Aviões do Forró investigada por sonegação
A Operação For All, deflagrada ontem pela Polícia Federal (PF), aponta para um volume de R$ 500 milhões que teriam sido sonegados por empresas de entretenimento que patrocinam pelo menos quatro grandes bandas de forró que fazem sucesso em todo o país e estão sediadas no Ceará e na Paraíba. A For All apreendeu R$ 600 mil em dinheiro vivo com os alvos da investigação.
Os cantores Xand e Solange Almeida, da Aviões do Forró, foram obrigados a comparecer para depor na Superintendência da PF em Fortaleza, através de mandados de condução coercitiva. A Aviões do Forró é agenciada pela empresa A3 Entretenimentos.
Ao todo, 26 empresas do setor estão na mira da For All. A investigação revela que essas empresas que patrocinam as bandas subfaturavam contratos, registrando valores correspondentes a 25% e até 30% do que era de fato acertado por elas. “A maior parte dos contratos é assim, o restante circula por fora, antes da banda subir ao palco”, destacou a Polícia Federal. O dinheiro sonegado era usado para ampliação patrimonial dos envolvidos – compra de imóveis e veículos de luxo.
Um efetivo de 260 policiais federais e 35 auditores da Receita cumpriu um total de 76 mandados judiciais – 32 de condução coercitiva e 44 de buscas. Não houve prisões.
A Operação For All já contabilizou omissão de rendimentos tributados de cerca de R$ 120 milhões entre 2012 a 2014. A estimativa é de que a sonegação de todas as empresas investigadas alcance os R$ 500 milhões naquele período. A estimativa “por baixo” foi feita por Dora Lúcia Oliveira de Souza, delegada da PF, responsável pela ação que tenta desbaratar o esquema de sonegação e lavagem de dinheiro. “Em um segundo momento, no pagamento em dinheiro, é que a contribuição se perde. Esse é um mercado que cresceu muito e não tem um controle efetivo”, diz a delegada.
Para o superintendente da Receita Federal no Ceará, João Batista Barros, a circulação de dinheiro em espécie entre os envolvidos com o esquema era bastante intensa e propícia à sonegação. “De 20% a 50% eram oficializados, o resto era pago em espécie e, logo que possível, aplicado em bens para dar materialidade àquele recurso para ele não ficar guardado embaixo do colchão”, acredita.
De acordo com a delegada, a estimativa de R$ 500 milhões refere-se apenas a cachês de shows das principais bandas, sem levar em conta os rendimentos com vendas de CD, propagandas e patrocínios, entre outras fontes.
Dora Souza disse que a investigação corre há dois anos e se estabeleceu com a conferência entre a quantidade de shows das bandas, divulgada nas agendas oficiais, e os valores dos cachês, apurados com base nos contratos que os grupos estabeleciam com órgãos públicos. “Quando é feito o cruzamento dessas informações, que também foram confirmadas junto à Receita Federal, estima-se que o que eles declaram é praticamente 30% do que teriam ganho”, diz.
Segundo a PF, há indícios de que os empresários emitiam dados falsos e omitiam outros relevantes em suas declarações de Imposto de Renda, tentando se eximir da cobrança de tributos e convertendo os valores não declarados – parte deles recebida em espécie – em bens pessoais. “Sonegando impostos, eles adquiriam bens e imóveis, que também não eram devidamente comunicados à Receita Federal”, diz a delegada.
A Receita e a Polícia Federal investigam se o grupo também está envolvido com lavagem de dinheiro. Dentre os bens
Empresas teriam deixado de recolher R$ 500 mi em impostos
bloqueados, uma parte está em nome de possíveis laranjas: pessoas físicas e jurídicas relacionadas de alguma forma à A3. Além disso, alguns dos bens não foram declarados e outros foram declarados com valores abaixo do mercado.
IGUAL A BRASÍLIA
“A corrupção não existe só onde estamos acostumados a ver na política em Brasília”, disse um dos investigadores.
As empresas de entretenimento firmavam contratos em que a parte formal representava em torno de 20% do que efetivamente circulava de dinheiro. “A grande parte do dinheiro circula em espécie, isso demonstra claramente a tentativa de se evadir da tributação”, informou a PF.
Em nota, a Aviões do Forró informou que está ciente da investigação e colaborando com o trabalho dos investigadores. “A banda Aviões está à disposição da Justiça para esclarecimentos e segue com sua agenda de shows inalterada“.