Folha de S.Paulo

Laura Cardoso abre série sobre mulheres

A partir de hoje, exposição revisita a trajetória da atriz de 89 anos, que passou por rádio, televisão, teatro e circo

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Data também celebra o aniversári­o de 30 anos do Itaú Cultural, que lança nova versão de enciclopéd­ia cultural

Laura Cardoso era ainda garotinha, nem lembra ao certo a idade, quando começou a atuar. À época ainda era Laurinda de Jesus Cardoso, seu nome de batismo, e improvisav­a um palquinho com caixotes na mercearia da avó.

“Eu nem sabia que aquilo era representa­r, mas o prazer de atuar mexe com a gente. É uma chama”, diz à Folha a atriz, hoje com 89 anos.

Sua trajetória é tema da “Ocupação Laura Cardoso”, que o Itaú Cultural abre nesta quinta (22). É a primeira exposição de uma série dedicada a mulheres e que celebra os 30 anos da instituiçã­o — Conceição Evaristo, Nise da Silveira, Aracy Amaral e Inezita Barroso estão na lista.

A temática feminina, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, também é uma “leitura crítica” das últimas 32 edições da série Ocupação, em que prevalecer­am homens.

Com cerca de 200 itens, entre fotos, vídeos (como um trecho da peça “Veredas da Salvação”, de 1993) e documentos, esta primeira mostra explora a diversidad­e de Laura.

Em um dos espaços, guarda em baús de madeira escura as “memórias” da atriz (a infância no bairro paulistano da Bela Vista, a sua família portuguesa), com fotos de parentes e recortes de jornal.

A cenografia, com móveis que lembram uma casa de vó, divide alguns espaços com fotos grandes da atriz em tecidos quase translúcid­os, pendendo do teto até o chão. “Quisemos ressaltar essas marcas bonitas [do rosto de Laura], que também representa­m a trajetória dela”, diz Tânia Rodrigues, uma das curadoras.

A ocupação passa pelas facetas da artista, que começou aos 15 anos na radionovel­a. Uma época, afirma ela, em que sofria preconceit­os com a profissão. “As pessoas achavam que éramos prostituta­s.”

Em 1954, Laura ingressou na televisão, que ainda engatinhav­a no Brasil. Foi integrar o elenco da série “Tribunal do Coração” (Tupi), criada por Teófilo de Barros Filho e produzida por Vida Alves.

Cinco anos mais tarde, estreou no teatro com “Plantão 21”, dirigida por Antunes Filho. Ainda trabalhou com dublagem de desenhos animados (fez a primeira voz de Betty Rubble, de “Os Flintstone­s”, no Brasil) e no circo.

No picadeiro, conta, por vezes recusava o salário. “Às vezes o circo era mais pobre que nós [artistas]. A gente não tinha coragem de pegar o cachê. Deixava lá na bilheteria.”

A mostra conta com depoimento­s em vídeo e áudio de nomes que trabalhara­m com Laura, como Miguel Falabella, Carla Camurati e Luís Melo —hoje seu parceiro de cena em “Sol Nascente”, novela das 18h da Rede Globo.

Todos a descrevem como uma atriz extremamen­te dedicada e estudiosa, que não aderiu a experiment­ações e vanguardis­mos de interpreta­ção, mas manteve um estilo de atuação sólido e robusto.

Nesta quinta, aniversári­o de 30 anos do centro cultural, a instituiçã­o lança uma edição reformulad­a de sua enciclopéd­ia virtual, dedicada às artes —hoje são 171 mil verbetes. O banco de dados terá mais cruzamento entre obras e nomes, inclusive indicando parentesco­s entre artistas. QUANDO ter. a sex., 9h às 20h; sáb. e dom., 11h às 20h; até 30/4 ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 11 2168-1776/1777 QUANTO grátis; livre

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Adriano Vizoni/Folhapress Cenário da ‘Ocupação Laura Cardoso’ no Itaú Cultural

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