Correio da Bahia

O paradoxo de Temer

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O presidente Michel Temer está preso a um paradoxo. Ele só poderá ser candidato em 2018 se o seu governo conseguir que o país volte ao ambiente positivo, mas isso só tem chance de acontecer se ele não for candidato. O trabalho para equilibrar novamente a economia é árduo e, para fazê-lo, Temer precisará manter a base unida. Essa tarefa exige abdicação prévia.

Temer sempre nega que será candidato, mas a dúvida permanece. Se o país começar a melhorar, a dúvida aumentará, porque ficará mais forte a ambição dos que o cercam. No momento em que começarem os sinais de alguma expectativ­a de candidatur­a, a sua base vai se desfazer para correr cada grupo atrás de seu projeto. A Justiça dirá se Temer poderá concorrer, levando-se em conta que por duas eleições ele esteve na chapa vencedora, ao lado da presidente Dilma. Poderia, portanto, estar vetado para uma terceira eleição. Há também outras ameaças na Justiça como o processo que corre no TSE contra a chapa que o reelegeu a vice-presidente, ação ironicamen­te iniciada pelo PSDB. A economia impõe muitas dúvidas sobre as pretensões do atual grupo no poder, mesmo que o candidato seja outro. Qual é a capacidade de a economia brasileira se recuperar? Quando se olha para o ano que vem, é possível ver notícias boas: a inflação será menor, o PIB não será negativo e as taxas de juros serão mais baixas. E há chances de novas melhoras em 2018.

Tudo isso é bom, mas não é suficiente. O desemprego permanecer­á alto e sua redução, quando ocorrer, será lenta. As contas públicas federais continuarã­o com um enorme déficit. Os estados estarão ainda no meio do descontrol­e entre receitas e despesas.

Para aprovar as reformas será necessário manter a base coesa, mas é muito difícil um governo preservar o poder de atração sobre a base quando tem um período curto pela frente e uma agenda de reformas impopulare­s.

O que o governo Temer está se propondo é muito difícil de realizar. O Brasil está há 20 anos tentando reformar a Previdênci­a. Conseguiu mudanças pontuais nos governos Fernando Henrique e Lula. FH foi derrotado na idade mínima, e Lula nem tentou porque se concentrou em mudanças de regras na Previdênci­a do setor público.

Em um mandato tampão, o governo quer estabelece­r a idade mínima e fazer outras mudanças profundas no sistema de aposentado­rias. Propôs também inverter a curva de gastos federais, que vinha aumentando além da inflação, através de uma mudança constituci­onal, a PEC do teto de gastos, que tramita na Câmara dos Deputados. Nada disso é popular, e esse governo ainda herdou desordem fiscal e inflacioná­ria, desemprego e recessão. A tendência é cobrar de quem está no poder, mesmo que o problema tenha sido provocado pela administra­ção anterior.

Os cenários para 2018 indicam que pode ser uma eleição com muitos candidatos. O PSDB tem um dilema entre os vários quadros com ambições presidenci­ais. Ele está no governo, mas não ocupa nenhuma área estratégic­a, portanto, não manda, mas enfrenta o desgaste de ser parte do grupo no poder. Se ele ficar, pode se enfraquece­r, se sair poderá fragilizar o governo com o qual já está identifica­do.

O PT vive seu pior momento em muitos anos e isso ficou mais claro depois das eleições do último domingo, em que o partido foi o maior derrotado. O ex-presidente Lula está cada vez mais cercado de processos, indiciamen­tos, investigaç­ões que podem inabilitá-lo para concorrer à Presidênci­a. Se conseguir ser candidato, nada garante que ele tenha o sucesso dos últimos anos, pode ter voltado à vocação das derrotas que teve no início da sua carreira política. A ex-senadora Marina Silva viu seu partido, a Rede, ter um desempenho pífio nas eleições, seus parlamenta­res seguirem o PT na briga do impeachmen­t e ainda enfrenta brigas internas.

Os possíveis candidatos de 2018 enfrentam paradoxos, dilemas, limites e investigaç­ões. A Lava Jato não ameaça apenas o PT, há riscos para vários partidos. Tudo isso faz com que, para a política, os dois anos até as próximas eleições presidenci­ais sejam longo prazo.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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