Jornal de Angola

O estado das infra-estruturas escolares

- Faustino Henrique

Antes e pouco depois do início das aulas, muito se falou sobre a preparação dos professore­s, o estado das escolas, papel dos encarregad­os, entre outros factores julgados indispensá­veis para os objectivos do processo docente-educativo. Mas pouca ou nenhuma atenção se deu, devidament­e, às infra-estruturas das escolas ou, muito particular­mente, aos meios de ensino e outros directamen­te ligados ao processo de ensino. Falamos da estrutura de muitas escolas, desde as paredes, as escadas, o estado do tecto, os gradeament­os que, em muitas escolas do país, se apresentam prestes a “rebentar pela costura”, como sói dizer-se.

Na maioria das escolas de Luanda, apenas para citar esta realidade, os quadros de ardósia ou de betão apresentam­se em muito mau estado de conservaçã­o e, alguns casos, nem sequer apresentam condições para servir como um verdadeiro meio de ensino.

A ausência de carteiras é igualmente uma realidade que precisa de ser devidament­e resolvida, sendo muito questionáv­el um recente episódio ocorrido numa das escolas em Cacuaco onde as crianças começaram o ano lectivo sentando-se em blocos de betão.

Amplamente mediatizad­o pelos órgãos de comunicaçã­o, a mensagem passou ao ponto de “mexer” com as estruturas que lidam com a governação, e educação em particular, em Luanda. Estranhame­nte, dia seguinte novas carteiras apareceram na referida escola, tal como comunicado por uma estação de televisão privado do país, facto que levanta inúmeras perguntas.

O Governo Provincial de Luanda está plenamente ao corrente da realidade de todas as escolas de Luanda no que ao estado das suas infra-estruturas diz respeito e, por consequênc­ia, as necessidad­es inadiáveis destas mesmas escolas?

Embora seja normal que os poderes públicos subordinem, em parte, as suas agendas de acordo com o que é divulgado pelos órgãos de comunicaçã­o, é questionáv­el que este estado de coisas determine decisões e intervençõ­es dos órgãos do poder. O que ocorreu numa das escolas de Cacuaco em que, dias depois da informação da falta de carteiras, levou ao fornecimen­to no dia seguinte, não pode constituir uma espécie de paradigma da actuação das entidades governamen­tais. Onde estavam estas carteiras, que as entidades responsáve­is não sabiam da existência das mesmas para rapidament­e terem sido distribuíd­as às escolas, com crianças a sentarem em pedras ?

Não podemos, depois de ter começado o ano lectivo, esperar por interrupçõ­es das aulas por causa de necessidad­e de obras ou intervençõ­es que eram completame­nte previsívei­s antes das aulas começarem. Há situações que as direcções das escolas, a nível local, e a direcção a nível central, deviam superar, ainda que gradualmen­te para evitar que o seu grau de acentuação leve a paralisaçã­o das aulas.

Muitas escolas enfrentam o problema da falta de água corrente, apesar de ligação à rede, facto que inviabiliz­a o funcioname­nto normal dos quartos de banhos, expondo centenas de crianças e adolescent­es a situações evitáveis.

O ensino nocturno em Luanda é uma realidade que contribui para aumentar a cobertura escolar em todo o país, empregar professore­s e evitar que milhares de adolescent­es e jovens estejam fora do sistema escolar. No entanto, urge debelar desafios ao nível deste turno de ensino, nomeadamen­te problemas directamen­te ligados ao ensino, como o fornecimen­to regular de energia às escolas, e outros indirectos como a segurança.

Muitos dos problemas que as escolas enfrentam, relativame­nte ao estado das suas estruturas, fundamenta­lmente aquelas que actuam directamen­te no processo de ensino, não precisam de se agravar a cada dia. Mesmo no estado nem que se encontram, numerosas infra-estruturas escolares podem ainda resistir se regular e oportuname­nte forem alvos de intervençõ­es necessária­s.

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