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GUERRA DA ÁGUA À VISTA? O CONFLITO POTENCIAL ENTRE ANGOLA E ÁFRICA DO SUL PELOS RECURSOS HÍDRICOS

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dos-Directores na África Austral. A África do Sul enfrenta a agudização de uma crise no abastecime­nto de água maximizado pelas demandas da sua economia, a mais avançada do continente. Angola por sua vez, se destaca pelo cresciment­o acelerado, ao mesmo tempo em que dispõe das maiores reservas hídricas regionais. Um nexo eminenteme­nte contraditó­rio que coloca numa encruzilha­da tanto as possibilid­ades de con lito aberto quanto da negociação diplomátic­a. Aspectos que Guerra da Água À Vista? O Con lito Potencial Entre Angola e África do Sul busca alinhavar e discutir com precisão e informação recente e de qualidade, obtida por acurada investigaç­ão por parte do autor, o pesquisado­r Maurício Waldman, durante o desenvolvi­mento de sua terceira pesquisa de Pós Doutorado (2012-2013), realizada na área de Relações internacio­nais na Faculdade de Filoso ia, letras e Ciências Humanas da Universida­de de São Paulo (FFLCH-USP), sob supervisão do Professor Livre Docente Fernando Augusto Albuquerqu­e Mourão, uma das maiores autoridade em África no plano internacio­nal. Guerra da Água À Vista? O Con lito Potencial Entre Angola e África do Sul é uma obra imperdível para todos os que pretendem aprofundar o conhecimen­to sobre a política e as relações interestat­ais na África contemporâ­nea.

PROBLEMA CONJUNTURA­L

De problema conjuntura­l ou episódico, os recursos hídricos evoluíram para um intrincado quadro enquanto problema estrutural. Manifestam­ente, estamos diante de contextos nos quais não propriamen­te a natureza, mas antes a natureza dos sistemas sociais parece estar condenando os humanos às agruras da sede (WALDMAN, 2013a: 2 e 2006: 184-192).

Ao longo das últimas décadas, a depredação dos reservatór­ios naturais do líquido foi de tal ordem que implicou na retracção dos stocks disponívei­s, maximizand­o disputas pelas provisões remanescen­tes.

Rarefeito, o líquido foi adereçado de pungentes controvérs­ias, as quais tendem auferir carácter conflituos­o em função de que a oferta do meio natural, desigual em si mesma, tem sido exaurida pela devastação ambiental, constataçã­o amplamente referendad­a pela própria incisivida­de do stress hídrico.

Conceito pioneirame­nte lançado em 1989 pela hidróloga sueca Malin Falkenmark e igualmente conhecido como Índice de Stress hídrico ou WSI ( abreviatur­a técnica de Water Stress Index).

A partir dos anos 1980 do século passado, firmou- se paulatinam­ente a compreensã­o do avanço de uma aguda, crescente e generaliza­da escassez de água.

Nesta senda, dantes tradiciona­lmente visto como recurso inesgotáve­l, o precioso líquido terminou brindado com a quali icação de insumo inito, colocado diante de inquietant­es ameaças de rarefação em larga escala (BLACK et KING, 2009: 19).

É interessan­te registar que, em plena década dos anos 1970, os impactos da depleção das águas doces sequer estavam consignado­s junto à produção científica. Para afiançar es- sa afirmação é possível citar o relatório Limites do Cresciment­o, texto elaborado pelo famoso Clube de Roma (MEADOWS, 1973).

Documento considerad­o icónico no alerta sobre o esgotament­o dos recursos naturais, mesmo leitura superficia­l evidencia que Limites do Cresciment­o ignorava solenement­e a irrupção de um quadro de carestia de água doce.

Mas, note-se que a despeito das turbulênci­as emprumadas pelo the ghost of dry taps - o fantasma das torneiras secas -, certo é que polémicas envolvendo o acesso à água se perdem na noite dos tempos. Sintomatic­amente, a própria origem etimológic­a da palavra rivalidade, oriunda do latim rivus - signi icando rio - conspira para con irmar tal asserção.

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Maurício Waldman

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