A brasileiro
me nordestino, ao contrário de outros artistas, que negam a brasilidade e tentam fazer algo europeu ou norte-americano, como se estivessem na Quinta Avenida (em Nova York)”, diz Mirian de Carvalho, que, além de autora do livro que será lançado, é a curadora da exposição na Caixa.
Mirian aprofundou-se na obra de César depois que, no Rio de Janeiro, em 2001, visitou uma exposição individual dele, no Centro Cultural Correios. “Conhecia algumas obras dele isoladamente, mas só ali pude vê-las em conjunto. Eu percebi que o trabalho dele merecia um olhar aprofundado”, diz Mirian, que é doutora em Filosofia.
A curadora diz que uma das características que mais chamam sua atenção na obra do artista é a forma como ele utilizava as cores: “Percebi, já na época daquela exposição, um diálogo interessante entre as cores e o movimento”.
“Sei mesmo trabalhar com a cor e, às vezes, chego à ‘zona de perigo’, que é me aproximar de um tom lisérgico. Mas esse tom é inadequado, então preciso ser razoável no uso das cores”, diz o artista. Foi esse interesse particular pelas cores que tornou Alfredo Volpi (1896-1988) um dos pintores com quem Cesar mais se identifica. “Essa minha relação com Volpi não é pela forma, mas pela cor. A cor é luz e essa delicadeza da cor pouca gente tem”, avalia César.
ARRAIAS
O artista assume a presença de elementos populares em sua obra: “Parto de coisas muito simples, como os tamboretes usados em festas de largo, as fitas do Senhor do Bonfim e as colchas de retalhos. Mas o segredo é a forma como transfiguro isso numa arte erudita”.
As arraias também se tornaram marca importante nas pinturas de César. Antes de se tornar artista, ele criava as arraias para empinar em Feira de Santana, onde morava.
As peças criadas eram motivo de inveja dos outros meninos: “Eu era magro, feio e gago. Não jogava futebol nem me metia em briga, ao contrário dos outros meninos. Mas ganhei o respeito deles por causa das minhas arraias. Além de tudo, empinava muito bem”, lembra-se César.
Quem for à Caixa Cultural vai ver também janelas pintadas por César, outro trabalho que ele começou a fazer por acaso: “Me ofereci para pintar a janela de um conhecido e, quando ele colocou na parede da casa, fez muito sucesso entre os vizinhos. E, aí, um monte de gente vinha me pedir para pintar. Não aguentava mais pintar janela de graça”, ri.
Na exposição que será aberta em novembro estarão apenas trabalhos que têm o papel como suporte, como fotografias, litografias e serigrafias.
Data De amanhã até 27 de novembro. Visitação: terça a domingo, das 9h às 18h
Ingresso grátis