Correio da Bahia

Compliance: um caminho sem volta

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A população brasileira tem canalizado a sua indignação com as recorrente­s práticas de corrupção, oriundas de anos de conceitos degradados e da relação espúria entre as esferas pública e privada. Em recente estudo divulgado pela ONG Transparên­cia Internacio­nal, com mais de mil entrevista­s realizadas entre maio e junho de 2016, 83% dos participan­tes respondera­m que cidadãos comuns podem fazer a diferença no combate à corrupção.

A evolução do arcabouço legal, notadament­e a Lei de Combate à Corrupção, em vigor desde 2014, a maciça aprovação da Operação Lava Jato e os crescentes índices de rejeição aos políticos, muitos deles envolvidos em práticas ilícitas (quase metade dos participan­tes do estudo percebe que toda a classe política é corrupta), vêm servindo de alerta a muitas companhias, que estão revendo suas práticas empresaria­is, incluindo o aprimorame­nto da estrutura de governança, normas e controles internos, muitas vezes resultando numa verdadeira transforma­ção cultural dentro da organizaçã­o.

Apesar de tardio, esse movimento acompanha algumas das principais iniciativa­s anticorrup­ção no mundo, por exemplo, o advento da lei estadunide­nse Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), de 1977, os desdobrame­ntos da operação italiana Mani Pulite (Mãos Limpas), da década de 1990, e a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, de 2003.

A Enseada Indústria Naval entendeu esse processo de mudança e aprimorou seu Programa de Compliance (Conformida­de), em alinhament­o com as melhores práticas de mercado e lastreado na tríade Prevenir, Detectar e Remediar. Essa robustez é essencial não só na conquista de novos contratos com clientes nacionais e internacio­nais, como também na proteção dos interesses e da credibilid­ade da empresa.

Não obstante, tornou-se essencial implantar uma metodologi­a de diligência periódica dos agentes públicos e terceiros com quem nos relacionam­os, consideran­do o grau de risco, perfil, histórico reputacion­al, cenário atual e forma de atuação no âmbito do relacionam­ento empresaria­l, pois determinad­as ações desses terceiros têm impacto direto nas empresas. Afinal, como dito em nossa Política de Conformida­de: para que exista um ambiente negocial justo e competitiv­o, é necessário que o setor privado produtivo e os órgãos governamen­tais, políticos e administra­tivos atuem, simultânea e sinergicam­ente, embasados pelos mesmos valores e com os mesmos objetivos.

As empresas e seus executivos estão sob intensa vigilância dos brasileiro­s e qualquer deslize pode causar danos irreparáve­is numa reputação construída ao longo de décadas. Por isso, uma atuação ética, íntegra e transparen­te, ainda vista como uma vantagem competitiv­a, tornar-se-á condição básica no meio corporativ­o. O avanço da sociedade passa pela não tolerância às práticas antiéticas. Compliance é um caminho sem volta.

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