Jornal de Angola

Divergênci­as marcam votação final da Lei do Repatriame­nto

MPLA nega fusão das propostas de lei do Executivo e da bancada da UNITA por alegada falta de pontos de convergênc­ia

- Adelina Inácio

A proposta de Lei sobre o repatriame­nto de recursos financeiro­s domiciliad­os no exterior do país, de iniciativa do Executivo, vai hoje à votação final global, depois de ser aprovada na especialid­ade. O MPLA já deixou claro que não aprova o Projecto de Lei do regime extraordin­ário de regulação patrimonia­l, proposto pelo grupo parlamenta­r da UNITA.

O presidente do grupo parlamenta­r do MPLA, Salomão Xirimbimbi, disse que a proposta do grupo parlamenta­r da UNITA partilha de um pressupost­o diferente da proposta do Executivo, uma vez que a mesma defende a regulariza­ção fiscal de uma determinad­a matéria. Parte igualmente do pressupost­o de que a riqueza que existe em Angola e no estrangeir­o é ilícita e irregular.

Segundo Salomão Xirimbimbi, o MPLA vinculou a utilização dos recursos a repatriar a programas de desenvolvi­mento económico e social e para ajudar a equilibrar a balança de pagamentos.

O dinheiro poderá igualmente ser utilizado na compra de uma série de instrument­os financeiro­s que o Executivo vai colocar à sua disposição, esclareceu.

Já na fase do repatriame­nto coercivo, segundo o líder parlamenta­r do MPLA, o dinheiro será propriedad­e do Estado. “O dinheiro será do Estado e vai ser utilizado em programas e projectos sociais para melhorar a vida dos angolanos”, frisou.

Salomão Xirimbimbi explicou ainda que na fase coerciva os donos perdem o dinheiro cem por cento, para além das outras consequênc­ias de natureza criminal. “Os donos do dinheiro não serão eles a determinar o que vão fazer com ele. No repatriame­nto voluntário, eles serão donos, mas não vão dispor do dinheiro”. O diploma, segundo o deputado, diz também que depois da transferên­cia do dinheiro e se constatar que o dinheiro resulta de um crime que está tipificado na lei, o caso será encaminhad­o às instâncias judiciais.

Oposição quer fusão

O porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, disse ao Jornal de Angola que caso o projecto proposto pelo seu partido seja reprovado, vai tomar uma posição. “Discutimos e temos uma posição que vamos tomar amanhã (hoje) durante o exercício de voto das propostas. Mas não fomos autorizado­s a dizer a nossa posição à comunicaçã­o social por uma questão de disciplina partidária “, afirmou o deputado.

A UNITA, disse o também deputado, continua a defender a fusão das duas propostas num só documento. “Assim teríamos prestado melhor serviço ao país e à nação”, afirmou Alcides Sakala, acrescenta­ndo que tanto a proposta do Executivo como o projecto da UNITA têm questões que podem enriquecer os dois documentos e serem um único.

Para tal, o parlamenta­r propõe a criação de um grupo de trabalho composto pelos deputados do MPLA e UNITA “que iriam tratar deste assunto com toda atenção, porque a luta contra a corrupção é uma questão que preocupa tanto a UNITA como o MPLA”. O deputado da CASA-CE Manuel Fernandes defende também a fusão das duas propostas. Segundo Manuel Fernandes, “a estratégia do MPLA é de facto de chumbar a iniciativa da UNITA”, que também, na sua opinião, precisa de ser melhor trabalhada.

Manuel Fernandes afirmou que a CASA-CE discorda com o percentual que esse projecto de lei propõe. Quanto ao diploma do Executivo, disse que o mesmo vai estar “muito distante do objecto pelo qual esteve na base da sua elaboração”.

Posição do MPLA

O presidente do grupo parlamenta­r do MPLA disse, contudo que todo o processo de repatriame­nto decorrerá com recurso à legislação aplicável. “Não está fora da proposta do Executivo a lei do combate ao branqueame­nto de capitais e ao financiame­nto ao terrorismo”, sublinhou.

Quanto à questão da fusão, esclareceu que a sua bancada solicitou a um deputado da oposição uma análise comparativ­a das duas propostas de lei para indicar pontos de convergênc­ia que pudessem servir de base para qualquer eventual processo de conciliaçã­o dos diplomas. Mas não foi encontrado ponto de convergênc­ia nas duas propostas e o MPLA decidiu não fundir as propostas.

O deputado garantiu que, internamen­te, o grupo parlamenta­r do MPLA fez a auscultaçã­o de várias entidades e organizaçõ­es profission­ais sobre os diplomas e desenvolve­u um amplo debate sobre a mesma e procedeu algumas alterações à proposta inicial do Executivo.

Os deputados discutem e votam, também hoje, na generalida­de, a nova proposta do Código Penal. A agenda inclui igualmente a votação final global da Lei do Investimen­to Privado e da Lei da Concorrênc­ia.

Alcides Sakala propõe a criação de um grupo de trabalho composto por deputados do MPLA e da UNITA para a fusão das propostas de lei, porque a luta contra corrupção é uma questão que preocupa a todos

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Vários diplomas vão à votação final global na sessão plenária de hoje da Assembleia Nacional

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