Jornal Cultura

50 ANOS DE ANTÓNIO OLE

- ADRIANO DE MELO

Com a exposição “50 Anos Vivendo, Criando” António Ole apresenta o trabalho de meio século em prol das belas artes.

Depois de anos a rede inir o próprio estilo, a adaptar-se aos novos ventos do modernismo, mas sem descurar o conhecimen­to da sua geração, e sempre a mostrar, ao público, tendências e, às vezes, a fazer críticas sociais, o artista plástico António Ole apresenta hoje, no Camões - Centro Cultural Português, o resultado de 50 anos de trabalho em prol das belas artes.

Quando questionad­o sobre o que se pode esperar desta mostra, que traz 27 trabalhos de pintura, colagem e desenho, o artista disse: “acrescenta­r algo novo, de forma a trazer mudança”. Esse parece ser o actual pensamento e a linha ilosó ica de toda a exposição, denominada “50 Anos vivendo, criando”, que pode ser vista pelo público até ao próximo dia 20 de Dezembro.

Portanto, a dúvida mais comum, num trabalho como este - que também traz inéditos -,é até onde o artista pode surpreende­r e prender o público, numa exposição que se espera como uma ponte entre dois mundos, o do passado e o do presente, hoje muito diferentes um do outro no país, devido, em parte, aos avanços da globalizaç­ão.

Apesar de ter aprendido muito do passado, António Ole disse que actualment­e busca pouca motivação da tradição, por se considerar um artista do seu tempo e como tal com a obrigação de mostrar as mudanças sociais dos dias de hoje.

Grande parte dos artistas que procuraram se inspirar na tradição, explica, prevalecer­am e o vão fazer por anos, porque as origens e a tradição são sempre motivos de investigaç­ão e de inspiração. “Mas o papel do artista vai mais longe desta visão”, defende o pintor, para quem “é importante tornar a arte parte de um processo de transforma­ção social melhor”.

Filho de um funcionári­o público, colocado no Porto do Lobito e depois transferid­o para Luanda, o artista disse que aprendeu a conhecer a “Angola Profunda” ainda jovem, no Liceu Paulo Dias de Novais, através de um movimento criado na época para descobrir mais sobre a cultura angolana. Este saber, acredita, o ajudou a ser o homem e o criador que é hoje. “O artista deve estar num constante processo de aprendizag­em. Tudo o que sei, aprendi nos museus”, disse o artista, que conheceu e teve muitas in luências ao longo da sua carreira, alguns dos quais ainda lembra com alegria, como o professor de etnogra ia que o incutiu o gosto pela arte Lunda, ou o de desenho, que o descobriu e o ajudou a explorar o seu talento artístico.

Hoje, relembra, conseguiu atravessar várias fases e períodos, ao ponto de ter criado um estilo seu, assente no seu conhecimen­to sobre a identidade e a cultura nacional adquirido ao longo de anos, cuja temática está mais relacionad­a aos temas actuais.

Os trabalhos de pintura, na sua maioria feitos em acrílico e pigmentos sobre tela, procuram comunicar ao público a ideia do artista sobre o que é a sua visão da realidade actual. “A arte tem um papel decisivo na mudança social”, admite, acrescenta­ndo que toda a alteração dos dias de hoje devem ser analisadas, criticadas ou preservada­s pelos artistas.

Consideran­do a si mesmo como um “reciclador compulsivo”, António Oleacredit­a que um artista não deve se prender a limitação, temática ou estética, mas sim explorar a sociedade ao seu redor e procurar transforma-la, através da inovação e do experiment­alismo. “O reciclador é aquele que vê valor em tudo o que a sociedade desvaloriz­a. Um artista tem de ser criativo.”

A exposição “50 Anos vivendo, criando” volta a ser apresentad­a ao público o próximo ano, mas de uma forma mais abrangente, numa cooperação com a Fundação SindikaDok­olo. “A ideia é apresentar, numa visão mais ampla, todo o trabalho feito por mim, incluindo alguns que estão em instituiçõ­es nacionais, ou em várias colecções, assim como os que tenho em posse”.

Alertas

50 anos depois, o artista continua a chamar atenção aos jovens artistas para importânci­a de valorizare­m mais as suas raízes, mas sem desprezar as actuais tendências, em particular da arte contemporâ­nea. “A investigaç­ão é parte fundamenta­l deste legado, cujo maior acervo, até hoje, ainda se encontra na Europa e outros continente­s, onde está guardado grande parte - ou pelo menos o mais notável - da arte cokwe. A maioria dos museus de arte de Bruxelas são claros exemplos disso. É uma realidade que precisa ser invertida.”

Porém, para superar tal desa io, o artista pede uma maior aposta na formação de criadores e um maior interesse destes em descobrir e mostrar a “Angola profunda”, que aos poucos vem sendo esquecida ou ignorada, devido ao cresciment­o de fenómenos como a globalizaç­ão.

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 ??  ?? A linguagem do corpo
A linguagem do corpo
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Lavores
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Twins
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Angola in Africus
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Pintura de A. Ole
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António OLE

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