Acionista do Itaú deixará comando da Santa Casa
Após atenuar crise, José Luiz Setúbal desiste de reeleição e sairá em abril
Médico cita desgaste e relação difícil com irmandade; hospital dispensou funcionários e reduziu atendimentos
O médico pediatra José Luiz Setúbal, 60, anunciou nesta quarta (22) que deixará o comando da Santa Casa de São Paulo assim que terminar o prazo de seu primeiro mandato, em abril, dois anos depois de assumir o cargo. Ele afirma que a decisão de não concorrer à reeleição é irrevogável.
O acionista do banco Itaú atribuiu a medida a um “forte estado de estresse”, a um desgaste emocional e à dificuldade de se relacionar com a “irmandade”, mesa que participa do comando da instituição de saúde, uma das maiores da América Latina.
“Ao longo do meu mandato, já tive de ser submetido à colocação de nove stents [tubo que regula o fluxo sanguíneo] de maneira preventiva. Em março, farei outro exame. Penso diferente de boa parte das pessoas, sempre busco o consenso, e isso dá muito trabalho”, afirmou à Folha.
Até a eleição de Setúbal — que foi, conforme sua vontade, candidato único— a Santa Casa vivia a pior crise financeira e institucional de sua história e acumulava dívidas de R$ 773 milhões.
No final do ano passado, um acordo com a Caixa Econômica Federal deu fôlego à instituição, com um empréstimo de R$ 360 milhões, que possibilitou renegociações com fornecedores e credores.
“Não foi uma decisão fácil [deixar o comando]. Meu envolvimento foi de corpo e alma, mas conversando com amigos e familiares cheguei à conclusão que minha cota de sacrifício já foi dada. A crise mais intensa já passou.”
Embora a situação geral do complexo, que conta uma faculdade de medicina e diversas instalações, tenha melhorado, conforme diz o próprio provedor, ela ainda é “muito delicada” e não se afasta a possibilidade de uma novo momento de instabilidades.
“A Santa Casa é hoje uma instituição muito mais sólida, mas é frágil e esta sujeita a novas instabilidades. Isso é verdade. A instituição precisa urgentemente discutir sua governança, abrir-se para um novo jeito de administrar, o que foi minha grande frustração em não conseguir fazer.”
Setúbal não conseguiu que a mesa diretora da instituição aprovasse em seu novo estatuto mudanças que imporiam novas regras de conduta ética, divisão de poderes e de responsabilidades.
“Deixo uma gestão que prezou pela transparência, pela busca da eficiência e pela meritocracia, tentando acabar com o nepotismo e regalias”, afirma Setúbal.
A gestão também fica marcada pela dispensa de cerca
JOSÉ LUIZ SETÚBAL, 60
provedor da Santa Casa de 2.000 funcionários —o total recuou para 8.400.
Houve ainda diminuição de atendimentos e cirurgias eletivas e fechamento de serviços, medidas que foram tomadas com a justificativa de enquadrar o hospital à sua realidade financeira e aos repasses de verbas públicas.
Nas dívidas da instituição há um passivo trabalhista. O pagamento do 13º de 2014 não foi quitado e há parcelamentos de acertos em curso.
O provedor da Santa Casa pretende, a partir do segundo semestre, retomar o seu trabalho diário na presidência da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, detentora do Hospital Infantil Sabará.
Setúbal pretende apoiar o advogado Antonio Penteado Mendonça para assumir a vaga de provedor. Ele fez parte da chapa de Kalil Rocha Abdalla, apontado como o pivô da derrocada da Santa Casa e investigado por irregularidades em sua gestão, o que ele sempre negou.
“Conversei com várias pessoas que não se dispuseram a se candidatar e o Antonio Penteado acabou cedendo. Ele é do bem, tem uma história com a instituição”, diz.
“
Não sou uma unanimidade. Acho que sou um homem à frente do pensamento da própria organização da Santa Casa. Tenho conceitos mais modernos, o que leva a desgastes