Produtores nacionais apostam forte no milho
Disponibilidade de mais espaços agrícolas garante aumento das colheitas
A produção de milho, farinha e rações na Quibala, província do Cuanza Sul, vai conhecer, nos próximos tempos, um novo impulso, com aumento para mais 3.000 hectares de milho em “pivots”, em paralelo com uma forte aposta na produção em sequeiro na Fazenda Santo António. O cultivo da soja também vai ser incrementado para enriquecer a forragem e melhorar a qualidade do gado. Para tanto, vão ser investidos aproximadamente 10 milhões de dólares norte-americanos.
Anteriormente, a irrigação era feita por 30 “pivots”, cobrindo vastos campos agrícolas, mas em Setembro outros 10 entraram em acção, abrindo perspectivas de boas safras.
A disponibilidade de mais espaços agrícolas é garantia de que a oferta de bens alimentares, nomeadamente farinha de milho, a partir da Quibala, é uma aposta ganha, já que são agora 8.500 hectares a serem trabalhados no bairro Tari, próximo da vila da Quibala, o que representa um aumento de cerca de 60 por cento.
Assim, a região da Quibala regista uma viragem definitiva. No passado, muitas pessoas eram forçadas a percorrer longas distâncias à procura da farinha de milho para alimentação. Hoje, a situação alterou-se completamente.
A farinha TARI produzida na fazenda Santo António, além de ser consumida localmente, pode ser encontrada em superfícies comerciais em várias províncias.
A capacidade de secagem do milho nesta unidade agrícola é de 100 mil toneladas e a de armazenamento permanente para transformação em farinha e rações que sustentam a criação de gado de engorda e suinicultura chega a 10 mil.
O alargamento das áreas de cultivo vai elevar a capacidade de oferta de milho e reforçar a posição da Quibala no “ranking” dos maiores e mais destacados produtores de cereais do país.
“Vamos aumentar, quer os níveis de produção como de armazenamento, pois existe uma enorme rotação dos silos, devido à grande procura do milho”, sublinha José Alexandre, administrador da fazenda, que anuncia a montagem para breve de mais duas infra-estruturas.
O milho da Quibala é também vendido em grão a outras explorações agrícolas, enquanto a soja uma das principais apostas - é destinada cem por cento para a criação de suínos e bovinos.
“Pretende-se alcançar a auto-suficiência em rações para alimentar todo o círculo de produção a partir da fábrica que já está montada”, revela José Alexandre.
O gestor destaca o lado inovador do projecto, que tem a participação das empresas Agro-Quibala, Tecniquibala, Tecnidari, Tecnipic e Anglopi. A ideia é explorar o máximo do potencial do projecto e criar condições para que seja reproduzido em todo o país.
José Alexandre tem a certeza de que, para atingir a auto-suficiência alimentar, Angola precisaria de pelo menos mais 300 fazendas com estas dimensões e estruturas.
A secagem uniforme dos grãos de milho, com o apoio de um dos mais modernos sistemas, assegura um perfeito e duradouro estado de conservação, enquanto a correcta armazenagem salvaguarda todo o processo, evitando a deterioração ou adulteração do produto.
Essas fases (secagem e armazenagem) são consideradas etapas fundamentais e de elevada complementaridade em todo o processo de produção agrícola, garantindo elevada qualidade ao produto.
O recurso à irrigação com “pivots” para a produção de milho em toda a extensão da fazenda garante duas culturas anuais, um indicador de que está fora de questão um cenário de falta de milho em grão e farinha para alimentar a população do Cuanza Sul e de regiões limítrofes.
“Nós não temos campanhas, temos duas culturas por ano; todos os meses, estamos a semear, ceifar, adubar e fazer todas as outras operações na fazenda”, refere José Alexande, notando que o sucesso reside na irrigação.
No complexo agro-industrial da Fazenda Santo António, foram investidos 30 milhões de dólares norte-americanos para a aquisição de diversos equipamentos agrícolas, montagem de infra-estruturas fabris, moagens e outros meios que garantem o funcionamento desta fazenda, além da criação de bovinos e suínos. A este investimento, acrescem outros 10 milhões de dólares norte-americanos na segunda fase do projecto.
