Serra deixa Itamaraty e cita problemas de saúde
Com dor na coluna, chanceler relata impossibilidade de manter ritmo de viagens
Tucano é 8º desfalque ministerial de Temer; Aloysio Nunes e José Aníbal são cotados como substitutos
O tucano José Serra (PSDBSP), que comandava o Ministério das Relações Exteriores desde maio do ano passado, entregou na noite desta quarta-feira (22) carta de demissão ao presidente Michel Temer, que aceitou o pedido.
Com problemas de saúde, o ex-ministro retoma seu mandato de senador nesta quinta-feira (23) e deve ser substituído no ministério por outro tucano. Os principais cotados são o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), e o senador José Aníbal (PSDB-SP), suplente de Serra.
Na carta de demissão, Serra afirma que pediu a exoneração em razão de problemas de saúde, os quais o “impedem de manter o ritmo de viagens internacionais inerentes à função de chanceler”.
O tucano apresenta um problema na coluna cervical. Em dezembro, ele se submeteu a cirurgia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, mas não se recuperou.
A equipe médica o aconselhou a realizar um tratamento intensivo de quatro meses, sem poder voar de avião no período sob o risco de lesão na medula.
Temer foi pego de surpresa com o pedido de demissão. Ele chegou a pedir ao tucano que não deixasse o cargo e apenas se licenciasse. Serra, contudo, mostrou os exames médicos a Temer e argumentou que deveria se dedicar integralmente ao tratamento.
“Para mim, foi motivo de orgulho integrar sua equipe. No Congresso, honrarei meu mandato de senador trabalhando pela aprovação de projetos que visem à recuperação da economia, ao desenvolvimento social e à consolidação democrática do Brasil”, diz Serra na carta.
Segundo assessores presidenciais, embora ainda não tenha definido um substituto, Temer deve manter o Itamaraty sob o controle do PSDB, já que a sigla não deve continuar no Ministério da Justiça.
A ideia é que Temer espere o feriado do Carnaval para anunciar o substituto, dando posse ao mesmo tempo para os novos ministros de Relações Exteriores e da Justiça.
Este último cargo ficou sem titular com a nomeação de Alexandre de Moraes como novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
O senador Aloysio Nunes Ferreira negou à Folha planos de assumir a pasta. “Estou bem onde estou”, disse no início da noite.
No Planalto, porém, o líder já é citado como “nome natural para o cargo”. O senador comandou a Comissão de Relações Exteriores no Senado no último biênio e já foi cotado para o primeiro escalão de Temer em outras ocasiões.
Já José Aníbal é um dos tucanos mais próximos de Temer, que já defendeu que ele assuma um cargo na Espla- Fabiano Silveira Pasta: Transparência Motivo: Foi gravado orientando Renan Calheiros sobre investigações Henrique Alves Pasta: Turismo Motivo: Pediu demissão após delator contar que repassou propina a ele Fábio Medina Osório Pasta: AGU Motivo: Foi demitido após embate com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha Marcelo Calero Pasta: Cultura Motivo: Saiu dizendo que foi pressionado a realizar pedido pessoal de Geddel Geddel Vieira Lima Pasta: Governo Motivo: Pediu demissão após crise aberta por acusação de Calero Alexandre de Moraes Pasta: Justiça Motivo: Foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal José Serra Pasta: Relações Exteriores Motivo: Pediu demissão citando problemas de saúde nada dos Ministérios.
Aloysio afirmou que Serra vinha reclamando de dor a amigos, mas disse ter ficado sabendo da renúncia pela TV.
Outros tucanos disseram ter sido avisados sobre o pedido de demissão ainda na madrugada de quarta. Disseram que o tucano avaliou que, no Senado, poderá se dedicar ao tratamento. Ele tem mandato na Casa até 2023. LAVA JATO Sobre possíveis especulações de que o afastamento teria motivação política, pessoas próximas ao tucano dizem que ele vinha manifestando profunda inconformidade com citações ao seu nome na Operação Lava Jato.
Com as especulações em torno do fim do sigilo sobre o acordo de colaboração firmado pela empresa com a Justiça, aliados não descartam que o ministro tenha se afastado para minimizar eventual desgaste para o governo.
Como mostrou a Folha em agosto de 2016, executivos da Odebrecht afirmaram aos investigadores da operação que a campanha de Serra à Presidência da República, em 2010, recebeu R$ 23 milhões da empreiteira via caixa dois.
Os executivos disseram a procuradores que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e parte foi paga por meio de depósitos bancários em contas no exterior.
Serra nega as acusações e afirma que a campanha foi conduzida em acordo com a legislação eleitoral em vigor. RANIER BRAGON, DANIELA LIMA CATIA SEABRA