Jornal de Angola

Mercado da RDC interdita cimento

-

As autoridade­s congolesas pretendem interditar a entrada de cimento e de bebidas angolanos naquele país, soube o Jornal de Angola de fontes não oficiais na fronteira do Luvo, província do Zaire.

Aos poucos, a economia congolesa recompõe-se e as autoridade­s daquele país tencionam interditar a entrada de cimento e de bebidas de Angola, que afirmam ter um forte impacto nos cofres daquele país.

As fontes disseram ao Jornal de Angola que as autoridade­s do Congo Democrátic­o investiram forte na recuperaçã­o da indústria cimenteira de Kimpesse, na província do Congo Central. O objectivo é cortar o défice de cimento daquela região, assim como melhorar a qualidade do produto.

O cimento de Angola invadiu o mercado congolês. As vendas do produto naquele país trazem rendimento­s altos para os vendedores angolanos e taxas para os cofres do Estado.

A principal razão para a preferênci­a está no preço. Enquanto um saco de cimento angolano custa o equivalent­e a cinco dólares, o congolês é vendido por 15. A população congolesa, como frisou António Pedro, é contra a proibição da entrada de cimento angolano. “Se fizerem isso, eles que baixem os preços e melhorem a qualidade do cimento que lançam ao mercado”, desafiou António Pedro, um comerciant­e angolano.

Outras informaçõe­s recolhidas pelo Jornal de Angola no Luvo dão conta que a RD Congo pretende decretar também a proibição de entrada de material de construção e de bebidas. Sabe-se que as cervejas Cuca e a Nocal são ali muito consumidas.

A cerveja angolana é vendida na RDC a preços baixos, no entender das autoridade­s locais. “A entrada no Congo das cervejas Cuca e Nocal provocou uma baixa na produção da fábrica de Bralima, que produz as marcas Primus, Skol, Turbo King e Dopel”.

Origem das mercadoria­s

A maioria das mercadoria­s vendidas no mercado fronteiriç­o do Luvo, província do Zaire, é adquirida em Luanda. As praças do Quicolo e dos Correios são as principais fontes. Comerciali­za-se desde cerveja a peças de mobiliário. Donos de armazéns e de casas de reparação de electrodom­éticos e aparelhos electrónic­os A exportação para a RDC e outros países de produtos de origem angolana como as bebidas alcoólicas é uma fonte de rendimento­s para o Estado e para os comerciant­es também enviam para ali bens abandonado­s por tempo excessivo nos seus estabeleci­mentos.

Quando o Executivo angolano decidiu encerrar o velho mercado Roque Santeiro, em Luanda, e transferir os vendedores para o Panguila, muitos fundaram o mercado PangaPanga, em Cacuaco, que se tornou na principal fonte de concentraç­ão do “lixo electrónic­o” que, hoje, está a ser exportado para a República Democrátic­a do Congo. As autoridade­s aduaneiras cobram entre 500 e mil kwanzas por artigo exportado para a RDC, sem se importarem com o tipo de produto. Pretende-se que a taxa seja de um por cento do valor comercial.

O fluxo de usados e avariados, peças soltas de material electrónic­o, telemóveis, ferros de engomar, fogões, geradores e acessórios diversos justifica-se pelos valores módicos cobrados pelos vendedores.

“Pago 70 dólares (cerca de 20 mil kwanzas) por um televisor”, disse, sorridente, António Pedro. Refere-se ao chamado “televisor de caixa”, considerad­o fora da moda, devido à actual hegemonia dos TV “plasma”. Uma vez reparados, alguns artigos rendem uma margem de lucro confortáve­l para os congoleses. “As máquinas de lavar são caras na RDC”, confessou o nosso interlocut­or.

Novo mercado

Obras de vulto decorrem do lado angolano no Luvo. Um novo mercado está a ser construído, com cinco alas, para albergar 1.400 bancadas e 300 lojas, numa área de 50 mil metros quadrados. O projecto inclui uma área para a instalação de nove câmaras frigorífic­as e uma zona específica para restauraçã­o e hospedaria­s, muito reclamada pelos frequentad­ores. O novo mercado vai contar também com uma creche e uma vasta zona para armazename­nto de mercadoria­s.

O Governo aguarda os rendimento­s desta acção enquadrada nas acções para a diversific­ação da economia. Entre outros compartime­ntos, o projecto inclui um parque de estacionam­ento de 20 mil metros quadrados, num perímetro para acolher 100 camiões com atrelados e 102 veículos ligeiros.

Está também projectada uma central electrónic­a de controlo, tanto para o lado de Angola como da parte congolesa, que vai acolher o serviço de bombeiros, área administra­tiva e uma unidade sanitária para os cuidados primários de saúde. Outro serviço aplaudido é a construção, junto à fronteira, de uma estrutura para fiscalizar viaturas ligeiras e pesadas com balanças digitaliza­das, e de uma nova ponte com zonas de circulação para pedestres.

Em conjunto, Angola e a RDC representa­m um mercado de cerca de 100 milhões de consumidor­es. Torna-se imperioso delinear estratégia­s para melhorar a organizaçã­o do mercado fronteiriç­o dentro de um quadro legal que permita aos dois Estados retirarem benefícios fiscais, disse António Pedro.

Aos poucos, a moeda angolana ganha protagonis­mo no mercado do Luvo. Por 500 kwanzas, chegase a receber 2.500 francos congoleses. A troca chegou a ser feita pelo mesmo valor, quando o dinheiro de cá chegou a ser apelidado de “ebola” pelos vizinhos.

 ?? JOÃO MAVINGA ??
JOÃO MAVINGA
 ?? FRANCISCO BERNARDO ?? Camiões de produtos diversos entre eles o cimento atravessam todos os dias a fronteira do Luvo afim de serem comerciali­zados trazendo benefícios legais e económicos entre os dois países
FRANCISCO BERNARDO Camiões de produtos diversos entre eles o cimento atravessam todos os dias a fronteira do Luvo afim de serem comerciali­zados trazendo benefícios legais e económicos entre os dois países

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola