Somos todos Chape; e Nacional também
Ter um segundo time para torcer nunca foi algo raro no Brasil. O rubro-negro unido pelas cores de Vitória e Flamengo; o tricolor simpático também ao São Paulo; o cidadão que deixa o interior, onde cresceu torcendo por um time do Rio, e escolhe um time local quando chega à capital. Nos últimos anos, a nova geração foi além mar. Inebriada pela Liga dos Campeões da Europa e pelos dribles do videogame, passou a desfilar com camisas de Barcelona, Real Madrid, Chelsea e Manchester United pelas ruas. Agora, uma fatalidade deu um novo segundo time ao povo brasileiro. E, se não for pedir demais, um terceiro também. A Chapecoense já era uma equipe simpática antes do acidente. Time pequeno, de uma cidade do interior, sem muito dinheiro, sem medalhões, mas sempre andando na linha, crescendo aos poucos, sem dar um passo além de onde a perna alcança.
Com simplicidade, faz o que parece impossível para os grandes do futebol baiano (já medianos em nível nacional), que é disputar a Série A por três anos seguidos sem sofrer com ameaça de rebaixamento. Surpreendeu ainda mais quando classificou para a decisão da Copa Sul-Americana. Seria a primeira grande final da história do clube, que chegou lá sem poupar o time no Brasileirão – enquanto por aqui, os dirigentes acham que não é possível jogar os dois torneios ao mesmo tempo com a mesma força.
A simpatia da Chape não vem por tradição nem por moda. Vinha pelo gosto quase natural que temos de torcer por Davi diante de Golias. Agora, vem pela fraternidade, este sentimento tão nobre que emana nos momentos de dor intensa e nos faz enxergar o que o ser humano tem de melhor.
É lindo ver que, em um dia, 13 mil pessoas solicitaram adesão ao plano de sócios da Chapecoense na tentativa de ajudar financeiramente o clube destroçado. É lindo ver a solidariedade aflorar de todos os cantos, como fez a maioria dos times brasileiros, como fez o povo de Chapecó. Por isso, somos todos Chapecoense.
Mas é preciso caber mais um no coração, pois não temos só a Chape para abraçar. Desde ontem, sou Atlético Nacional de Medellín desde pequenininho. Porque a homenagem que os colombianos fizeram a nós, brasileiros, não se esquece na vida. Se o pedido de cessão do título para a Chapecoense já era de um altruísmo inesperado, a cerimônia no estádio Atanasio Girardot não cabe nem em uma dezena dos melhores adjetivos que a língua portuguesa dispõe. Foi de uma grandiosidade incrível, de uma sensibilidade extrema para um evento que não teve sequer 48 horas de preparação. E o Atlético não tinha obrigação de fazer nada disso.
A homenagem partiu de quem seria adversário. Foi abraçada pelo governo da Antioquia, pela prefeitura de Medellín e, principalmente, pela torcida do Atlético Nacional, pelo povo colombiano. Um povo que nos abraçou e acolheu como se tivessem perdido seus amigos mais íntimos. O Atlético Nacional foi de uma atenção especial desde as primeiras horas após o acidente, quando começou a publicar notícias em português e colocou uma linha telefônica voltada para dar informações aos familiares e amigos das vítimas. Na terça-feira, o treinador do time, Reinaldo Rueda, foi ao hospital ver as vítimas da tragédia, embora nada possa fazer por elas.
Como brasileiro, fico com a sensação que, a partir de agora, temos uma “dívida” com os colombianos. Uma dívida de carinho, de atenção, de solidariedade, dívida que dinheiro nenhum paga. Como fã de futebol, minha maneira de quitar essa dívida é torcer por esse time tão fantástico.
E ainda tem quem abra a boca pra dizer que futebol é só um jogo. Definitivamente, não é.
Sou Atlético Nacional de
Medellín desde pequenininho. Porque a
homenagem que os colombianos fizeram a nós, brasileiros, não se
esquece na vida