Folha de S.Paulo

Para se reeleger, tucano avança mais em áreas ricas das zonas leste e norte

Já candidato psolista ganhou algumas periferias neste segundo turno, mas de forma insuficien­te

- Daniel Mariani, Fábio Takahashi e Diana Yukari

são paulo O atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), conseguiu neste segundo turno forte cresciment­o em regiões com perfil alto e médio de renda, especialme­nte nas zonas leste e norte. O candidato derrotado Guilherme Boulos (PSOL) avançou na periferia, mas de forma insuficien­te.

A análise por zona eleitoral mostra que os maiores cresciment­os do tucano em relação ao primeiro turno foram no Tatuapé (de 35% para 70% dos votos), Vila Formosa (de 35% para 70%) e Vila Maria (de 34% para 70%).

A reportagem comparou a proporção de votos dos candidatos no primeiro e no segundo turno deste ano.

Das seis zonas em que Covas mais cresceu, três são na zona leste e três na norte. Todas próximas ou acima da média de renda do município.

O tucano avançou menos nas áreas mais pobres. Seus menores cresciment­os foram em Piraporinh­a, Cidade Tiradentes, Valo Velho e Grajaú, locais com renda familiar inferior à média.

Como Boulos cresceu mais nas franjas da cidade, o mapa de votação ficou mais parecido com as eleições passadas.

No primeiro turno, Covas venceu todas as 58 zonas. No segundo, Boulos conseguiu ganhar em oito, todas na periferia. Seus maiores cresciment­os ocorreram em Cidade Tiradentes (votação foi de 37% para 57% entre o primeiro se segundo turno), Piraporinh­a e Grajaú.

Tradiciona­lmente, o PSDB tem vencido nas áreas centrais e mais ricas; o PT, e agora o PSOL, nos extremos da capital. Mas Boulos não chegou a conquistar maciçament­e as periferias. Ele perdeu, por exemplo, Capela do Socorro e Pedreira (zona sul) e Brasilândi­a (zona norte).

Para analisara rendadas zonas eleitorais, a reportagem considerou os dados do IDH-M (Índice de Desenvolvi­mento Humano nos municípios) —as subprefeit­uras, divisão utilizada no estudo, foram considerad­as para se verificar o perfil das zonas eleitorais.

Na tentativa de atrair os votos dos mais pobres, Boulos fez campanha enfatizand­o a necessidad­e de a prefeitura priorizar ações para regiões mais vulnerávei­s. O candidato também utilizou fortemente em sua propaganda o fato de ele viver no Campo Limpo, periferia sul da cidade.

P orou trolado, Covas vendeu pesadament­e ações que sua gestão fez para as áreas mais pobres, como entrega de UPAs (unidades de saúde) e ampliação de vagas em creches. Na reta final da campanha, o prefeito anunciou auxílio emergencia­l de R$ 100 para inscritos no Bolsa Família, para mitigar os efeitos da crise econômica criada pela pandemia.

O tucano também contou com o apoio ativo da ex-prefeita petista Marta Suplicy, que conseguiu bons resultados nas franjas da cidade.

Na outra ponta de renda, alguns pontos do programa de Boulos podem ter prejudicad­o seu desempenho nesse segmento. Ele prometia, por exemplo, aumento de IPTU para “mansões”, sem especifica­r o tamanho dos imóveis que entrariam nessa categoria.

Pesquisa do Datafolha feita na véspera do pleito mostrou que, segundo as intenções de voto, Covas batia o rival em três das quatro faixas de renda familiar considerad­as: as duas mais baixas e a mais alta de todas.

Entre a população que recebe até dois salários mínimos (R$ 2 mil), Covas tinha 46% das intenções de votos, ante 39% do adversário.

No topo das faixas, com renda acima de dez salários mínimos (mais de R$ 10 mil), o tucano possuía 53% das intenções dos votos, contra 42% do psolista.

Boulos só tinha mais intenção de votos numa faixa intermediá­ria, entre mais de 5 salários mínimos e até 10 salários mínimos (equivalent­e a faixa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil).

Nesse patamar intermediá­rio de renda, Boulos contava com com 48%, contra 42% do rival. No primeiro turno, a alta abstenção na cidade, especialme­nte nas áreas mais pobres, parece ter minado a vantagem que Covas contava na véspera.

O Datafolha feito na véspera do primeiro turno indicava que Covas tinha 37% dos votos válidos na disputa, e Boulos, 17%. A apuração das urnas no primeiro turno fechou com 33% dos votos para Covas e 20% para Boulos.

Análise da Folha mostrou que a abstenção cresceu mais nas áreas em que possuem alguns dos menores IDH (Índice de Desenvolvi­mento Humano) da cidade.

Neste segundo tur- no, ela foi de 31%, mas pa- rece não ter prejudicad­o o candidato tucano. Em relação ao padrão de votação, os prefeitos vencem na capital com diferentes perfis no segundo turno. Em 2000, a então petista Marta Suplicy bateu Paulo Maluf (então no PPB) em todas as zonas eleitorais de São Paulo.

Nas eleições posteriore­s, passou a haver uma divisão: as áreas mais ricas do município preferiram José Serra (PSDB, em 2004 e 2008) e Gilberto Kassab (então DEM, em 2012).

Já as regiões mais pobres votaram mais nos candidatos do PT (Marta em 2004 e Fernando Haddad em 2012).

Na última vitória da esquerda na cidade, um fator importante foi que Haddad conseguiu ganhar com folga nos distritos mais populosos.

Já Boulos, além de vencer em menos zonas do que o PT conquistou que em 2012, não conseguiu larga vantagem nesses distritos —ou seja, não obteve uma boa margem em termos absolutos.

Após os movimentos no segundo turno, a eleição deste ano também se aproximou a esse padrão.

O mapa de 2020 da cidade também se parece muito com o da eleição presidenci­al de 2018. Covas ganhou praticamen­te em todas as zonas em que o Jair Bolsonaro também venceu.

No meio do centro expandido, uma zona chama a atenção: a Bela Vista foi onde Covas teve a menor vantagem (55% a 44%). Na vizinha Santa Efigênia, o tucano ganhou por 60% a 40%.

Em 2018, a Bela Vista também foi onde o petista Fernando Haddad, que apoiou Boulos na reta final deste ano, conseguiu a menor diferença em relação a Bolsonaro no segundo turno.

Cientistas políticos, porém, afirmam que eleições municipais diferem muito de padrão com as nacionais, por isso, comparaçõe­s ficam muito prejudicad­as.

Tradiciona­lmente, o PSDB tem vencido nas áreas centrais e mais ricas; o PT, e agora o PSOL, nos extremos da cidade. Mas Boulos não chegou a conquistar maciçament­e as periferias. Ele perdeu, por exemplo, Capela do Socorro e Pedreira (zona sul) e Brasilândi­a (zona norte)

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