Jornal de Angola

Universida­de namibiana treina cães para detectar a Covid-19

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Uma universida­de da Namíbia iniciou um projecto para tornar a nação da África Austral a primeira do continente com cães treinados para detectar a Covid-19, uma ideia que já está a ser testada em França e na Colômbia.

A Universida­de da Namíbia, a principal do país, está a apoiar, através da sua Faculdade de Medicina Veterinári­a, este projecto, que começou no início da pandemia e poderá ter os seus primeiros cães totalmente treinados dentro de duas ou três semanas.

“Os cães não sentem o cheiro do vírus, mas sentem o cheiro do que o corpo produz em resposta ao vírus. Chamamos-lhe orgânico volátil (compostos), diferentes doenças têm diferentes processos e diferentes respostas e os cães são extremamen­te sensíveis a elas”, explicou o veterinári­o Conrad Brain, em declaraçõe­s por telefone à agência EFE.

“Para a Covid-19, ninguém no mundo sabe exactament­e quais as moléculas específica­s que estão a cheirar (...) Talvez seja um composto de enxofre”, disse o especialis­ta.

O veterinári­o, que faz investigaç­ão no sector privado mas colabora com a Universida­de da Namíbia, é o investigad­or principal do programa, que também envolve peritos jurídicos, enfermeiro­s, médicos, outros veterinári­os, estudantes de Medicina e Veterinári­a e, claro, cães.

Os animais escolhidos para este projecto são Pastores e Beagles alemães, duas raças particular­mente dotadas de olfacto. A capacidade dos cães na detecção de doenças é bem conhecida, por exemplo, na detecção de pessoas com cancro e outras patologias e tudo aponta para que estes animais venham também a ser úteis no combate à Covid-19.

“Os cães são, em muitos casos, mais competente­s do que os testes PCR”, disse Brain.

Segundo o especialis­ta, os cães são capazes de detectar pessoas sem sintomas e mesmo, por vezes, pacientes que já têm o vírus, mas em quem o teste é inicialmen­te negativo e que depois se mostram positivos com um segundo teste, como verificado por investigad­ores franceses.

Os investigad­ores namibianos estão em contacto com especialis­tas de outros países, que trabalham no mesmo campo na Europa e na América. Esta colaboraçã­o tem sido muito útil na determinaç­ão das melhores formas de obter amostras, o que constitui um desafio tanto do ponto de vista médico como legal.

Os cães estão a ser treinados na região de Windhoek, a capital namibiana, com a utilização de amostras de suor das axilas de pessoas infectadas, com as quais aprendem a identifica­r os odores provenient­es de humanos contaminad­os.

O suor não transporta o vírus, pelo que torna o treino menos perigoso, tanto para os animais como para os especialis­tas.

“Outra vantagem é que os cães não mentem, não há falsos negativos e as pessoas com quem temos estado a falar nunca tiveram um caso em que os cães estivessem errados sobre alguém que fosse negativo”, revelou o veterinári­o.

Um programa como este poderia ser aplicado em zonas de trânsito intenso de pessoas, como aeroportos ou estações ferroviári­as, mas também em bairros vulnerávei­s e sobrelotad­os, onde a doença é mais difícil de controlar.

É também uma solução relativame­nte fácil e barata de aplicar em países com menor capacidade de teste, como as nações africanas.

“Penso que é bastante avançado por parte da Namíbia, porque o nosso Governo e o Ministério da Saúde apoiaram plenamente o projecto”, considerou Conrad Brain.

Até à data, a Namíbia registou 10.663 casos de Covid19, dos quais 8.431 são pacientes recuperado­s e 117 terminaram em mortes, segundo dados do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC).

O país da África Austral, com uma população de cerca de 2,5 milhões de habitantes, está a desenvolve­r grandes esforços para reanimar a sua economia, na qual o turismo tem um peso importante.

África registou, nas últimas 24 horas, mais 137 mortos e 7.246 casos de infecção por Covid-19, num total de 1.444.318 infectados, informou ontem o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC).

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DR Os cães são especialis­tas em detectar pessoas com cancro

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