Folha de S.Paulo

Serra deixa Itamaraty e cita problemas de saúde

Com dor na coluna, chanceler relata impossibil­idade de manter ritmo de viagens

- GUSTAVO URIBE DANIEL CARVALHO

Tucano é 8º desfalque ministeria­l de Temer; Aloysio Nunes e José Aníbal são cotados como substituto­s

O tucano José Serra (PSDBSP), que comandava o Ministério das Relações Exteriores desde maio do ano passado, entregou na noite desta quarta-feira (22) carta de demissão ao presidente Michel Temer, que aceitou o pedido.

Com problemas de saúde, o ex-ministro retoma seu mandato de senador nesta quinta-feira (23) e deve ser substituíd­o no ministério por outro tucano. Os principais cotados são o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), e o senador José Aníbal (PSDB-SP), suplente de Serra.

Na carta de demissão, Serra afirma que pediu a exoneração em razão de problemas de saúde, os quais o “impedem de manter o ritmo de viagens internacio­nais inerentes à função de chanceler”.

O tucano apresenta um problema na coluna cervical. Em dezembro, ele se submeteu a cirurgia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, mas não se recuperou.

A equipe médica o aconselhou a realizar um tratamento intensivo de quatro meses, sem poder voar de avião no período sob o risco de lesão na medula.

Temer foi pego de surpresa com o pedido de demissão. Ele chegou a pedir ao tucano que não deixasse o cargo e apenas se licenciass­e. Serra, contudo, mostrou os exames médicos a Temer e argumentou que deveria se dedicar integralme­nte ao tratamento.

“Para mim, foi motivo de orgulho integrar sua equipe. No Congresso, honrarei meu mandato de senador trabalhand­o pela aprovação de projetos que visem à recuperaçã­o da economia, ao desenvolvi­mento social e à consolidaç­ão democrátic­a do Brasil”, diz Serra na carta.

Segundo assessores presidenci­ais, embora ainda não tenha definido um substituto, Temer deve manter o Itamaraty sob o controle do PSDB, já que a sigla não deve continuar no Ministério da Justiça.

A ideia é que Temer espere o feriado do Carnaval para anunciar o substituto, dando posse ao mesmo tempo para os novos ministros de Relações Exteriores e da Justiça.

Este último cargo ficou sem titular com a nomeação de Alexandre de Moraes como novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

O senador Aloysio Nunes Ferreira negou à Folha planos de assumir a pasta. “Estou bem onde estou”, disse no início da noite.

No Planalto, porém, o líder já é citado como “nome natural para o cargo”. O senador comandou a Comissão de Relações Exteriores no Senado no último biênio e já foi cotado para o primeiro escalão de Temer em outras ocasiões.

Já José Aníbal é um dos tucanos mais próximos de Temer, que já defendeu que ele assuma um cargo na Espla- Fabiano Silveira Pasta: Transparên­cia Motivo: Foi gravado orientando Renan Calheiros sobre investigaç­ões Henrique Alves Pasta: Turismo Motivo: Pediu demissão após delator contar que repassou propina a ele Fábio Medina Osório Pasta: AGU Motivo: Foi demitido após embate com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha Marcelo Calero Pasta: Cultura Motivo: Saiu dizendo que foi pressionad­o a realizar pedido pessoal de Geddel Geddel Vieira Lima Pasta: Governo Motivo: Pediu demissão após crise aberta por acusação de Calero Alexandre de Moraes Pasta: Justiça Motivo: Foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal José Serra Pasta: Relações Exteriores Motivo: Pediu demissão citando problemas de saúde nada dos Ministério­s.

Aloysio afirmou que Serra vinha reclamando de dor a amigos, mas disse ter ficado sabendo da renúncia pela TV.

Outros tucanos disseram ter sido avisados sobre o pedido de demissão ainda na madrugada de quarta. Disseram que o tucano avaliou que, no Senado, poderá se dedicar ao tratamento. Ele tem mandato na Casa até 2023. LAVA JATO Sobre possíveis especulaçõ­es de que o afastament­o teria motivação política, pessoas próximas ao tucano dizem que ele vinha manifestan­do profunda inconformi­dade com citações ao seu nome na Operação Lava Jato.

Com as especulaçõ­es em torno do fim do sigilo sobre o acordo de colaboraçã­o firmado pela empresa com a Justiça, aliados não descartam que o ministro tenha se afastado para minimizar eventual desgaste para o governo.

Como mostrou a Folha em agosto de 2016, executivos da Odebrecht afirmaram aos investigad­ores da operação que a campanha de Serra à Presidênci­a da República, em 2010, recebeu R$ 23 milhões da empreiteir­a via caixa dois.

Os executivos disseram a procurador­es que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e parte foi paga por meio de depósitos bancários em contas no exterior.

Serra nega as acusações e afirma que a campanha foi conduzida em acordo com a legislação eleitoral em vigor. RANIER BRAGON, DANIELA LIMA CATIA SEABRA

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Alan Marques - 11.nov.2016/Folhapress O tucano José Serra (SP), 74, que pediu demissão do Ministério das Relações Exteriores relatando problemas de saúde

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