Havemos de voltar
Pregar a palavra de Deus num mundo tomado por ateus é quase nada. É desperdício de tempo. O mesmo se pode dizer sobre fazer jornalismo cultural num país em que músicos, poetas, pintores, escultores e outros artistas não existam. Com base no intróito se pode calcular como se tornou uma obra de Hércules fazer jornal, quando a actividade desportiva se encontra, literalmente, parada.
Mas, fiéis ao velho ditado, segundo este “quem não tem cão caça com gato”, mantivemo-nos, até ontem, firmes na trincheira, fazendo o possível e o impossível, para marcar a nossa presença e continuar a servir aqueles que, enquanto leitores, nos foram sempre fiéis ao longo dos anos que andamos neste compromisso de acompanhar e informar o mundo desportivo.
Fizemos esforço para continuar aqui, porque entendemos que toda a profissão impõe desafio aos seus fazedores. Aliás, basta olhar para a entrega, se não sacrifício, dos médicos nos momentos das grandes calamidades, como esta que agora se abate contra a humanidade, ou para o heroísmo dos servidores de exércitos nas grandes guerras.
Temos estado nesta luta titânica, de acordar sem saber como fechar as páginas do jornal, não havendo mais futebol, não havendo mais basquetebol, não havendo mais treinos, não havendo mais conferências de imprensa, enfim não havendo mais chicotadas psicológicas ou contratos a celebrar. Estávamos, enfim, perante um desafio, em que também não queríamos sair derrotados.
O jornalismo, embora tenha como essência informar, e a informação resulte de factos ocorridos, também faz-se com criatividade, desde que servido por gente que evite cair desafortunadamente nos “lugares-comuns”. Investigar, analisar isto e aquilo, pode ajudar a demarcar-se de conteúdos meramente noticiosos ou da agenda institucional.
Tentamos continuar, porque entendemos que o momento que se vive constituiu, pelo sim pelo não, um teste à capacidade profissional do homem, até que ponto pode ou não fazer o seu trabalho na ausência de competições desportivas. Porque não se podendo já taxar o momento que vivemos como catastrófico, pode sim ser considerado como defeso total.
A equipa deste jornal junta-se a do JA e juntas darão suporte a edição, aos sábados, de dez páginas
Esta foi uma das razões, que levou a administração da empresa suspender temporariamente a produção do Jornal dos Desportos, até que a situação normalize. Enquanto isso, a equipa redactorial deste jornal juntasse a do Jornal de Angola e juntas darão suporte a edição, aos sábados, de dez páginas dedicadas ao desporto.
Trata-se, entretanto, de uma situação provisória, embora o regresso às bancas não passe pela vontade do homem, mas pela redução de casos do Covid-19. Mas temos fé que, com a bênção de Deus, e com a determinação dos homens, que não regateiam esforços no combate à pandemia, havemos de voltar.