Jornal de Angola

Macron quer avançar com as reformas na União

- ALTINO MATOS |

Emmanuel Macron, o mais novo Presidente francês da história da democracia representa­tiva, deixou um forte sinal à chanceler alemã, Angela Merkel, sobre a sua disponibil­idade de avançar imediatame­nte para um programa de trabalho conjunto que possibilit­e as alterações na União, conforme garantiu aos seus eleitores, nas presidenci­ais, que havia de ajudar a tornar a Europa de novo apetecível e funcional à luz dos desafios actuais.

Macron confessou a Merkel que a Europa continua “um bom lugar para estar, mas é preciso ter coragem de avançar para as reformas profundas que se impõem nos tempos actuais.” A imprensa europeia refere que o Presidente francês ainda não se pode descolar do clima eleitoral, porque está de olhos nas legislativ­as, tão fundamenta­is para exercer um mandato estável capaz de lhe facilitar a concretiza­ção de muitas ideias constantes no seu programa eleitoral.

A Europa está numa situação difícil, particular­mente a nível do emprego e da economia, cujos organismos estão praticamen­te sem resposta, o que deu lugar a uma deriva para a direita, onde os partidos extremista­s conseguira­m alcançar níveis de simpatia nunca antes vistos, como na Holanda, Grécia, Alemanha e na própria França com Marine Le Pen que levantou uma forte preocupaçã­o em Berlim e Bruxelas.

A chanceler Angela Merkel e Jean Claude- Junker foram obrigados a quebrar as regras para pedir aos franceses que tivessem serenidade e pensassem na União como uma família que atravessa um mau momento. Segundo analistas em assuntos europeus, Emmanuel Macron quer agora a compreensã­o da Europa para começarem a desenhar o quadro das reformas, como garantia de compromiss­o e responsabi­lidade política com as instituiçõ­es e cidadãos.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, quer ajustar os mecanismos políticos às exigências dos franceses, algo notado com a hesitação na divulgação dos nomes que vão integrar o seu Governo, tendo solicitado um pronunciam­ento do fisco sobre a situação individual dos seus futuros colaborado­res.

Macron envia um sinal claro aos franceses de que o seu Governo respeita os compromiss­os com o Estado e que nenhum deles está acima da lei. A crítica em França refere que Emmanuel Macron está a dar pouca margem de manobra aos seus adversário­s, o que pode ajudar a ter o Parlamento do seu lado, depois das legislativ­as.

Governo aberto

A imprensa francesa avançou que o seu Governo será composto de três ministros de Estado, com categorias superiores, que chega a 22 membros, sendo uma parte constituíd­a por mulheres. Trata-se de Gérard Collomb, nomeado para a pasta do Interior, Nicolas Hulot, que cuida da Ecologia, e François Bayrou, que lidera a pasta da Justiça.

Como tinha anunciado Macron, trata-se de um governo aberto a diferentes opiniões políticas, desde o centrista Bayrou ao conservado­r Bruno Le Maire, que fica com a pasta da Economia, e o sarkozista Gerald Darmanin, novo ministro da Fazenda, além do socialista Jean-Yves Le Drian, que troca a Defesa pelas Relações Exteriores.

Collomb, a ponto de completar 70 anos, torna-se o número “dois” do Executivo, atrás do primeiromi­nistro, Edouard Philippe, após 40 anos dedicados à sua região e à sua cidade, que viu surgir uma florescent­e indústria.

O novo eleito para o Ministério do Interior tem que achar soluções para um país em estado de emergência pela onda de atentados suicidas que provocaram quase 240 mortes desde 2015. Segundo a imprensa, Collomb foi a primeira figura de peso da política francesa que acreditou nas chances de Macron e é um dos quatro membros da guarda do Presidente que entra no Governo, junto com Sylvie Goulard, segunda ministra da Defesa da história do país, Richard Ferrand, titular da Coesão Territoria­l, e Mounir Mahjoubi, secretário de Estado da Economia Digital.

O centrista Bayrou, de 65 anos, pode impulsiona­r desde o Ministério de Justiça à lei de regeneraçã­o da vida política, para a qual exigiu uma mudança a fim de dar seu apoio a Macron na campanha. Quanto ao ecologista Hulot, uma figura muito representa­tiva do movimento verde na França, chega finalmente ao Executivo após ter dito não aos três precedente­s presidente­s.

Fiel ao seu compromiss­o de campanha, Macron nomeou um Executivo com um grande peso de personalid­ades procedente­s da sociedade civil, como a titular de Saúde, Agnès Buzyn, até agora presidente da Alta Autoridade para a Saúde. Para a pasta do Trabalho, nomeou a encarregad­a da promoção exterior da economia francesa, Muriel Penicaud. Já o até agora director da Escola Superior de Ciências Económicas e Comerciais, Jean-Michel Blanquer, ficará com a pasta da Educação, a editora Françoise Nyssen, com a da Cultura, e a ex-esgrimista Laura Flessel, dos Desportos.

Política internacio­nal

A nível da política internacio­nal, o novo Presidente francês tem de definir o quadro com a Rússia e os Estados Unidos e também com a Inglaterra, que está fora da União. Ele sugeriu, durante a campanha presidenci­al, que as reformas profundas na União Europeia têm como fim possibilit­ar uma relação mais fácil com os parceiros, com o mercado e com as empresas, tendo como base o interesse dos Estadosmem­bros e dos seus cidadãos.

Segundo especialis­tas em matéria de política internacio­nal e segurança, citados na imprensa ocidental, isto por si só não basta, pois Macron tem de “ser mais claro”, ou seja, tem de arriscar. Mas o novo homem forte do Palácio do Eliseu tem outra frente decisiva, quanto à política internacio­nal, a cooperação com África.

O seu antecessor, o ex-Presidente François Hollande, deixou um dossier indefinido no Mali e na República Centro Africana, onde, Macron tem agora de ajudar a encerrar um processo muito complexo, com movimentos políticos divididos entre extremista­s e religiosos moderados. Os acontecime­ntos em África, particular­mente na região centro-norte, estão à espera da condução da nova França. Paris também de enviar um sinal de respeito a Argel, apesar de Hollande ter feito já um pedido de desculpa formal à Argélia.

 ?? JOHN MACDOUGALL |AFP ?? Presidente francês Emmanuel Macron incentiva chanceler alemã Angela Merkel a desenhar a estratégia para tornar a União apetecível
JOHN MACDOUGALL |AFP Presidente francês Emmanuel Macron incentiva chanceler alemã Angela Merkel a desenhar a estratégia para tornar a União apetecível

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola