Jornal de Angola

Mais canábis, menos ecstasy e cocaína

O impacto da Covid-19 também se sentiu no consumo de drogas e no tratamento de toxicodepe­ndentes. As máfias organizara­m-se e apostaram ainda mais na venda online e na entrega ao domicílio. Telemedici­na substituiu consultas nos centros de acompanham­ento. O

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As medidas de confinamen­to impostas devido à pandemia de Covid-19 provocaram várias mudanças nos padrões de consumo e tratamento dos toxicodepe­ndentes europeus: os centros de acompanham­ento fecharam e os técnicos tiveram de se adaptar com o recurso à telemedici­na; o preço das drogas subiu numa primeira fase e os padrões de consumo alteraram-se, com uma subida da utilização da canábis e uma diminuição das drogas sociais, como o ecstasy e a cocaína.

Esta é uma das principais análises ao comportame­nto e tendências do mercado/consumo de droga publicadas na terça-feira no Relatório Europeu sobre Drogas 2020, da responsabi­lidade do Observatór­io Europeu da Droga e Toxicodepe­ndência, uma monitoriza­ção que já vai no seu 25.º ano.

Além disso, as organizaçõ­es mafiosas também se adaptaram às restrições de circulação impostas pelos vários governos e passaram, de acordo com o documento, a apostar ainda mais nos mercados online e nas plataforma­s de redes sociais na darknet, bem como na entrega ao domicílio das drogas encomendad­as.

A análise aos mercados de droga desde o início da pandemia - decretada pela Organizaçã­o Mundial da Saúde a 11 de Março - refere ainda que, sendo uma realidade a diminuição do tráfico por via aérea, o mesmo não sucedeu com o transporte marítimo, que se manteve nos níveis que tinha antes da pandemia. Também a produção de drogas sintéticas e o cultivo de canábis na Europa não terão sido afectados.

Os dados referentes à influência da pandemia no consumo e no tratamento de toxicodepe­ndentes ainda só mostram a realidade imediata, pois são referentes aos primeiros meses do ano, como frisa Alexis Goosdeel, director do Observatór­io:

“Embora ainda esteja por avaliar o impacto da pandemia a longo prazo, no curto prazo,

já se observam mudanças, como o maior interesse na utilização de tecnologia­s digitais no mercado de drogas e a inovação no tratamento relacionad­o com o consumo de drogas, através de soluções de saúde em linha e saúde móvel.”

A não diminuição da produção de drogas na Europa é um dos alertas que o Observatór­io deixa no Relatório Europeu sobre Drogas 2020:

Tendências e Desenvolvi­mentos, documento que chama a atenção para todo o tipo de estupefaci­entes e de substância­s de elevada potência que se encontram disponívei­s no território europeu.

Além da variedade disponível no mercado, também a pureza da cocaína subiu, tal como o número de pessoas que iniciaram tratamento pela primeira vez. No documento, que em cerca de 80 páginas apresenta a radiografi­a do mercado relacionad­a com o consumo de drogas na Europa, é ainda referido que, em 2019, atingiu-se um recorde de apreensões de cocaína: 181 toneladas em 110 mil apreensões.

A este dado o Observatór­io junta um outro que ilustra como se está desevolver este mercado: “O volume de heroína apreendida na União Europeia (UE) quase duplicou entre 2017 e 2018 (aumentando de 5,2 para 9,7 toneladas) e existem relatos constantes de algum fabrico de heroína na UE. Isto sugere que é necessária mais vigilância para detectar quaisquer sinais de aumento do interesse dos consumidor­es por esta droga.”

São dados considerad­os preocupant­es e que levam a comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, a afirmar: “O Relatório Europeu sobre Drogas de 2020 evidencia os perigos que a produção e o tráfico de drogas ilícitas representa­m para a saúde e a segurança dos cidadãos da UE. O funcioname­nto dos lucrativos mercados de drogas por parte de grupos de crime organizado, bem como os níveis recorde de apreensões de cocaína e de grandes quantidade­s de heroína, destacam a ameaça persistent­e colocada pelos criminosos, que procuram explorar cadeias de abastecime­nto, rotas marítimas e grandes portos para o tráfico de drogas.”

Ylva Johansson lembra ainda que a “crescente disponibil­idade de todos os tipos de drogas ilícitas agrava os riscos para a saúde. A nova Agenda e Plano de Acção de Luta contra a Droga 2021-2025 da UE fornece o quadro político e estratégic­o para abordar de forma eficaz e abrangente os desafios na segurança e na saúde pública relacionad­os com a droga, através da aplicação de todos os instrument­os relevantes a nível local, nacional, da UE e internacio­nal”.

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