Lamento no Pelourinho
Um incêndio atingiu a Saladearte Cine XIV, no Pelourinho, na manhã de ontem. Segundo a Central Integrada de Comunicação das Polícias (Cicom), o fogo foi confirmado no casarão onde funciona o cinema por volta das 8h30, mas as causas ainda são desconhecidas. Testemunhas contaram que por volta das 8h já havia chamas aparentes.
Uma hora depois, com o aumento do fogo e da fumaça, a Rua Frei Vicente foi bloqueada e uma viatura do Corpo de Bombeiros começou a trabalhar. Por volta das 10h35, outro caminhão chegou. Funcionários de um lava a jato próximo também usaram uma mangueira para tentar conter o fogo, que destruiu portas, janelas e consumiu a parte interna do casarão. Um terceiro caminhão dos bombeiros chegou às 10h55.
Representante da Casa 14, imóvel que fica ao lado do cinema e que também foi atingido pelo fogo, Simone Carrera afirmou que o primeiro carro dos bombeiros não tinha água suficiente. “Os bombeiros informaram que na Baixa dos Sapateiros estava sem água e eles tiveram que buscar água no Iguatemi”, conta. O Corpo de Bombeiros nega que tenha havido falta de água.
“O primeiro caminhão usou toda água no combate e como houve dificuldade em localizar um hidrante (que fica dentro de uma casa, que estava fechada), então vieram dois outros caminhões do grupamento do Iguatemi e de Lauro de Freitas”, explicou o subcomandante Leandro Vialto. De acordo com Vialto, o fogo do cinema começou a ser combatido por uma entrada lateral, já que as portas e janelas principais estavam tomadas pelas chamas.
O casarão, que passou por reforma em 2016, estava ligado à rede elétrica e foi preciso aguardar o desligamento pela Coelba. Pelo menos 10 bombeiros atuaram no incêndio. Como há muita madeira na estrutura no imóvel, o trabalho de combate ao fogo durou até o final da tarde, quando foi completamente debelado. Mas, de acordo com Sothenes Macêdo, diretor geral da Defesa Civil de Salvador, todo o local ficará isolado até que o processo de resfriamento seja totalmente feito.
O proprietário do cinema, Marcelo Sá, chegou ao local visivelmente emocionado e disse que pretende acompanhar as investigações do caso junto com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). “Por enquanto, não passa nada pela cabeça da gente, mas estamos aguardando a perícia técnica para identificar a causa. Todo o espaço físico do cinema foi queimado. Não houve vitimas, apenas danos materiais. Contamos com o apoio de todos para nos reerguer e esperamos, em breve, voltarmos com a nossa programação no mesmo local”, disse.
Os moradores se mostraram abatidos com o incêndio e, ao mesmo tempo, com medo de suas casas serem atingidas pelo fogo, já que os imóveis são colados parede com parede. Suzana Duran mora no local há cinco anos e se emocionou ao falar do quanto o cinema fará falta: “Essa casa era do meu avô e desde que moro aqui esse cinema é a diversão dos nossos domingos. Eles se preocupam muito com a gente, enviam a programação toda semana, o ingresso é R$ 5 para quem mora ou trabalha por aqui, às vezes, é até de graça. Isso sem falar nas oficinas para as crianças e os eventos”.
A diretora de Gestão do Centro Histórico pela prefeitura Eliana Pedroso também lamentou e fez questão de ressaltar a importância do Cine XIV: “Por enquanto, só temos noção da perda afetiva e cultural.” A dramaturga Aninha Franco, que geriu o espaço até 2010, lamentou a decadência da área, ressaltando que “a falta de políticas públicas para a região possibilitou que mazelas combatidas voltassem à região”.
O cineasta e curador do Panorama Coisa de Cinema Cláudio Marques também se comoveu com a perda do patrimônio cultural. “Eu imagino que era feito um trabalho de resistência para manter aquele espaço importantíssimo por se tratar de um cinema em pleno Centro Histórico. Por isso, espero que aquilo seja recuperado e que haja apoio para auxiliar nessa recuperação”, disse.
O governo da Bahia emitiu uma nota informando que o Departamento de Polícia Técnica (DPT) realizará perícia para apontar a causa do incêndio.