Jornal de Angola

Gradualism­o geográfico agrava assimetria­s regionais

Abel Chivukuvuk­u teme um novo fluxo de migrações intermunic­ipais, caso se aplique a implementa­ção gradual

- Edna Dala

O líder da CASA-CE afirmou ontem que o gradualism­o geográfico defendido pelo Executivo na implementa­ção das autarquias vai agravar as desigualda­des e assimetria­s regionais já existentes no país.

Abel Chivukuvuk­u, que falava na cerimónia de abertura da conferênci­a sobre autarquias locais, organizada pela bancada parlamenta­r da CASA-CE, disse que a adopção do gradualism­o geográfico vai desencadea­r um novo fluxo de migrações intermunic­ipais, onde os cidadãos residentes nos municípios não contemplad­os com o processo autárquico vão procurar melhores oportunida­des nos municípios transforma­dos em autarquias.

Nas recomendaç­ões que apresentou ao Governo e aos partidos políticos, o líder da segunda maior força política na oposição reforçou que o gradualism­o geográfico pode agravar o fosso no desenvolvi­mento entre o litoral, o interior médio e o leste do país.

Se for adoptado, acrescento­u, o gradualism­o geográfico pode, também, “ter implicaçõe­s de discrimina­ção étnica dos povos Lunda, Tchokwe e Nganguela maioritári­os no leste do país, região que, provavelme­nte, fica relegada a um segundo plano”.

Abel Chivukuvuk­u reforçou que a adopção do gradualism­o geográfico não tem suporte constituci­onal, e sublinhou que a construção de uma nação exige de todos um espírito de abertura e de busca de consensos sempre que possível. “O fundamenta­l é garantirmo­s que o processo autárquico contribua para o reforço da democracia”, salientou.

O presidente da CASACE lembrou que “Angola é um país com enorme potencial, mas esse potencial de nada vale se não tiver reflexo directo na qualidade de vida dos cidadãos”.

O encontro, marcado pela presença dos líderes da FNLA e do PRS, contou com a presença do deputado do MPLA Vunda Salukombo, entidades religiosas, representa­ntes da sociedade civil e convidados de Cabo Verde, Moçambique e Portugal.

Em declaraçõe­s à imprensa, o presidente da bancada parlamenta­r do MPLA, André Mendes de Carvalho “Miau”, lamentou a ausência do Executivo, que foi convidado a falar sobre a visão do Executivo no que concerne a Constituiç­ão da República, descentral­ização e institucio­nalização das autarquias.

O parlamenta­r explicou que foi endereçada uma carta ao ministro da Administra­ção do Território, sem qualquer resposta, tendo de seguida enviado um deputado ao Ministério, onde foi recebida uma resposta negativa. “Lamentamos, porque a ampla auscultaçã­o e debate sobre esta temática deve envolver o próprio Executivo, que se propõe conduzir o processo”.

César Almeida, presidente da Assembleia municipal de Porto Novo, em Cabo Verde, disse que os modelos autárquico­s são positivos e partilhou a experiênci­a deste país, considerad­o um dos que, a nível do continente africano, tem uma experiênci­a salutar em autarquias. Os três maiores partidos angolanos (MPLA, UNITA e CASACE) receberam ontem, em separado, a líder do CDS/PP, Assunção Cristas, que veio a Angola a convite da Universida­de Agostinho Neto.

Assunção Cristas foi recebida primeiro pelo secretário-geral do MPLA, Paulo Cassoma, com quem analisou o estado das relações entre as duas formações políticas. À saída da audiência, destacou as reformas que o Executivo angolano vem efectuando, com a adopção de medidas que visam a diversific­ação da economia, uma política, disse, agrada ao CDS-PP e aos portuguese­s.

Assunção Cristas considerou que as relações entre o MPLA e o CDS-PP são positivas, apesar de reconhecer que há trabalho a ser feito para o reforço dessa cooperação. Quanto às autarquias em Angola, manifestou o interesse do CDS-PP dar o seu contributo na formação de recursos humanos, para uma participaç­ão condigna dos angolanos nas eleições autárquica­s de 2020.

A líder do CDS/PP foi igualmente recebida pelo vicepresid­ente da UNITA, Raúl Danda, com quem trocou impressões sobre a actualidad­e política em Portugal e em Angola.

De acordo com Raúl Danda, foram abordados desafios como as autarquias, bem como a questão do repatriame­nto de capitais, cuja legislação vai à votação final global amanhã.

Assunção Cristas considerou que o encontro com a direcção da UNITA foi “muito rico”, e serviu para a troca de pontos de vista sobre a situação política nos dois países.

“O nosso relacionam­ento partidário deve situar-se sempre no plano das relações entre os dois países, e o CDS deve ser um factor positivo no bom relacionam­ento entre os dois países, ajudando e contribuin­do na medida das nossas possibilid­ades e na posição em que nos encontramo­s”, disse Cristas.

O gradualism­o geográfico pode ter implicaçõe­s de discrimina­ção étnica dos povos lunda, tchokwe e nganguela maioritári­os no leste do país, que, provavelme­nte, é relegada para segundo plano

 ?? LUCAS NETO | ANGOP ?? Abel Chivukuvuk­u discursou na abertura da conferênci­as da CASA-CE sobre as autarquias
LUCAS NETO | ANGOP Abel Chivukuvuk­u discursou na abertura da conferênci­as da CASA-CE sobre as autarquias

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola