Folha de S.Paulo

Chanceler viajava sob efeito de injeções com analgésico­s

- DANIELA LIMA CATIA SEABRA

Antes de embarcar para seu último compromiss­o internacio­nal, um encontro para discutir políticas públicas na Alemanha, José Serra (PSDB) tomou uma injeção com analgésico­s para aliviar as dores na coluna.

O incômodo, que se acentuava em viagens aéreas, havia se tornado uma rotina desde que o agora ex-chanceler diagnostic­ou um desgaste acentuado entre duas vértebras, no ano passado.

Em conversas reservadas, Serra vinha dizendo que o quadro beirava o insuportáv­el. Há cerca de 20 dias confidenci­ou que, diante do quadro, já pensava em deixar o Ministério das Relações Exteriores. Temia, porém, que a decisão irritasse o presidente Michel Temer e desse margem a especulaçõ­es sobre uma motivação política.

Temer presenciou por diversas vezes a aflição do então ministro. Durante um viagem para a Índia, em novembro de 2016,disse ao próprio Serra que o via abatido e que achava que ele vinha se alimentand­o mal. O peemedebis­ta pediu para que o ministro tentasse descansar.

No mês seguinte, Serra se submeteu a uma cirurgia na coluna, para substituir o disco desgastado por uma placa de titânio.

Após a alta, retomou o trabalho se submetendo a sessões de fisioterap­ia, mas continuou se queixando, dizendo que sentia dores ainda mais fortes do que antes.

Este mês, fez nova série de exames. Apesar de a cirurgia ter sido bem sucedida do ponto de vista ortopédico, o laudo restringia viagens longas.

Mesmo com o documento em mãos, decidiu manter a viagem à Alemanha. Embarcou na semana passada. Ao voltar, se rendeu à impossibil­idade de permanecer no posto.

Além de se queixar das dores nas costas, Serra também se dizia “entediado” no cargo e se considerav­a subaprovei­tado, segundo amigos. A avaliação era de que o sacrifício físico não compensava.

Durante a montagem do governo Temer, o tucano chegou a ser cotado para o Ministério da Fazenda. Seu nome era defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O cargo, porém, que acabou nas mãos de Henrique Meirelles.

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