É útil desabafar? Para quem?
Recebo diariamente dezenas de mensagens com notícias, veiculadas pela imprensa, sobre atos de corrupção, além de vídeos e fotografias relacionados com o assunto. Nos últimos dias, tenho recebido as fotos da suposta casa de praia do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, que ocupa uma das celas que ele mesmo inaugurou em Bangu 8, e resolvi dar uma resposta coletiva aos meus amigos.
Informo, de antemão, que quem não atendeu ao convite, meu ou de outra pessoa, para participar do Conselho de Cidadãos, um sistema novo e eficaz de atuação da sociedade no controle da administração pública e no combate à corrupção (www.conselhodecidadaos.com.br), e não participa de iniciativa similar, é provável que fique zangado comigo. Quem quiser evitar isso é melhor que não continue lendo. É que evidenciar o desinteresse por atitudes concretas parece ser ofensivo às pessoas, e elas sempre tentam se justificar, das mais diversas formas. É preciso compreender, no entanto, que não agir contra a corrupção (e mandar foto não é agir) não é defeito de caráter e nem falta de civismo. É opção de vida, que deve ser respeitada.
Fiquei a pensar: qual deve ser minha postura diante dessas fotos? Instaurar um procedimento investigatório? Não votar mais em Sérgio Cabral? Será essa a intenção do remetente? Ou o seu objetivo seria me informar que o dono daquela mansão é corrupto? Mas e aí, o que devo fazer? Encaminhar as fotos ao Ministério Público? Para que, se essas fotos foram feitas durante a investigação. Não, não deve ser isso.
Será que é para que o remetente aplaque a dor que há no seu peito, desabafando contra a corrupção? Não vejo eficácia terapêutica nessa militância de teclado, já que as causas não cessam. Se a intenção fosse curar o mal, o meu amigo estaria atacando as causas. Já sei: deve ser pra que eu fique indignado e o ajude a combater a corrupção. Para isso eu preciso saber o que ele tem feito, para ajudá-lo de forma produtiva. Perguntei, e vou relacionar as respostas mais engraçadas até agora, excluídas as impublicáveis:
1 - “:)”;
2 - “???? ”
3 - “kkkkkkk”
4 - “Sendo honesto e cidadão de bem”;
5 - “Não sou pago para isso”;
6 - “Tenho mais o que fazer”;
7 - “Mandando as informações para você que é procurador kkkkkkk”;
8 - “Não tem como acabar com a corrupção”.
Afora o sorrisinho que coloquei em primeiro lugar, para cada item precisaríamos de algumas laudas para comentar a resposta. Por isso vou ser genérico com as pessoas que gastam horas para encaminhar mensagens, mas não têm 15 minutos por semana para, mesmo anonimamente e, portanto, em segurança, encaminhar uma informação nova aos órgãos com atribuição para apurar e punir corruptos.
A possibilidade que as redes sociais nos deram, de mostrar que somos cidadãos por meio de postagens inócuas, retirou-nos a necessidade de agir. As pessoas agem como se ao manifestarem publicamente sua indignação gerassem algum efeito para além de si mesmas. E se têm consciência de que não geram, a atitude é meramente egoística.
Em resumo: a circulação de mensagens indignadas, quando feita por quem não age contra a corrupção, serve apenas para manter essas pessoas na omissão. É uma opção que deve ser respeitada, mas é preciso saber que isso faz a alegria dos corruptos. Nenhum deles tem medo de ser exposto, já que quem lhes elege não se incomoda. O corrupto tem medo é de responder por tudo o que fez, e assim ficar impedido de ocupar cargos.
Reconheço, no entanto, que pior seria se em lugar de omissas essas pessoas fossem corruptas. E sou grato.