Civis em Nhampoca abandonam as casas
Autoridades apelam à calma e responsabilizam a Renamo pelo pânico
Uma coluna de civis iniciou uma marcha em direcção a zonas consideradas mais seguras, para escapar dos ataques de grupos armados que estão a semear o pânico em localidades do interior de Moçambique, como em Nhampoca, distrito de Nhamatanda, onde na sextafeira foram assassinados líderes tradicionais. Nhamatanda está localizado no centro de Moçambique, região até há poucos dias descrita como calm.
Uma coluna de civis iniciou ontem marcha em direcção a zonas consideradas mais seguras do país, para escapar dos ataques de grupos armados que estão a semear o pânico no interior de Moçambique, como em Nhampoca, distrito de Nhamatanda, onde na sexta-feira foram assassinados líderes tradicionais.
O distrito de Nhamatanda está localizado no centro de Moçambique, região até há poucos dias descrita pelos seus habitantes como calma, onde a vida seguia o seu curso normal, com comércio e agriculta, descreveu à imprensa local um dos cidadãos que decidiu deixar a zona.
Os últimos ataques no interior de Moçambique foram contra dois líderes locais de Nhampoca. As autoridades atribuíram os assassinatos à Renamo, que nos últimos meses optou por práticas de perseguição a civis e ataques surpresa a instituições do Estado, como alvos da polícia.
Segundo Mónica Mauese, uma camponesa de Nhampoca, província de Sofala, uma das mais atingidas pela crise militar entre o braço armado da Renamo e as Forças Armadas, “a zona está a ficar perigosa para alguém continuar a viver, as pessoas estão a abandonar o local e os seus haveres, por isso, eu também decidi partir”.
As autoridades locais e a polícia responsabilizaram a Renamo pela execução dos líderes locais, no dia 2 de Setembro, do chefe do posto administrativo de Tica e de um chefe tradicional da região. Carregando os seus poucos pertences na cabeça e deixando a zona a pé, Mónica Mauese descreveu um quadro de medo generalizado e adiantou que a população receia acções militares na região em retaliação contra os homens armados da Renamo.
Outro habitante, Jota Estêvão, deu os mesmos argumentos para a sua fuga, referindo-se a um abandono em grande escala dos habitantes da região. Os relatos dos habitantes dão conta de acções armadas naquela região nos últimos dias, deixando casas e mercados queimados, e cuja autoria é atribuída a Renamo. O régulo de Nhampoca e o chefe do posto administrativo de Tica, Abílio Jorge, foram executados, depois de terem sido retirados de um comício que orientavam naquela zona. Os dois líderes tradicionais tinham sido enviados pelo administrador distrital de Nhamatanda para pedirem calma à população, quando esta já testemunhava acções armadas e iniciava a retirada da região.
Segundo o relato de habitantes, um dos suspeitos de participar na execução estava no meio dos populares no comício e empunhava uma arma automática AKM escondida num saco de plástico. Foi ele, de acordo com a informação prestada por testemunhas, que paralisou a reunião quando surgiram outros quatro homens armados vestidos à civil e levaram os dois líderes, que foram posteriormente encontrados mortos.
A Renamo não se pronunciou sobre o caso, mas, segundo as forças de Defesa e Segurança, a tipologia do crime deixa claro que foi praticado por grupos ligados à Renamo.
A região centro de Moçambique tem sido palco de relatos de confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança e denúncias de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes chegaram ao conhecimento da Polícia. As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques nas últimas semanas, em localidades do Centro e Norte, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis, como centros de saúde.
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, já reconheceu a autoria de vários ataques, justificando com a estratégia de dispersar as Forças de Defesa e Segurança da serra Gorongosa, onde supostamente permanece.
O maior partido da oposição não aceita os resultados das eleições de 2014, que deram vitória à Frelimo, e exige governar as seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio. As negociações de paz entre as delegações do Governo moçambicano e da Renamo em Maputo, que decorrem na presença de mediadores internacionais, foram suspensas.
População moçambicana das regiões afectadas pelos ataques estão a deixar as suas casas