O presidente ao telefone
Quinta-feira, faltam poucas horas para o Vitória enfrentar o Santos na Vila Belmiro. Toca o telefone. A tela indica quem liga: Raimundo Viana. O presidente do Vitória sabe que, nos últimos meses, esta coluna foi pouco elogiosa sobre sua gestão ou sua condução do processo (natimorto) de democratização do Vitória. Mas Viana quer conversar. Conversamos.
O mandatário rubro-negro, candidato à reeleição, foi logo dizendo que não buscava palanque eleitoral, mas se aqui tomou tanta porrada (inclusive na coluna anterior), é justo que eu lhe dê voz. Ao longo de 54 minutos, Raimundo Viana direcionou sua mira incontáveis vezes para o antecessor no cargo, Carlos Falcão. “Um dos arrependimentos que tenho é que, quando assumi, dei continuidade com membros de uma diretoria formada por Falcão. Diretores de tudo que é área. Hoje estão todos na chapa dele. Fui apunhalado pelas costas”, afirma.
A “chapa dele”, como se refere, é a do candidato à presidência Ricardo David, que efetivamente é composta por muitos conselheiros que ganharam espaço no Vitória com Falcão na presidência. Dois destes conselheiros, vale lembrar, foram os responsáveis por pedir na Justiça a anulação da assembleia realizada na Arena Fonte Nova em dezembro de 2015, quando os sócios aprovaram a eleição direta no Vitória.
Para Raimundo Viana, “é um absurdo ao quadrado” que o rubro-negro tenha hoje conselheiros que não são sócios (nisso estamos em total acordo). Então, ele diz que seu desejo é deixar no clube o legado de um Conselho Deliberativo formado por sócios “de todo tipo” e “sem facção”. Por isso - prossegue -, está convidando muitos sócios para sua chapa, “mesmo que nunca tenha tomado um chope ou um cafezinho comigo”. Questiono então por que, na proposta de reforma estatutária apresentada por ele mesmo, não estava prevista nem a regra de o conselheiro ter que obrigatoriamente ser sócio e muito menos a composição proporcional do Conselho Deliberativo? “Porque não ia passar na votação. Eu tentei fazer uma composição mais palatável para conseguir aprovar a eleição direta, na doce ilusão de que o grupo de Falcão ia aceitar, mas ele barrou”, responde o presidente, mirando mais uma vez o antecessor.
Agora, Raimundo Viana atesta ser a favor de um Conselho Deliberativo proporcional, composto de acordo com o percentual de votos recebido por cada chapa, coisa que não vai ocorrer este ano. Nota do colunista, dita a ele: Inês é morta e ficou tarde demais para defender isso.
“Faria algo diferente?”, indago. “Sim”, ele diz. Indeciso entre “foi meio prematuro” e “foi contundente demais”, Viana admite que as questões envolvendo a chamada Arena Barradão poderiam ter sido tratadas com mais parcimônia, ainda que defenda com ênfase a iniciativa. “Vieram pra cima porque gerou uma inveja do tamanho do Barradão”, insiste. Sobre os recursos já gastos, cerca de
R$ 1 milhão, ele argumenta que foram serviços necessários para o projeto prévio e que, antes do próximo passo, tudo seria submetido ao Conselho Deliberativo. Também passou da hora.
E dentro de campo? “Atrasamos muito na formação do grupo para disputar a Série A. Quando a gente partiu pra isso, o mercado já estava saturado. Não deu pra requalificar o elenco”, enfim reconhece.
Neste ponto, pergunto: arrepende-se de ter dito tantas vezes que o Vitória tinha equipe para ser protagonista na primeira divisão? Viana reflete um pouco antes de responder. “Minha situação é muito difícil. Sou muito próximo dos jogadores. Imagine eu dizer que o elenco não é bom, é limitado, e depois ir jantar com eles? É difícil”, declara o presidente rubro-negro, que desligou o telefone para acompanhar a preleção do treinador Argel junto ao elenco. Como se sabe, o Vitória perdeu do Santos e, graças à incompetência do Inter, está fora da zona de rebaixamento.
Viana atesta ser a favor de um Conselho Deliberativo proporcional, composto de acordo com o percentual de votos recebido por cada chapa, coisa que não vai ocorrer este ano
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