A fábrica de rações já está concluída e vem juntar-se à de farinha de milho, em funcionamento há alguns anos, numa clara aposta na transformação dos produtos do campo e o aumento da oferta de bens alimentares para a população, como resposta do empresariado nacional ao desafio lançado pelo Executivo para a diversificação da economia.
O administrador da Fazenda Santo António entende que os investimentos na Quibala representam um passo importante na estratégia do aumento da produção de cereais, sobretudo o milho. “A capacidade de armazenamento e infra-estruturas de secagem de milho já existem e estão disponíveis para o incremento da produção prevista para a segunda fase do projecto”, reforça. A disponibilidade de milho próprio na Fazenda Santo António é a garantia de produção em alta escala de farinha, que pode chegar às 10 mil toneladas por ano. Tal como o milho, que além da sua transformação em rações e farinha, também é vendido em grão, a produção de soja para o auto-consumo é uma das maiores apostas da fazenda. Na Quibala está também reservada uma área de 150 hectares para a produção de trigo e cevada com
colheitas anuais a apontarem para 600 toneladas por ano, uma parte destinada à fábrica de rações e outra à comercialização. A Fazenda Santo António está numa fase considerada estável no processo de implantação como projecto. Possui as infra-estruturas básicas necessárias para suportar o seu crescimento, “know how” e produtos para comercializar diariamente.
José Alexandre entende estarem reunidas as condições para as próximas etapas. “Acreditamos que temos condições para seguir em frente e darmos passos significativos, de modo a aumentarmos a nossa capacidade de produção e reforçar a nossa posição no mercado nacional”, garante. O gestor defende a necessidade contínua do crescimento e optimização de tudo o que já existe, de modo a expandir o negócio sem ter de mobilizar mais meios e recursos.
Qualidade das sementes
Se a produção de cereais em grande escala na Quibala é um sucesso notável, persistem, contudo, preocupações com a qualidade das sementes. O administrador da Fazenda Santo António defende a introdução de sementes geneticamente modificadas para combater a lagarta e as deficiências dos terrenos que causam doenças às plantações.
No entendimento dos gestores agrícolas, o recurso a esse tipo de sementes evita a utilização de pesticidas que, segundo especialistas, causam danos aos terrenos agrícolas. O milho e a soja importados de países como o Brasil e os EUA são produzidos a partir de sementes geneticamente modificadas.
“Não temos que ter medo de sementes geneticamente modificadas e que são utilizadas, pois grande parte do que importamos desses países são produtos feitos a partir de sementes geneticamente modificadas”, disse em Agosto o empresário Fernando Teles, defendendo a intervenção do Ministério da Agricultura. A chegada em tempo útil ao país das sementes, adubos e fertilizantes são uma garantia de óptimas colheitas e aumento da produção na esteira da segurança alimentar da população e da diversificação da economia, face às restrições cambiais do país, devido à queda do preço do petróleo no mercado internacional. A pensar na qualidade das sementes, na Fazenda Santo António têm vindo a ser experimentadas diferentes variedades de milho para apurar aquelas que melhor se adaptam às condições climáticas e aos solos da região.
A adopção de tecnologia com sementes melhoradas e outras práticas de cultivo pode ser responsável pelo aumento da produtividade e sustentabilidade dos projectos agrícolas no país, de que a Quibala é apenas um exemplo.
Arroz de Camacupa
Em paralelo com a produção de milho em larga dimensão na Quibala, no município de Camacupa, na província do Bié, a aposta no cultivo de arroz, também em grande escala, começa a mobilizar um significativo número de agricultores.
As empresas Camucundo Agropecuária e Ligação Agropecuária, da Sociedade Arrozeira de Camacupa, criaram uma fazenda que, além da produção própria, surge como uma oportunidade para ajudar os agricultores tradicionais a escoarem o arroz para médias e grandes superfícies comerciais do país. A esses agricultores e na esteira da diversificação da economia, o Governo tem vindo a distribuir sementes, sendo que hoje há dezenas de milhares de hectares preparados para serem cultivados.
Com solos e um clima propícios, essa região do Centro do país possui tradição na produção do arroz. A criação de uma fazenda partiu de pressupostos sólidos, segundo explica ao Jornal de Angola José Alexandre, também ligado a esse projecto.
