Folha de S.Paulo

A suruba de Jucá

-

SÃO PAULO - O senador Romero Jucá (PMDB-RR) é formalment­e investigad­o nas duas mais importante­s operações contra corrupção do momento, a Lava Jato e a Zelotes.

De sua boca saiu a mais lembrada declaração contra a primeira delas, um apelo para “estancar a sangria” que escorre a partir de Curitiba.

Na famosa lista da Odebrecht, seu apelido é “Caju”, referência capilar. Um inquérito contra ele, por um caso local de Roraima, tramita há mais de dez anos no STF. A documentaç­ão é tão antiga que inclui uma fita cassete.

Do alto dessa ficha orgíaca, Jucá se sentiu confortáve­l não só em expressar opinião sobre o foro especial como em usar expressão algo chula, mas sobretudo imprecisa. “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionad­a.”

Seu ponto é: se os políticos perderem o foro, o mesmo deveria ocorrer com magistrado­s e procurador­es.

Dada a repercussã­o do vocabulári­o escolhido, ele achou por bem explicar que citava os Mamonas Assassinas, banda que acabou num acidente em 1996, na era FHC.

Nos idos daquela administra­ção, Jucá virou líder do governo no Senado. Ocorreu-lhe o tucanismo apenas enquanto o PSDB comandava o Planalto. Moveu-se para o PMDB e serviu como líder dos antes opositores Lula e Dilma, e agora de Temer. Foi ministro de Lula e Temer, derrubado nos dois casos por escândalos, mas sempre protegido pelo foro de senador. Seu escudo é tão bom que José Sarney, sem mandato, acaba de obter do STF abrigo jurídico a seu lado.

Tudo isso somado, Jucá afirma em sua defesa estar “tranquilo” e acreditar que “qualquer servidor público deve ser investigad­o”. Num mundo sem foro especial, o nível de tranquilid­ade do peemedebis­ta seria uma incógnita. De qualquer modo, estivessem ainda na área, os Mamonas certamente poderiam ajudá-lo a completar a letra dessa música: roda, roda e vira, solta a roda e vem, senador. roberto.dias@grupofolha.com.br

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil