CARTAS DO LEITOR
União Africana
Depois da acalorada cimeira da União Africana, em Kigali, que não foi para eleger o novo “boss” da instituição, acho que nem tudo foi um mar de cravos. Uma das boas coisas que sucedeu, em minha opinião, foi o anúncio formal por parte do Reino do Marrocos da intenção de retornar à organização.
Foi por via de uma carta do rei Mohammed VI que os Estadosmembros da organização continental receberam a formulação por parte do Marrocos, um facto que pode concorrer positivamente para que o diferendo histórico que opõe o reino à República Árabe Saraui Democrática esteja na agenda da União Africana. Trata-se de um passo de que os Estados-membros da organização devem fazer uso para acelerar a busca de soluções do único problema envolvendo dois Estados ou, ao menos, um Estado e um território. Território este que já é membro da União Africana há mais de trinta anos.
Com a inclusão do Marrocos, o continente fica bem servido e consegue, pela primeira vez em cerca de trinta anos, congregar todos os países de África sobre a mesma sombrinha. Daqui para frente, os Estados da União Africana devem trabalhar muito porque, como mostra o passado e os desafios presentes, apenas unido o continente pode fazer frente aos desafios com sucesso. Quanto maior for a união, a tomada de uma posição comum e a intervenção a uma só voz, maior será o capital do continente nos grandes fóruns mundiais.
O preço do pão
Sou padeiro reformado e acompanho com interesse a evolução do preço do pão. Alega-se muitas vezes que tudo depende do preço do seu principal produto, o trigo, que sobe todos os dias. Muitos atribuem à escassez de cambiais, outros à especulação, particularmente ligada à prática de açambarcamento.
Muitos fornecedores começam clara e propositadamente a reter parte da mercadoria para reduzir a oferta na medida em que a procura cresce. Não há nada que indique ruptura no fornecimento e quantidade de trigo no país e nos principais centros de consumo, independentemente do actual quadro.
Em minha opinião, tudo quanto esteja a passar-se com o preço do pão constitui um caso óbvio e urgente de polícia. Ainda mais porque, como se diz, o pão consta entre os produtos com preços vigiados. Logo, era bom que houvesse mão pesada sobre todos aqueles que se estão a exceder, sob pena de esse “laissez-faire, laissez-aller” nos levar ao abismo.
Colaboração da população
Escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola e gostaria, em primeiro lugar, de felicitar a equipa redactorial e abordar a situação da criminalidade nos bairros.
É complexa, é verdade, mas não se trata de nada que não seja controlável por parte das forças que zelam pela ordem, segurança e tranquilidade públicas. Muitas vezes, as comunidades são levadas pela falsa percepção de que o trabalho para prover ordem, segurança e tranquilidade públicas é da polícia e ponto final. Esquecem-se que fica difícil enquanto as famílias fizerem uma espécie de “vista grossa” daquilo que são as acções de banditismo dos seus entes ou as comunidades cruzarem os braços perante a delinquência dos seus membros.
Precisamos de reconhecer que, neste aspecto, as comunidades não são exemplares porque, muitas vezes, não colaboram devidamente com a Polícia Nacional. As famílias e as pessoas, individualmente, não fazem a mínima ideia dos benefícios de uma eventual colaboração com a Polícia Nacional na prevenção de numerosas práticas delituosas em todo o país.
Uma das coisas lamentáveis tem a ver com o facto de que alguns delinquentes tornam reféns membros da família ao ponto de os mesmos encararem a colaboração como um passo na direcção da represália ou ajuste de contas com o filho, sobrinho ou neto.
Mas, ainda assim, continuam os incentivos para que as pessoas colaborem com a Polícia Nacional, porque, como se sabe, muitas vezes agindo assim acabam por contribuir para sua própria segurança. E a corporação assegura sigilo e protecção da identidade da pessoa que faz as denúncias, razão pela qual não há razões para se temer. Pelo contrário, há toda a garantia de segurança na colaboração com a polícia, um acto que devia passar a ser uma normalidade em todas as comunidades e famílias.