Alguns dados ajudam a perceber a dimensão do projecto de reactivação da cultura do arroz. Por exemplo, estão a ser semeados 600 hectares de arroz, foi montado um secador e começaram a ser erguidas estruturas de armazenamento da produção, quer da própria Fazenda Camacupa, como dos agricultores do município.
José Alexandre revela, no entanto, que “já estamos a produzir arroz e temos a expectativa de atingir cerca de 360 toneladas o próximo ano”. Optimista, adianta que existem metas mais ambiciosas que apontam para uma produção de 750 toneladas anualmente.
Reconhecendo que o arroz é uma “cultura difícil”, sobretudo quando se produz em sistema de regadio, explica que para se conseguirem resultados satisfatórios haverá uma combinação do sistema de sequeiro com o regadio. “O objectivo é optimizar, ao máximo, a produção”, diz.
Entre equipamentos industriais e agrícolas, infra-estruturas de armazenamento, sementes, imputes e outros meios, a aposta na produção de arroz na região agrícola de Camacupa representa um investimento de aproximadamente 12 milhões de dólares norte-americanos. “O investimento está numa fase inicial e ao longo dos próximos dois anos será implementado”, adianta José Alexandre. A Fazenda Camacupa emprega directamente nesta fase cerca de 30 pessoas, sobretudo jovens, número que poderá subir.
Os promotores do projecto dão enorme relevância à qualidade do produto a encaminhar para o mercado, pois além da produção e secagem, estão muito focados na indústria, com a montagem de uma unidade de descasque de arroz.
A montagem da unidade de descasque de arroz na Fazenda Camacupa permite aos agricultores tradicionais vender o seu produto em condições mais competitivas. “Os produtores de Camacupa têm um grande problema, que nós vamos tentar ajudar a resolver: o escoamento do produto com qualidade para os centros de consumo nas cidades e vilas”, adianta José Alexandre. O gestor diz que a intenção é levar os agricultores tradicionais ou a vender o arroz em casca à fábrica para ser descascado e depois ser introduzido pela fazenda nos circuitos comerciais, ou então eles pagarem por este serviço. “Achamos ser mais interessante, explica, venderem o arroz em casca e nós podermos comercializar o produto, pois isso dá outra qualidade ao produto, estimula a produção e tudo o que é agricultura familiar”.
Pecuária
As explorações pecuárias de diferentes regiões do país poderão receber caprinos da Fazenda Santo António no quadro de um projecto que tem como propósito o respectivo núcleo, para fomentar a criação desse tipo de gado, revelou José Alexandre.
Uma área específica está a ser preparada para a suinicultura, podendo receber um efectivo de 760 porcas reprodutivas em círculo fechado, esperando uma produção anual de 20 mil suínos, o que significa um consumo de 4.800 toneladas de rações, o que é garantido pela respectiva fábrica. “No final de Fevereiro de 2017, teremos a estrutura para a suinicultura concluída e numa primeira fase serão importadas 360 porcas e outras 300 na segunda”, esclarece José Alexandre. Além do mercado de carne, uma parte significativa das porcas será vendida a outras explorações pecuárias, o que resulta num efeito multiplicador no domínio da criação de gado suíno. Mas há mais na Quibala. Como resultado de um programa de aquisição de animais, sobretudo a partir do Sul de Angola e da Namíbia, o mercado angolano pode contar anualmente com 2.000 novilhos para o abate e serão submetidos a um programa intensivo de engorda.
Os produtores individuais que vivem próximo da fazenda beneficiam de assistência técnica, com o ensino dos mais modernos métodos de cultivo, paralelamente ao fornecimento de sementes, fertilizantes e outros inputes agrícolas, o que traduz a perfeita integração do projecto com a comunidade.
A reabilitação das vias terciárias e pontes entre os vários bairros circundantes do projecto, a construção de uma escola primária e um centro de saúde, são apenas alguns exemplos da contribuição social desta unidade agrícola, que emprega mais de 170 pessoas, maioritariamente jovens. “Queremos ajudar a melhorar a qualidade de vida das comunidades locais, sobretudo do bairro Tabi”, onde são feitas todas as operações da fazenda”, refere José Alexandre.