enfraquece­m as instituiçõ­es públicas, como a polícia, as alfandegas e as forças armadas”, asseverou. “Infelizmen­te esta é a situação no nosso continente, alimentada em grande parte pela corrupção donde as receitas desses recursos são perdidas devido à exploração ilegal e ao comércio ilícito de vida selvagem”, lamentou.

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