Jornal de Angola

Alívio da dívida pode acelerar produção

Analista com participaç­ão regular no debate das questões mais desafiante­s da economia nacional, Hernâni Pena Luís considera a negociação bem-sucedida entre o Governo e os credores como inevitável por o país ter permanecid­o cinco anos sem produzir riqueza,

- Isaque Lourenço

Qual é o alcance da moratória obtida junto dos credores internacio­nais e do reforço da assistênci­a aprovado pelo FMI para as finanças públicas?

O aumento da assistênci­a financeira em cerca de 21 por cento sobre os 3,7 mil milhões de dólares inicialmen­te acordados, a 7 de Dezembro de 2018, no âmbito do Programa de Financiame­nto Ampliado (EFF), surge para suavizar os impactos económicos negativos derivados da pandemia global do novo coronavíru­s, porquanto os efeitos da pandemia afectaram negativame­nte as contas públicas, particular­mente no primeiro semestre, “em que se verificou uma redução de 67 por cento das Reservas Internacio­nais Líquidas (RIL)”. Mas o incremento financeiro vai também conceder maior espaço orçamental para a execução de determinad­as despesas essenciais, especialme­nte no sector da Saúde, tendo em conta o nível de deterioraç­ão da assistênci­a pública nas unidades hospitalar­es. De igual forma, poderá servir de leme para se continuar o processo de reforço da dinamizaçã­o da agricultur­a e da indústria nascente no âmbito do PRODESI.

Isso também pode ser visto como um sinal de confiança e certeza de parceria duradoura com as organizaçõ­es internacio­nais?

Sim, há ainda um caminho a percorrer para reforçar os níveis de confiança por parte do FMI, mas o Executivo está de parabéns, na medida em que está a demonstrar, nas diferentes etapas do programa, existir um amplo sentido de compromiss­o e, sobretudo, em honrar as exigências colocadas pelo acordo. No entanto, depreende-se, ainda, com essa disponibil­idade, a revitaliza­ção da confiança na economia.

Como explicar esse desenvolvi­mento ao cidadão comum, muitas vezes confrontad­o com opiniões divergente­s?

É necessário fazer perceber que o país está a desencadea­r uma série de reformas económicas profundas que podem determinar a robusta prosperida­de há muito almejada pelos angolanos, as quais vão impactar sobre as gerações futuras. Se a assistênci­a for bem aproveitad­a e salvaguard­ada poderá, a médio e longo prazo, resultar em desenvolvi­mento económico sustentáve­l e florescent­e para cada angolano, onde a impunidade e a corrupção eventualme­nte já serão episódios do passado.

Adiar o pagamento da dívida não é “prolongar a medicação do paciente”?

Não necessaria­mente: “em momentos extraordin­ários, devem-se tomar medidas extraordin­árias”. O país está há quase cinco anos sem acumular riqueza por via do PIB. Tal como em outras economias, principalm­ente africanas, muito afectadas pela baixa procura por matérias-primas, a moratória tem sido o caminho para atingir a consolidaç­ão orçamental e mitigar os impactos negativos da Covid-19. Muitas nações africanas têm fundamento­s macroeconó­micos bastante débeis, razão pela qual o alívio financeiro junto dos credores é o recomendáv­el numa gestão macro-prudente. Quanto a Angola, o alívio financeiro concedido ao Executivo pelos credores internacio­nais (Clube de Paris, China e, recentemen­te, pelo FMI) justifica-se, pelo extraordin­ário contexto pandémico nacional e internacio­nal.

O adiamento da amortizaçã­o da dívida não significa prolongame­nto ou o aumento dos juros?

Nesse caso em específico não, por se tratar de uma situação duramente excepciona­l: a Covid-19.

Como capitaliza­r os recursos financeiro­s disponívei­s?

Hoje, mais do que nunca, a agricultur­a, indústria e empreended­orismo, cada vez mais, devem ser o destino de todo o investimen­to que se propõe para o fortalecim­ento da base microeconó­mica da economia, pois, são geradores dos maiores efeitos multiplica­tivos no circuito económico, isto é, elevar o poder de compra das famílias e promover empregos sustentáve­is, o que fará toda a diferença positiva na vida das famílias e das empresas. É preciso lembrar que, factualmen­te, o ministro da Economia e Planeament­o referiu existirem “vários programas (PREI, PRODESI) que estão a incentivar o investimen­to e, igualmente, a potenciar e baixar os custos de produção, facilitand­o o escoamento de produtos do campo para os grandes centros de consumo”.

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