GOVERNO SITIADO PMDB dá dois sinais de que pode romper com o governo de Dilma
Temer marca para dia 29 reunião sobre desembarque, que pode tirar outros partidos da base
Nenhum nome da sigla compareceu à posse de Lula; partido estuda expulsar Mauro Lopes por ter aceito pasta
O PMDB enviou nesta quinta-feira (17) dois sinais claros de que caminha para deixar formalmente o governo da presidente Dilma Rousseff.
No gesto mais enfático, o vice-presidente Michel Temer (SP) marcou e mandou publicar no “Diário Oficial” a data da reunião que vai deliberar sobre o desembarque da sigla da gestão petista. O encontro será no dia 29.
Na segunda frente, nem Temer, nem nenhum nome da sigla no Congresso compareceu à cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva como chefe da Casa Civil.
A ausência de nomes que sempre foram simpáticos ao ex-presidente, como o senador Eunício Oliveira (PMDBCE), que foi ministro de Lula, evidenciou o distanciamento que mesmo as alas mais moderadas da sigla querem imprimir do petismo.
Em nota, a assessoria de Temer afirmou que o PMDB considerava uma “afronta” do Planalto a nomeação do deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para ministro da Aviação Civil, mesmo após determinação da sigla de que ninguém ocupasse novos cargos no governo antes da decisão final sobre o divórcio de Dilma e do PT.
Lula e Lopes tomaram posse no mesmo dia, o que viabilizou a ausência de toda a bancada do PMDB da Câmara e do Senado na cerimônia no Palácio do Planalto.
“Michel Temer não pode comparecer à posse de um ministro que afronta decisão soberana da convenção nacional do PMDB de não ocupar cargos no governo da presidente Dilma”, afirmou a assessoria do vice.
“Avisos reiterados foram enviados ao Planalto, que decidiu ignorá-los”, concluiu a nota. A sigla informou que vai julgar o pedido de expulsão de Lopes, como pena por ter aceitado o cargo após a última convenção nacional ter feito uma proibição expressa, nesta sexta-feira (18).
O afastamento entre PMDB e PT se agravou no momento em que Dilma e Lula vivem o auge da crise, com a divulgação de grampos feitos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. DISTÂNCIA ESPACIAL O vice tem feito questão de manter distância até espacial da petista e de seus aliados mais próximos. Temer está em São Paulo há pelo menos três dias. Ele não falou com Dilma ou Lula desde que a crise se agravou com a divulgação de conversas entre o petistas e outras autoridades, inclusive a presidente.
Aliados próximos afirmam que até mesmo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai firmar posição de “neutralidade” com relação ao governo.
Até então, Renan, que deve a Lula a ajuda por ter mantido o mandato durante escândalo em 2007, era considerado “o último bastião do governo” no PMDB.
Pessoas próximas a Renan dizem que ele considera a crise gravíssima, parte de “um momento histórico” do país e fará discurso de defesa da legalidade e das instituições.
A saída do PMDB da base aliada de Dilma condenará o governo da petista a um isolamento político profundo, capaz de liquidar a governabilidade. Um movimento do PMDB contra Dilma será visto como “senha” para que outras legendas menos expressivas, como PP e PR, também retirem seu apoio.
CAETANO LAGRASTA NETO
desembargador aposentado do TJSP
ANITA NOVINSKY
historiadora e professora emérita da USP