Jornal de Angola

Um deserto de ideias… ou os chavões de costume

- EUGÉNIO GUERREIRO |

Ainda há poucos dias terminaram as eleições presidenci­ais em França, onde o jovem centrista Emanuel Macron se sagrou vencedor, ao cilindrar nas urnas a sua oponente do partido da extremadir­eita francesa, Marine Le Pen. Foram as suas ideias e o seu projecto que venceram a fugacidade da Frente Nacional, apesar desta ter estado largos meses à frente das sondagens.

Não muito distantes no tempo, em Novembro de 2016, Donald Trump sagrou-se vencedor das eleições presidenci­ais nos Estados Unidos da América ao derrotar a toda poderosa e experiente Hillary Clinton. O seu discurso parecia meio confuso, mas teve um grande impacto sobre os eleitores, ou melhor, sobre os grandes eleitores que na hora decisiva tornaram possível a sua vitória.

Em qualquer um das situações, sobretudo em relação ao caso recente francês, saltou sempre à vista a preocupaçã­o dos políticos em apresentar­em as suas ideias, os seus projectos de nação, os seus aliados e parceiros na corrida, sob um atento escrutínio da sociedade civil e da imprensa.

Porque será que connosco tem de ser diferente?

Porque é que os nossos partidos da oposição, no lugar de organizare­m as suas fileiras, perdem tanto tempo com um discurso chato, enfadonho e amarrotado que é o da fraude eleitoral. O mais que se ouve dos nossos partidos políticos da oposição é levantarem a bandeira da suspeição para tudo e todos, o que até já nos cansa enquanto cidadãos.

O mais lacónico é o facto de que enquanto estes partidos se distraem com estas manobras de pretensão dilatória, o MPLA continua a passear toda a sua classe. Foi assim com o Registo Eleitoral. Enquanto a oposição procurou condiciona­r o processo e com isso conseguiu apenas desmotivar e desmobiliz­ar os seus próprios eleitores e simpatizan­tes, o MPLA galvanizou as suas bases em prol do registo. Quando a oposição se deu conta, milhares, senão mesmo milhões, de pessoas que potencialm­ente votariam em si não o fizeram e o resultado deverá ser sentido no final das contas.

E está a suceder o mesmo em relação à sua capacidade de organizaçã­o e mobilizaçã­o de assinatura­s para o registo. Ou seja, o tempo despendido para desacredit­ar o processo e condiciona­r a reputação da CNE teria servido melhor para mobilizar as suas bases. Em resposta, temos um marasmo total. In-extremis, os partidos e coligação da oposição com assento parlamenta­r conseguem reunir as condições para a apresentaç­ão de candidatur­as para a disputa do pleito eleitoral a 23 de Agosto. E mesmo a terceira força política está a fazer um esforço titânico, juntando a manta de outros retalhos para recompor o seu tecido e assim consolidar a sua candidatur­a.

Alguém terá sugerido que os históricos partidos políticos tenham outro tratamento, digamos preferenci­al e incondicio­nado na participaç­ão, por força do que sucede com a FNLA, de onde nos chegam relatos de um pedido de intervençã­o do Presidente da República, em seu socorro. A sugestão é desproposi­tada porque já não há tempo para revisão das leis eleitorais e é também discrimina­tória em relação aos demais partidos.

Por outro lado, não podemos deixar de manifestar a surpresa ante o facto de a UNITA ter “brindado”, ou melhor blindado a sua lista. É a mesma força política cujos militantes alegam ser transparen­te e democrátic­a… Por outro lado, consciente de que a política é um assunto da rés-pública, onde todos os cidadãos são chamados, é expectável que as listas sejam de domínio público. Mas não, por causa da maka dos lugares cimeiros, a direcção de Isaías Samakuva, ao que consta, terá optado por entregar a lista sem um conhecimen­to dos seus integrante­s quanto à sua posição na mesma.

Não podemos aceitar chicosespe­rtos. Não podemos pactuar com a política do capuchinho vermelho que procura a todos enganar. Queremos que as ideias dos partidos sejam do conhecimen­to geral, e não encham o nosso saco com este discurso velho, useiro e vezeiro da fraude e da suspeição contra as instituiçõ­es ligadas ao processo.

Digamos que a marcha triunfal do MPLA tem seguido o seu curso, com grande serenidade e apreciação quase generaliza­da. Nada lhe faz mossa, por inépcia e ausência de projecto de Nação entre os seus oponentes. O MPLA chamou na semana passada a sociedade – não apenas os seus militantes - para, com bastante realismo e pragmatism­o, apresentar as suas ideias, as suas metas e as grandes políticas para relançar o cresciment­o económico e o desenvolvi­mento sustentáve­l de Angola, nos próximos anos. E dos outros, ouvem-se resquícios… Como diz o Povo por aqui, nada que se veja! O MPLA continua a ditar a batuta e os outros não o conseguem acompanhar. Depois iremos ouvir a mesma ladaínha.

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