AINDA É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!
Em 1991, o presidente dos Estados Unidos, George Bush, era o franco favorito nas eleições presidenciais de 1992, mas o país estava em recessão. Foi então que James Carville propôs um lema para a campanha do candidato democrata quase desconhecido que iria enfrenta-lo: “É a economia, estúpido!” E Bill Clinton, obscuro governador de Arkansas, um dos mais pobres estados americanos, ganhou a eleição. É a economia que vence as eleições, tanto nos EUA quanto no Brasil mas, naturalmente, há exceções.
Todas as eleições brasileiras após a ditadura foram fortemente influenciadas pela economia. Em 1989, o famigerado Collor de Mello foi eleito presidente prometendo acabar com a inflação de 2000% ao ano e foi a perspectiva de sair daquele quadro econômico escabroso que motivou a população a votar nele. Fernando Henrique Cardoso também foi eleito pela economia, catapultado pelo Plano Real que, efetivamente, estabilizou a economia brasileira. Mas o segundo mandato de FHC foi marcado pela crise econômica, e a recessão, o desemprego e a crise cambial fizeram Lula chegar ao poder, embora nesse caso houvesse um componente ideológico.
Diferente dos presidentes que o antecederam, Lula passou seis anos num céu de brigadeiro na economia mundial e, quando veio a crise de 2008, com habilidade política, ainda que com muita irresponsabilidade econômica, fez o Estado intervir na economia, ofereceu todo tipo de incentivo e, sem fazer o necessário ajuste fiscal, manteve a economia em alta. Assim, fundado na sua imensa popularidade e na política fiscal expansionista, elegeu Dilma Rousseff presidente, embora deixando a herança maldita do rombo nas contas públicas. Novamente, em 2014, a economia teve forte peso nas eleições, já que a presidente, que desejava a reeleição, prometia o crescimento econômico da era Lula enquanto seu adversário acenava com um duro ajuste fiscal.
Dilma ganhou, mas sabia que não poderia entregar o que prometeu e deu ao povo exatamente o que prometeu não dar, ou seja, uma brutal recessão. Em resumo, a economia sempre pautou a política, mas algo diferente parece estar acontecendo no Brasil pós Lava Jato. É que a economia foi estabilizada, a inflação é a mais baixa dos últimos 20 anos, o poder de compra do brasileiro está se recompondo, o crescimento econômico voltou e as taxas de desemprego estão caindo e basta olha a história para ver que esse ciclo virtuoso aumenta a popularidade dos governantes e elege presidentes. No entanto, Temer tem a pior avaliação da história, o que parece indicar que dessa vez a economia não será determinante nas eleições de 2018.
Ainda é cedo para concordar com tal assertiva, por enquanto só é possível dizer que as melhorias econômicas por maiores que sejam não vão alavancar a popularidade do presidente Temer. Mas isso não quer dizer que teremos uma eleição descolada da economia. Neste momento, sem a economia como parâmetro, a eleição tende a ser marcada pelo lado ideológico, com a polarização entre Lula e Bolsonaro, pelo ódio aos políticos de qualquer natureza, pela ojeriza à corrupção e pela busca do novo. Mas ainda é cedo para saber se a economia estará descolada da política. Se, por exemplo, no primeiro semestre de 2018, se concretizar a previsão de crescimento econômico acelerado e queda acentuada das taxas de desemprego, o ministro da Fazenda poderá colar sua imagem na retomada do crescimento e se tornar um candidato competitivo.
Além disso, quando se colocar na mesa a discussão sobre o futuro econômico do país, as ideias jurássicas e nacionalistas de um Bolsonaro serão facilmente descartáveis e tampouco terá apelo o candidato que propor mundos e fundos num momento de crise fiscal, afinal apopulaçãoestáescaldadacom o discurso eleitoral de Dilma Rousseff que foi desmentido pela realidade e se tornou um palavreado vazio. O fato é que os candidatos a presidente vão ser obrigados a discutir e defender suas propostas econômicas e, embora seja um momento imprevisível da história política do país, se alguém indagar o que será determinante nas eleições presidenciais de 2018, a resposta pode ser: ainda é a economia, estúpido!