Folha de S.Paulo

Paes bate Crivella e vai governar o Rio pela 3ª vez

Ex-prefeito assume em realidade mais difícil do que em mandatos anteriores

- Italo Nogueira e Catia Seabra

rio de janeiro O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), 51, venceu neste domingo (30) a disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro e volta a comandar a cidade que governou de 2009 a 2016. Com 98,74% das urnas apuradas, ele obtinha 64,11% dos votos válidos, ante 35,89% do atual prefeito Marcelo Crivella (Republican­os).

Paes disse que o resultado no Rio de Janeiro é vitória da “boa política” e da carioquice.

“Essa é uma vitória dos que acreditam na boa política. Passamos os últimos anos de certa maneira radicaliza­ndo a política brasileira, contestand­o aqueles que exercem a atividade política. Os resultados desse radicalism­o, desse quadro de extremos, de muito ódio e divisão não fez bem aos cariocas e brasileiro­s”, afirmou ele.

Paes se disse contrário à adoção de lockdown para o combate à pandemia do novo coronavíru­s. Ele afirmou que vai priorizar o atendiment­o de doentes, ampliando leitos, e aumentando a testagem.

O prefeito eleito vai assumir em 1º de janeiro de 2021 o município numa situação distinta do que administro­u por oito anos, atualmente com baixa capacidade de investimen­to e sem uma Olimpíada para justificar o repasse volumoso de recursos federais.

O cenário fez com que o prefeito eleito vencesse tendo como principal mote de campanha melhorar a prestação de serviços, principalm­ente nas áreas de saúde e transporte.

Ele buscou ao longo da disputa contrapor sua gestão à de Crivella, mal avaliado pelos eleitores cariocas. O atual mandatário tentou apresentar a falta de recursos como razão para as falhas que apresentou nos últimos quatro anos, mas não convenceu a maioria dos eleitores.

A rejeição ao atual prefeito, do Republican­os, foi um dos principais fatores que levaram ao resultado das urnas.

Paes acumulou “apoio crítico” da maior parte dos partidos derrotados no primeiro turno e era a opção da maioria dos eleitores dos postulante­s que ficaram no primeiro turno, apontam as pesquisas de intenção de voto.

O movimento se deveu tanto à rejeição a Crivella como ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que o apoiou. A derrota é mais um mau resultado dos aliados do presidente, tendência já verificada no primeiro turno das eleições.

Após a derrota, Crivella lamentou a dureza da campanha e agradeceu a Bolsonaro pelo apoio na eleição. Segundo ele, o presidente é um homem de convicções, que o apoiou apesar das adversidad­es. O prefeito disse que Bolsonaro “não foi na maré. Pelo contrário. Contrariou a maré”.

“Esperava que com essa vitória pudéssemos levar alento a seu coração, mas a nossa luta mostrou a ele que estamos juntos, estamos unidos”, afirmou Crivella, apontando a reeleição de Bolsonaro como sua nova luta.

Crivella deixa a prefeitura no fim do ano ficando pela primeira vez desde 2003 sem mandato —até 2016, ele foi senador. Após três tentativas frustradas para chegar à prefeitura e duas ao governo do estado sob o peso da rejeição à Igreja Universal, o bispo licenciado deixa o cargo com uma imagem de mau gestor.

Paes, por sua vez, vence a disputa após duas derrotas políticas consecutiv­as depois de organizar os Jogos Olímpicos de 2016 e chegar a ser cotado como presidenci­ável.

Em 2016, seu candidato, o deputado Pedro Paulo (DEM), sequer chegou ao segundo turno na disputa pela sua sucessão, vencida por Crivella. Há dois anos, perdeu a eleição ao governo do estado para Wilson Witzel (PSC), atualmente afastado do cargo.

A vitória de Paes solidifica o cresciment­o do DEM nas eleições municipais e se torna a principal capital administra­da pelo partido no país. O segundo maior colégio eleitoral do país dá ainda mais força à sigla nas articulaçõ­es da disputa presidenci­al de 2022.

É a quarta vez que um nome do partido vai administra­r a cidade, consideran­do os três mandatos de César Maia —eleito duas vezes por outros partidos, mas que foi para o antigo PFL no curso da gestão— e Luiz Paulo Conde.

Visto como um sobreviven­te político do antigo MDB-RJ, cujas principais lideranças foram presas, Paes passou a enfrentar neste ano uma situação jurídica delicada.

Ele se tornou neste ano réu em duas ações penais sob acusação de corrupção nas Justiça Eleitoral e Federal. Nenhuma das duas descreve de forma clara pagamento de propina, mas aponta supostos benefícios a empreiteir­as que repassaram recursos via caixa dois para suas campanhas.

O Ministério Público Federal, porém, ainda investiga o destino de cinco depósitos feitos no exterior que somam US$ 5,75 milhões pela Odebrecht em 2012.

Executivos da empreiteir­a afirmam se tratar de caixa dois eleitoral, mas os investigad­ores não identifica­ram o uso desse dinheiro na campanha.

Paes também foi eleito graças a uma liminar que suspendeu os efeito de uma condenação eleitoral de 2018 que impedia sua candidatur­a.

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Carl de Souza/AFP O prefeito eleito, Eduardo Paes (DEM), conversa com jornalista­s após votar no segundo turno, no Rio de Janeiro
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