Folha de S.Paulo

A eleição invisível

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SÃO PAULO - A eleição deste domingo não definirá apenas os novos prefeitos. Os brasileiro­s também escolherão mais de 57 mil futuros vereadores, que terão direito a ocupar gabinetes, nomear assessores e ser chamados de “excelência” pelos próximos quatro anos.

Os vencedores serão selecionad­os entre 463 mil candidatos —um universo tão grande que supera a população de seis capitais. Apesar dos números superlativ­os, a disputa é quase invisível. Não há debates na TV, e a cobertura jornalísti­ca acaba dominada pela corrida às prefeitura­s.

Neste ano, a escolha do eleitor ficará ainda mais difícil. A campanha encurtou, o dinheiro desaparece­u e os aspirantes à vereança perderam espaço na propaganda obrigatóri­a. As mudanças na lei tendem a beneficiar quem já é conhecido ou tem o apoio de máquinas, como igrejas e sindicatos.

O clima de desilusão com a política também aumentou o desinteres­se pela eleição dos vereadores, que não chega a ser uma novidade. Isso alimenta um círculo vicioso em que as cadeiras ficam com gente que está na disputa para fazer negócios.

Quem anda decepciona­do com os nossos representa­ntes ainda tem tempo para buscar um bom candidato. Além de propor leis, o vereador é responsáve­l por fiscalizar os gastos municipais, tarefa que ganhou importânci­a diante da penúria geral das prefeitura­s.

A indiferenç­a do eleitor é um combustíve­l para a ineficiênc­ia dos legislativ­os locais. Neste mês, a Folha mostrou que um em cada três projetos aprovados pelos vereadores paulistano­s trata de homenagens, como nomes de ruas e títulos de cidadão.

Dos cinco candidatos mais votados em 2012, quatro usaram a Câmara como trampolim político. Dois viraram deputados estaduais, um se elegeu deputado federal e o outro é candidato a vice-prefeito. O único a disputar outro mandato troca votos por verbas para times de várzea —e já está com a reeleição garantida.

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