SOB PRESSÃO
Uberlândia, 2ª maior economia de Minas, adota medidas extremas diante de fase crítica para deter disseminação do coronavírus e 99% de uso de leitos hospitalares
Na tentativa de conter o avanço da COVID-19, o município mais populoso do Triângulo e 2ª maior economia do estado está a partir de hoje sob lei seca, por tempo indeterminado, e toque de recolher, por pelo menos 15 dias. Venda de bebidas fica proibida em qualquer horário, e a cidade fecha das 20h às 5h, com exceção das farmácias. As medidas radicais são resposta à ocupação de 99% dos leitos hospitalares.
Em momento crítico na tentativa de conter a transmissão do coronavírus, a prefeitura de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, passa a adotar, hoje, o toque de recolher entre 20h e 5h, com fiscalização intensa nas ruas da Polícia Militar. O novo decreto foi assinado pelo prefeito Odelmo Leão (PP), diante de uma taxa de ocupação de 99% dos leitos hospitalares. Nem mesmo os ônibus poderão circular depois das 20h. Segundo o município, a medida valerá por ao menos 15 dias.
Depois desse prazo inicial, a prefeitura do município, que é a segunda maior economia de Minas Gerais, segundo a Fundação João Pinheiro, avaliará se vai manter as medidas. As farmácias são o único setor do comércio autorizado a funcionar. Outras atividades essenciais ficarão fechadas a partir do horário estabelecido para o toque de recolher, como padarias, supermercados e postos de combustíveis.
Além disso, o município adotou a proibição de venda de bebidas alcoólicas em qualquer horário na cidade. A lei seca vai começa a vigorar às 18h de hoje por tempo indeterminado. Uberlândia
registrou, ontem, total de 65.049 diagnósticos de COVID-19 desde o início da pandemia e 954 mortes. Em 24 horas, ocorreram 19 óbitos. A cidade trata de 642 pacientes internados em hospitais, sendo 405 em enfermarias e outros 237 em unidades de terapia intensiva (UTI). A rede municipal de saúde atingiu 99% de ocupação geral, incluindo uso de equipamentos de terapia intensiva e enfermaria.
Pelo menos dois hospitais particulares não contam mais com leitos para atendimentos e vivem o risco de falta de oxigênio. O município também vai erguer hospital de campanha para atender a demanda de pacientes. Ele será erguido em locais que possibilitem a instalação de leitos, como o anfiteatro do Hospital Municipal. As vagas serão destinadas a pessoas que estão em tratamento de outras doenças.
Dois hospitais privados da cidade e todas as unidades de atendimento integrado (UAIs) emitiram notas com o pedido de que a população busque atendimentos nesses locais apenas em casos de “extrema urgência”. O motivo é a grande demanda de atendimento de casos de COVID-19, que tem consumido vagas e recursos dessas unidades de saúde.
SUPERLOTADAS Em nota, a Prefeitura de Uberlândia alertou que as oito UAIs apenas receberão pacientes em situações de “extrema necessidade e urgência”. “Diante do avanço do contágio por COVID-19 e o consequente aumento no número de casos, as UAIs encontram-se superlotadas. A administração municipal tem se empenhado para atenuar o mais rápido possível a situação, no intuito de que não haja falta de equipamentos e insumos para os atendimentos, porém é necessária a compreensão e a colaboração da população para que a situação não se agrave”, diz o comunicado.
Como forma de prevenção aos usuários da rede, o município readequou as consultas e serviços ambulatoriais das unidades dos bairros Luizote de Freitas, Martins, Pampulha, Presidente Roosevelt, São Jorge, Tibery e Planalto. Os atendimentos presenciais serão feitos em outros locais, como as unidades básicas de Saúde (UBS) para pacientes com condições crônicas, crianças e gestantes. Também haverá teleconsultas e visitas domiciliares.
O Hospital Santa Marta informou que está atendendo apenas as especialidades de ginecologia/obstetrícia, pediatria e ortopedia. “As demais especialidades, em razão da lotação de suas unidades de internação e UTI não há condições de atendimento a novos pacientes. Favor procurar o Hospital mais próximo”, diz o informe. O cenário é semelhante ao do Hospital Santa Clara, que informou atender as mesmas especialidades no momento. O comunicado da instituição diz que isso ocorre porque “não há condições de atendimento seguro a novos pacientes”. UTIs e enfermaria estão lotados.
Entre leitos de UTI e enfermaria, já instalados ou em instalação, especializados no recebimento de pacientes com COVID-19, Uberlândia conta com 429 unidades tanto na rede privada quanto na rede pública. A maior parte está na rede municipal, sendo 112 de UTI, 142 de internação, além de 27 de urgência nas UAIs. No Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), há 16 equipamentos de UTI e oito leitos de internação. Nos hospitais privados, existem 40 unidades de UTI e 84 de internação.