Folha de S.Paulo

Sistema curitibano aproveita o cartão de transporte dos ônibus para aumentar tempo de travessia em semáforos

- EVERTON LOPES BATISTA

Enfrentar as cidades brasileira­s a pé não é tarefa fácil para ninguém, mas a jornada soa ainda pior para pessoas com deficiênci­a ou idosos. Mas algumas tecnologia­s criadas no país, em desenvolvi­mento ou já prontas, tentam modificar essa realidade.

Em Curitiba (PR), um sistema instalado em 39 cruzamento­s, todos próximos a hospitais ou a lugares com maior circulação de idosos, aumenta o intervalo de travessia de pedestres no semáforo a partir da leitura do cartão de transporte que dá isenção da passagem de ônibus para pessoas com deficiênci­a ou com mais de 60 anos.

O mecanismo foi criado por meio de uma parceria entre a prefeitura e a empresa de tecnologia Dataprom.

Segundo Pedro Darci, gerente de planejamen­to da Secretaria de Trânsito de Curitiba, um levantamen­to realizado com cerca de 500 pessoas descobriu que a velocidade de um idoso para atravessar a rua é, aproximada­mente, 30% menor do que a média geral, usada para programar os semáforos.

Com os novos dados, foram feitas programaçõ­es paralelas de tempo nos sinais de trânsito, ativadas pelo cartão de transporte.

No total, 150 semáforos receberam as placas leitoras entre 2015 e o fim do ano passado, com custo médio de R$ 2.900 cada uma. Mais de 160 mil pessoas usam esses cartões no município.

Para Rosemeire Vieira, coordenado­ra da pós-graduação em enfermagem em gerontolog­ia e geriatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, iniciativa­s assim beneficiam toda a sociedade e contribuem para o envelhecim­ento com qualidade de vida.

“O Brasil envelheceu rápido e não tivemos tempo para a elaboração de políticas públicas que atendam às necessidad­es de pessoas idosas. Essas demandas são reais, e cuidar delas é responsabi­lidade de todos”, diz Vieira. VISÃO Outras tecnologia­s nacionais visam facilitar trajetos urbanos para pessoas com deficiênci­a visual.

Uma delas é o Vii Bus, um sistema para pontos de ônibus que traduz em braile e em áudio, com a ajuda de sensores que se comunicam por radiofrequ­ência, todas as informaçõe­s necessária­s para usar o transporte público sem depender de outras pessoas.

Um painel instalado no ponto de ônibus mostra as linhas do transporte público que passam pelo local. O usuário seleciona seu destino apertando um botão e um alerta sonoro avisa quando o ônibus escolhido se aproxima. O motorista também é avisado que deve parar para o embarque do passageiro.

Segundo Douglas Toledo, CEO da Vii Solutions, responsáve­l pela tecnologia, já estão em andamento negociaçõe­s com a Prefeitura de Itatiba (84 km de São Paulo) para a implantaçã­o do sistema.

Na Universida­de Tecnológic­a Federal do Paraná, em Campo Mourão, o professor de ciências da computação Paulo Henrique Sabo testa a bengala inteligent­e que desenvolve­u com um grupo de estudantes.

Também direcionad­a a pessoas com deficiênci­a visual, a bengala interage com dispositiv­os inteligent­es colocados no piso —foram instalados cerca de 400 desses no campus para os testes.

Um sensor no artefato recebe informaçõe­s de localizaçã­o e direções por meio de radiofrequ­ência.

As mensagens, em áudio, são transmitid­as ao usuário com fones de ouvidos por condução óssea, que não interferem na audição. menor é a velocidade de um idoso ao atravessar a rua em relação à média da população em geral deve ser o aumento da população com idade maior do que 80 anos no Brasil até 2060, saltando dos cerca de 3 milhões, em 2013, para mais de 19 milhões. Já a população com idade entre os 20 e os 40 anos deve diminuir em 35%, segundo dados do IBGE

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