Polícia Militar do Rio tem mais sargentos que soldados
Promoção não exige concurso, mas tempo de serviço, e Estado fica com mais chefes do que subordinados
Rio Uma medida adotada pelo governo do Rio na década de 1990 e acentuada ao longo dos anos levou a Polícia Militar a um colapso em sua organização hierárquica. Houve uma promoção desmedida de policiais ao posto de sargento e, na prática, a patente passou a ter mais homens do que seus subordinados, os soldados.
A situação levou a improvisos operacionais e interferiu diretamente na qualidade do policiamento, segundo especialistas em segurança pública. Foi também agravante para as finanças do Rio —já que os salários ficaram maiores, sem mudança de tarefas.
Esse cenário é um dos problemas para a intervenção na segurança estadual, decretada pelo presidente Michel Temer (MDB) e aprovada pelo Congresso nesta semana.
Caberá ao general do Exército Walter Braga Netto, no- meado interventor, comandar as polícias Militar, Civil, bombeiros e montar as táticas para conter a violência.
Segundo dados da PM, a corporação tem cerca de 46 mil na ativa. Praticamente um terço (15.070) é composto por sargentos —que, pela hierarquia militar, fiscaliza e orienta os subordinados e dá padrão às atividades.
Já os soldados eram só 14.872 até meados do ano passado e os cabos, 7.319.
A distorção teve início no ano eleitoral de 1996, quando o então governador Marcello Alencar (PSDB) criou um plano de carreira que previa promoção por tempo de serviço. Atualmente um soldado com seis anos de serviço vira cabo e, depois de mais seis anos, sargento.
Para ser promovido, o PM precisa ter comportamento “bom”. Antes era preciso “ótimo” e “excepcional”.
Até 2017, segundo documentos obtidos pela reportagem, o deficit do considerado ideal de soldados era de 22.410 vagas, enquanto os cargos de sargento tinham excedente de 8.086 policiais.
Questionada, a PM não se manifestou.