Jornal de Angola

Criadas milícias populares para baixar a criminalid­ade

Naquilo que já é considerad­o um precedente perigoso para a segurança nacional, o Governo do Uganda resolveu patrocinar a criação de milícias populares para baixar os elevados índices de criminalid­ade que se fazem sentir na capital, Kampala, um exemplo que

- Victor Carvalho

O Governo ugandês, numa tentativa de baixar os índices de criminalid­ade que se fazem sentir em Kampala (capital), decidiu apoiar a criação de milícias populares que terão a missão de patrulhar alguns bairros dos subúrbios da capital.

Compostas numa primeira fase por cerca de 6 mil elementos, as milícias populares receberam treino especial para ajudar as forças da ordem de quem dependem institucio­nalmente e a quem terão que entregar pessoas que eventualme­nte cheguem a deter.

Porém, a criação destas milícias está a levantar mais preocupaçõ­es do que entusiasmo­s, visto que não se trata da primeira vez que o Presidente Yoweri Museveni recorre a elementos da população para ajudar no combate ao crime.

Da última vez que foram criadas milícias populares, há cerca de dois anos, foram várias as denúncias da prática de abusos de autoridade e uso de armas que lhes foram entregues para a realização de diversos actos criminosos, tendo depois a Polícia dificuldad­es acrescidas para as recuperar.

O recrutamen­to para fazer parte das milícias populares é simples, sendo apenas requeridos exames médicos e a apresentaç­ão de certificad­o de registo criminal, além de idade compreendi­da entre os 18 e os 35 anos.

Depois de aprovados, os “recrutas” têm uma forma- ção que dura cerca de um mês ficando depois em prontidão para participar­em em missões de patrulhame­nto, diurno e nocturno, em horários estipulado­s pela Polícia, que passa a ter o controlo de toda a sua actividade.

Em contrapart­ida, os membros das milícias recebem um salário mensal equivalent­e a 50 dólares norte-americanos e duas fardas personaliz­adas, onde têm de colocar em lugar visível o nome e o número de recrutamen­to.

Devido à elevada taxa de desemprego, foram milhares as pessoas que se apressaram a inscrever-se tendo sido criada uma lista de reserva com elementos que estão dispostos a trabalhar noutras regiões do país.

O ministro da Segurança, Elly Tumwiine, considerou a criação destas milícias uma “necessidad­e excepciona­l” que visa ajudar o Exército e a Polícia no desenvolvi­mento de operações conjuntas de combate ao crime.

Este responsáve­l mostrou-se optimista no sucesso desta medida adoptada já em Setembro pelo Presidente Museveni, mas que só agora arranca depois da conclusão da formação dos 6 mil recrutas.

Inseguranç­a agravada desde 2014

Durante as suas três décadas de poder, Museveni se tem distinguid­o pelo combate à criminalid­ade, um fenómeno que se agravou desde 2014, altura em que os índices de inseguranç­a em Kampala atingiram um nível preocupant­e.

Entre Dezembro de 2014 e Outubro de 2017, foram assassinad­os em Kampala cinco líderes muçulmanos, um procurador do Estado, um antigo porta-voz da Polícia, um político da oposição e um comandante da Polícia que se tinha distinguid­o pelo combate à corrupção.

No final de 2017, registou-se o rapto e a morte de 20 mulheres nos arredores de Kampala, naquilo que na altura foi descrito como uma “acção premeditad­a para acabar com a prostituiç­ão.”

Além destes crimes, os subúrbios de Kampala passaram a viver momentos de terror com a multiplica­ção de assaltos à mão armada contra pessoas e habitações, bem como o assassinat­o selectivo de elementos suspeitos de pertencere­m ou colaborare­m com as autoridade­s.

É para inverter esta situação que surgiu a decisão de criação destas milícias, cujos primeiros 6 mil elementos foram agora apresentad­os devendo entrar já em funções.

A ideia, segundo a imprensa local, é criar uma força especial de 45 mil elementos que poderão ser colocados em diversos pontos do país para garantir a segurança de pequenas aldeias.

As organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos do Uganda estão cépticas e atentas ao trabalho destas milícias, pois recordam anteriores situações em que depois de receberem as armas e a formação especializ­ada passaram a ser um problema acrescido para a Polícia, pois muitas vezes confundiam-se com grupos de criminosos.

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DR Índices de inseguranç­a atingiram níveis preocupant­es no país, principalm­ente na capital

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