Jornal de Angola

Uganda aprova taxa para as redes sociais

O Parlamento ugandês aprovou a semana passada uma lei de iniciativa presidenci­al que estabelece a obrigatori­edade do pagamento de uma taxa diária de meio dólar a todos os que queiram ter acesso às redes sociais

- Victor Carvalho

A ideia já havia sido levantada pelo Presidente do Uganda por mais do que uma vez, mas a verdade é que só agora é que o Parlamento aprovou uma lei que fixa o pagamento obrigatóri­o de uma taxa para todos os que queiram ter acesso às redes sociais no país.

As operadoras locais foram orientadas no sentido de criar as condições técnicas para a cobrança directa de uma taxa de meio dólar por dia a quem usar os serviços de mensagem das plataforma­s sociais como o Facebook, WhatsApp, Viber ou Twitter. A explicação dada pelo Presidente Museveni para esta iniciativa legislativ­a, relaciona-se com o facto dele considerar que o recurso às redes sociais pode encorajar pessoas desonestas a “semear a mentira, a calúnia e a difamação”.

A lei, que entra em vigor já no dia 1 de Julho, está a ser vivamente contestada no Uganda onde as redes sociais são especialme­nte usadas pelas camadas mais pobres da população para aproveitar o serviço de mensagem e telefonema­s grátis.

O ministro de Estado para as Finanças, David Bahati, deu a cara na defesa e apresentaç­ão da lei no Parlamento, consideran­do que a cobrança desta nova taxa vai ajudar o Uganda a equilibrar o seu orçamento.

Porém, especialis­tas locais consideram que o grande problema vai ser obrigar as operadoras de telefonia móvel a criarem as condições para a cobrança desta taxa diária, uma vez que nem todos os cartões SIM estão devidament­e registados.

Uma outra dificuldad­e resulta do facto de não existirem dados rigorosos sobre o número de pessoas que usam internet nos seus telefones celulares.

Dados divulgados há um ano pelo Governo, revelavam que apenas 17 dos mais de 23 milhões de utilizador­es de telefone móvel recorrem à internet, pois consideram que se trata de um serviço “excessivam­ente caro”.

Um outro desafio que se coloca é agilizar o processo de identifica­ção das pessoas que, tendo internet nos seus telefones, a usam para ter acesso às redes sociais.

Ideia vem de Março

O Presidente Museveni começou em Março a congeminar a ideia de taxar todos aqueles que usam as redes sociais, a quem chegou a chamar de “agitadores sociais”.

Com a desculpa de que o dinheiro cobrado através dessas taxas seria um rendimento acrescido para o orçamento, Yoweri Museveni orientou o ministro das Finanças para que criasse um grupo de trabalho que estudasse no prazo de quatro meses o impacto que essa taxa teria para os cofres do Estado.

Aos críticos que o acusaram na altura, e voltam a fazê-lo agora, de que a lei vai limitar a liberdade de expressão, Yoweri Museveni responde dizendo que o dinheiro arrecadado com a cobrança da taxa vai servir para manter a segurança do Estado e estender a rede eléctrica do país para que mais pessoas possam usar a internet com maior frequência.

Mas, a verdade é que as redes sociais e a sua influência na sociedade ugandesa é um tema de incontorná­vel importânci­a, tanto para o partido no poder como para a oposição.

O acesso às redes sociais durante as eleições presidenci­ais de 2016 foi um tema dominante na campanha, sendo famoso um discurso de Yoweri Museveni onde ele apelava para que se acabassem com as mentiras propagadas nas diferentes plataforma­s.

Um outro país africano que se prepara rapidament­e para legislar sobre a utilização das redes sociais é a Tanzânia, onde o Governo ganhou na justiça, no dia 29 de Maio, um recuso que havia sido apresentad­o por diferentes organizaçõ­es da sociedade civil para anular uma lei que obrigava quem tivesse um site na internet a pagar uma licença de utilização.

No Quénia, foi aprovada no dia 30 de Maio uma lei que penaliza duramente os crimes informátic­os, de modo a combater as “fake news”.

Outros países africanos têm em estudo processos que visam a criação de legislação adequada sobre o funcioname­nto das redes sociais, sendo por isso de prever que até ao final do ano muito mais se escreva sobre este assunto, uma vez que está no centro das preocupaçõ­es internacio­nais.

Operadoras foram orientadas no sentido de criar as condições para a cobrança directa de uma taxa de meio dólar por dia a quem usar os serviços de mensagem do Facebook, WhatsApp ou Viber

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DR No Uganda as redes sociais são usadas especialme­nte pelas camadas mais pobres

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