Correio da Bahia

Prova de obstáculos

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A queda do comércio em agosto reforçou as projeções de que a economia brasileira permaneceu em recessão no terceiro trimestre. A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, está preocupada com o otimismo do mercado. Acha que a recuperaçã­o será lenta e teme que isso leve a uma frustração de expectativ­as. Desemprego, inflação e endividame­nto inibem o consumo, e a indústria não tem competitiv­idade para exportar. O dado divulgado ontem do comércio, com queda de 0,6%, levou o Departamen­to de Estudos Econômicos do Bradesco a piorar sua projeção para o PIB do terceiro trimestre, de -0,6% para -0,8%. Se confirmada, será a sétima contração trimestral consecutiv­a. O Ibre/FGV tem uma das visões mais cautelosas entre os analistas. Espera a volta do cresciment­o somente no primeiro trimestre do ano que vem, com alta de 0,6% para o ano completo de 2017. Bem menos do que os 1,3% do Boletim Focus e os 2% de alguns bancos e consultori­as.

— Ainda estamos pagando o preço dos erros do passado. Temos recuperaçã­o com crédito escasso, famílias e governo endividado­s e inflação alta. O governo está supreenden­do positivame­nte, com uma equipe econômica forte e sintonia política. Estamos caminhando, mas são muitos obstáculos — afirmou Silvia.

Na visão do especialis­ta em comércio Rogério Soares, sócio da consultori­a Enéas Pestana & Associados, o varejo ainda vai continuar fraco nos próximos meses, por causa da combinação de juros, inflação e desemprego. Ele diz que o Dia das Crianças, historicam­ente, é um bom indicador antecedent­e do Natal, e este ano houve queda de 5% das vendas. Mesmo com a recessão, Silvia Matos defende que o Banco Central espere mais um pouco para reduzir a Selic. Acredita que os preços administra­dos devem subir 6% no ano que vem e isso vai dificultar a volta da inflação para o centro da meta. Uma boa notícia pode vir da agricultur­a. Ela diz que o forte cresciment­o de safra em 2017 deve ajudar a combater a alta dos alimentos, que foram o grande vilão deste ano.

SINAIS AMBÍGUOS

Um ponto de preocupaçã­o do Ibre está no descolamen­to que acontece nos indicadore­s de confiança. Enquanto o subitem “situação atual” permanece fraco, em 68 pontos, o subitem “expectativ­as” saltou para 90 pontos (veja abaixo, no gráfico dos consumidor­es). “Com os empresário­s acontece a mesma coisa. E, como acreditamo­s que a recuperaçã­o será lenta, pode haver uma decepção muito forte. É ruim criar essa expectativ­a em uma economia que ainda não está nos eixos”, afirmou Silvia Matos. INDENIZAÇíO NA CRISE

As maiores empresas do país estudam cobrar uma indenizaçã­o dos bancos globais envolvidos na manipulaçã­o das taxas de câmbio, ocorrida há alguns anos. Um grande frigorífic­o brasileiro estima ter perdido US$ 100 milhões com a atuação do cartel, que combinava a cotação do dólar e de outras moedas. Na visão das companhias, um acordo com os bancos poderia trazer alívio na renegociaç­ão de dívidas neste momento de crise. TENDÊNCIA

A redução na tarifa de energia no Sudeste e Centro-Oeste é uma “tendência”, disse a Agência Nacional de Energia Elétrica.

LUZ SOBRE O COPOM

A mensagem é relevante para os consumidor­es e também para o Banco Central, que anuncia hoje sua decisão sobre os juros.

HORIZONTE

Enquanto a economia real ainda patina, a expectativ­a puxa a bolsa. Ontem, o Ibovespa subiu 1,73% e chegou ao maior nível desde abril de 2012.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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