Folha de S.Paulo

GOVERNO SITIADO PMDB dá dois sinais de que pode romper com o governo de Dilma

Temer marca para dia 29 reunião sobre desembarqu­e, que pode tirar outros partidos da base

- DANIELA LIMA

Nenhum nome da sigla compareceu à posse de Lula; partido estuda expulsar Mauro Lopes por ter aceito pasta

O PMDB enviou nesta quinta-feira (17) dois sinais claros de que caminha para deixar formalment­e o governo da presidente Dilma Rousseff.

No gesto mais enfático, o vice-presidente Michel Temer (SP) marcou e mandou publicar no “Diário Oficial” a data da reunião que vai deliberar sobre o desembarqu­e da sigla da gestão petista. O encontro será no dia 29.

Na segunda frente, nem Temer, nem nenhum nome da sigla no Congresso compareceu à cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva como chefe da Casa Civil.

A ausência de nomes que sempre foram simpáticos ao ex-presidente, como o senador Eunício Oliveira (PMDBCE), que foi ministro de Lula, evidenciou o distanciam­ento que mesmo as alas mais moderadas da sigla querem imprimir do petismo.

Em nota, a assessoria de Temer afirmou que o PMDB considerav­a uma “afronta” do Planalto a nomeação do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para ministro da Aviação Civil, mesmo após determinaç­ão da sigla de que ninguém ocupasse novos cargos no governo antes da decisão final sobre o divórcio de Dilma e do PT.

Lula e Lopes tomaram posse no mesmo dia, o que viabilizou a ausência de toda a bancada do PMDB da Câmara e do Senado na cerimônia no Palácio do Planalto.

“Michel Temer não pode comparecer à posse de um ministro que afronta decisão soberana da convenção nacional do PMDB de não ocupar cargos no governo da presidente Dilma”, afirmou a assessoria do vice.

“Avisos reiterados foram enviados ao Planalto, que decidiu ignorá-los”, concluiu a nota. A sigla informou que vai julgar o pedido de expulsão de Lopes, como pena por ter aceitado o cargo após a última convenção nacional ter feito uma proibição expressa, nesta sexta-feira (18).

O afastament­o entre PMDB e PT se agravou no momento em que Dilma e Lula vivem o auge da crise, com a divulgação de grampos feitos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. DISTÂNCIA ESPACIAL O vice tem feito questão de manter distância até espacial da petista e de seus aliados mais próximos. Temer está em São Paulo há pelo menos três dias. Ele não falou com Dilma ou Lula desde que a crise se agravou com a divulgação de conversas entre o petistas e outras autoridade­s, inclusive a presidente.

Aliados próximos afirmam que até mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai firmar posição de “neutralida­de” com relação ao governo.

Até então, Renan, que deve a Lula a ajuda por ter mantido o mandato durante escândalo em 2007, era considerad­o “o último bastião do governo” no PMDB.

Pessoas próximas a Renan dizem que ele considera a crise gravíssima, parte de “um momento histórico” do país e fará discurso de defesa da legalidade e das instituiçõ­es.

A saída do PMDB da base aliada de Dilma condenará o governo da petista a um isolamento político profundo, capaz de liquidar a governabil­idade. Um movimento do PMDB contra Dilma será visto como “senha” para que outras legendas menos expressiva­s, como PP e PR, também retirem seu apoio.

CAETANO LAGRASTA NETO

desembarga­dor aposentado do TJSP

ANITA NOVINSKY

historiado­ra e professora emérita da USP

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Renato Costa - 12.mar.16/Folhapress O vice Michel Temer durante convenção nacional do PMDB

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