Presidente da China defende globalização
O presidente chinês, Xi Jinping, saiu ontem em defesa da globalização no primeiro dia do Fórum de Davos, marcado pela chegada nesta semana à Casa Branca de Donald Trump e pelas suas posições proteccionistas.
“Não adianta nada culpar a globalização pelos problemas do mundo”, disse Xi num esperado discurso na estação suíça, onde 3 mil representantes da elite política e económica se reúnem.
O líder da segunda economia mundial visita pela primeira vez o fórum suíço, com uma clara mensagem de defesa do livre comércio e dos mercados abertos frente ao proteccionismo. Xi afirmou que “não é possível” cortar os fluxos de capital e pediu uma globalização “mais inclusiva e mais sustentável”, criticando ao mesmo tempo as instituições mundiais, “inadequadas”, segundo ele, porque são “pouco representativas”.
Numa outra referência velada a Trump, o presidente chinês disse que “ninguém sairá a ganhar de uma guerra comercial”.
“Continuar com o proteccionismo é como se fechar num quarto escuro. É certo que evita o vento e a chuva, mas também a luz e o ar”, concluiu Xi, conhecido pelas metáforas que usa nos seus discursos.
Segundo Peter Lacy, director global da Accenturem, com este discurso “está claro que o presidente Xi está preparado para tomar a liderança do livre comércio”.
Trump acusou diversas vezes as políticas comerciais da China de serem as responsáveis pela perda de milhares de empregos nos Estados Unidos e ameaçou aumentar os impostos dos produtos chineses.
Embora Trump não tenha viajado para Davos (na sexta-feira assume a presidência em Washington), Anthony Scaramucci, um dos membros da equipa de transição, que o classificou de “homem de paz”, foi à Suíça.
“Poderão ver que é um homem de paz, e isso é algo novo, não alarmante. É um homem com uma visão aberta”, disse, respondendo às duras críticas de Trump à chanceler alemã, Angela Merkel, e à União Europeia.
Em declarações ao The Times e ao Bild, o futuro presidente considerou uma boa decisão a saída do Reino Unido do bloco e previu que “outros países deixarão” a UE, segundo ele, por culpa da crise migratória.
Scaramucci afirmou que Trump não considera a Europa fraca, mas pediu um novo tipo de relações.
“Temos que garantir que as nossas estruturas, as nossas alianças ou os nossos tratados sejam para o século XXI e XXII, não para o XX”, afirmou.
“Ouvir as pessoas”
A edição deste ano do Fórum de Davos está marcada por um contexto de rejeição às elites e ao “status quo” político.
Como parecem reflectir o “sim” ao Brexit ou a vitória de Trump, muitos estão a rejeitar o mundo globalizado, sem fronteiras e de mercados abertos que todos os anos são preconizados pelos participantes deste Fórum.
Por isso, a edição de 2017 tem como fio condutor a “liderança receptiva e responsável”. O fórum criado pelo economista Klaus Schwab, de 78 anos, pretende responder à “genuína frustração das pessoas que ficaram à margem do capitalismo globalizado”, afirmam os seus organizadores.
“As vantagens da globalização são mais claras para as economias emergentes que para os países desenvolvidos. Temos que ouvir, ajudar as pessoas afectadas”, disse Sergio Ermotti, director-executivo do banco suíço UBS.